Com 2,9 mil cargos, Forças Armadas temem desgaste
Tânia Monteiro e Adriana Fernandes
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Dida Sampaio / Estadão Generais. Luiz Eduardo Ramos (Governo) e Augusto Heleno
(GSI) são representantes no primeiro escalão do governo
BRASÍLIA - As Forças Armadas já preveem que terão uma “enorme” conta
para pagar ao fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro
pela presença de militares na cúpula e na base do governo. Em conversas nos quartéis
e gabinetes de Brasília, oficiais admitem que a nova incursão na política, após
35 anos do fim da ditadura militar, trará desgaste à imagem da instituição e
temem perder a credibilidade duramente reconquistada por causa do envolvimento
com o governo e a perspectiva de seu naufrágio.
O Exército é quem deve ficar com o maior ônus por
ter um maior contingente no quadro da máquina pública bolsonarista.
Levantamento do Ministério da Defesa, feito a pedido do Estadão,
mostra que militares da ativa já ocupam quase 2,9 mil cargos no Executivo. São
1.595 integrantes do Exército, 680 da Marinha e 622 da Força Aérea Brasileira (FAB).
Destes, 42% estão empregados na estrutura da
Presidência, especialmente no Gabinete de Segurança Militar, um órgão
que foi reforçado no atual governo. Três oficiais ocupam o primeiro escalão: Walter Braga
Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). O incômodo com
uma possível cobrança ocorre diante da constatação de que o pessoal da ativa
nas Forças Armadas está não apenas em cargos estratégicos, mas em postos comissionados.
São vagas de Direção e Assessoramento Superior, os DAS, com vencimentos que vão
de R$ 2.701 a R$16.944 por mês.
Na prática, seja qual for o governo, sempre haverá
desgaste para quem participar dele. No caso da gestão Bolsonaro há um
adicional. É um governo que vive em crise constante e são frequentes as
cobranças para que os oficiais se manifestem sobre todos os atos polêmicos do
presidente, como participar de manifestações antidemocráticas. O que tem
exigido do ministro da Defesa, Fernando Azevedo,
divulgar notas para reafirmar o compromisso constitucional das Forças com a
democracia.
Na última semana, o ministro Luiz Eduardo Ramos,
que é general da ativa, se viu obrigado a dar explicações a seus colegas de turma da Academia Militar
das Agulhas Negras (AMAN) após o Estadão revelar que ele tem oferecido cargos ao Centrão,
bloco fisiológico de partidos, em troca de apoio ao governo no Congresso. “É
pelo respeito que tenho ao meu Exército que estou divulgando essa mensagem”,
disse, ressaltando não ser “político” e estar cumprindo uma “missão”. O
ministro já havia causado desconforto ao usar farda numa solenidade, ao lado do
presidente, em 30 de abril, no Comando Militar do Sul, em Porto Alegre.
Até mesmo a fama de bons gestores dos militares é
colocada em xeque. Chocou ministros do Supremo o fato de nenhum dos generais
presentes já na famosa reunião de Bolsonaro com sua equipe ter pedido moderação
aos seus colegas que atacaram outros poderes com palavras de baixo calão. Um
ministro ouvido pelo Estadão observou que os generais, no mínimo, não deveriam
ter permitido a gravação do encontro.
A presença dos militares no Ministério da Saúde também causa
preocupação. Eles tomaram conta da pasta no momento em que o novo coronavírus
avança e dois médicos civis pediram demissão por discordarem da orientação do
presidente na condução da crise, o que o atual cumpre à risca.
Especializado em logística, Pazuello
já nomeou 20 militares e pretende chamar mais 37, no mínimo por três meses. A
militarização também avançou para postos que requerem experiência específica.
Na quarta-feira, por exemplo, o coronel do Exército Luiz Otávio Franco Duarte
foi nomeado secretário de Atenção Especializada, responsável por habilitar
leitos de UTI e distribuir recursos para Estados e prefeituras.
Marinha
Mesmo com menos pessoal no governo, a Marinha já
espera uma cobrança por sua atuação na gestão Bolsonaro. A presença do
almirante Flávio Rocha, recém-promovido a quatro estrelas, no Palácio do
Planalto preocupa a instituição. Rochinha, como é chamado no meio, tem recebido
diferentes missões do presidente, como contornar a crise na Secretaria da
Cultura. O outro almirante é Bento Albuquerque,
que comanda Minas e Energia.
De todas as forças, a Aeronáutica é, até agora, a
mais preservada de eventuais desgastes. Apesar de ser tenente-coronel da
reserva no comando do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos
Pontes não foi escolhido por ser da FAB.
Na avaliação do cientista político e pesquisador da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira, “é natural” que Bolsonaro
“vá buscar apoio no setor onde dispõe de maior confiança”. Pereira alertou,
porém, que as Forças Armadas correm risco muito grande ao embarcar, com essa
proporção, em um governo. “As Forças Armadas demoraram muito tempo para limpar
seu nome e cumprir seu papel constitucional. Agora, correm o risco de se
comprometer mais uma vez”, afirmou o cientista político e colunista do Estadão.
/ COLABORARAM MATEUS VARGAS e FELIPE FRAZÃO
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