Conclusão da crise política será drástica
Espaço
para diálogo encolhe e disputa entre Bolsonaro e Poderes tende a terminar ou em
afastamento ou em ruptura institucional
Por
Ricardo Corrêa
Já foram diversas tentativas infrutíferas de diálogo. Já houve apelos em
vão e oportunidades para tal desperdiçadas. Agora, parece cada vez mais claro
que a solução para crise entre o governo do presidente Jair Bolsonaro, os
demais Poderes e parte da sociedade caminha para uma conclusão drástica. E
dramática, para um lado ou para o outro.
Muitos eram os que apostavam que a pandemia, com a trágica morte de
milhares de pessoas, forçaria um entendimento ou ao menos uma trégua. Afinal,
como brigar por poder enquanto famílias são arrasadas com a perda de entes
queridos em uma velocidade nunca vista? Pois não foi o que se viu. Mesmo diante
do cenário que choca o mundo inteiro, as tensões se acirraram. O presidente
brigou com governadores e prefeitos, trava uma batalha com o Judiciário,
dispara pelas costas do Congresso mesmo após a busca por um entendimento e se
dissocia da parcela mais expressiva da sociedade. É fortemente criticado pela
imprensa nacional e internacional e por boa parte das entidades da sociedade
civil.
Nos últimos dias, com a operação determinada pelo STF contra um grupo
ligado ao presidente acusado de disparar fake news, e com as reações de
Bolsonaro ameaçando não cumprir eventuais ordens judiciais, a situação chegou
ao ponto em que não é possível mais retornar. Ainda mais após o filho do
presidente pregar abertamente que chegaremos ao momento de ruptura da ordem
democrática.
Embora não esteja na rua, a população já está se posicionando. Nos
últimos dias as pesquisas demonstraram que os setores médios da sociedade
abandonaram a posição dúbia e se enfileiraram contra o presidente. Por outro
lado, sua base de apoio se solidificou. Hoje temos dois terços da população que
reprovam fortemente o presidente, e um terço que o defende de forma
incondicional. Isso pode variar um pouquinho para cima ou para baixo, mas não
muito. O que indica que até mesmo no seio da sociedade o espaço para a
ponderação se esgotou.
Esse clima de confronto, aliado ao avançar das investigações por um lado
e à retórica belicista do grupo presidencial de outro, leva-nos à conclusão de
que chegaremos, cedo ou tarde, ou ao afastamento do presidente, com a prisão de
alguns dos que estão em seu entorno, ou viveremos de fato a situação de um
golpe contra os demais Poderes. Difícil imaginar que alcançaremos 2022 sem uma
dessas graves consequências. A tormenta política vivida no Brasil nos últimos
anos, e que já levou a um impeachment de uma presidente e a uma batalha em
torno de uma denúncia contra outro, parece ainda não ter chegado ao seu pico, o
que é dramático.
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