Análise: inquérito no STF atinge bases políticas do Planalto
Renato Souza
© Ed Alves/CB/ DA Press Allan dos Santos é um dos
principais alvos de operação da PF
Duraram menos de 24 horas as comemorações no
Planalto em razão da ação da Polícia Federal que mirou o governador do Rio de Janeiro, Wilson
Witzel e agentes públicos do estado. A ação deflagrada pela corporação nesta quarta-feira (27/5) mira as bases
de sustentação do governo e que mantém o percentual de aceitação do presidente.
No centro do alvo, está o chamado "Gabinete do Ódio", que seria uma
espécie de centro de mobilização digital em defesa do Executivo.
Foram alvos de mandados de busca e apreensão
autores de sites governistas e e de uma rede de fake news criada para atacar
opositores de Jair Bolsonaro e espalhar críticas e boatos sobre quem se
posicionar contra o presidente da República.
O principal nome é o blogueiro Allan dos Santos, do
site Terça Livre, acusado de espalhar informações falsas para beneficiar o
Executivo. Mais do que atingir a rede do chamado Gabinete do Ódio, a operação
ronda o Planalto ao colocar na mira parlamentares governistas.
Carla Zambelli, Bia Kicis e o deputado Felipe
Barros são afincos defensores de Bolsonaro e das ações do governo no dia a dia
do Congresso. Em meio à pandemia de coronavírus, que tritura a economia e deixa
um rastro de doentes e mortos, o governo tem se valido da estratégia de atacar
adversários, usar cortinas de fumaça e preencher as redes sociais com elogios ao
presidente para tirar a atenção de erros e ações controversas.
Ao mesmo tempo que abandona as orientações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para reforçar o isolamento social, e
adota o uso de medicamentos em que cientificamente já está provado que são
inúteis ao coronavírus, o governo apela para argumentos de campanha, como
combate ao comunismo e armamento da população, para manter uma boa parcela de
sua base de eleitores.
Para isso, a base de blogueiros que prestam apoio
irrestrito, empresários que financiam essas ações e políticos que atuam como
ativistas para a imagem do presidente são fundamentais. No entanto, escolher o
Supremo Tribunal Federal como inimigo não parece ter sido a melhor escolha. Um
inquérito controverso, aberto na Corte no ano passado, monitora as redes para
identificar quem ultrapasse limites legais ao se referir ao Tribunal ou a seus
ministros.
Há algumas semanas, segurando uma arma de alto
poder de fogo, o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do
PTB, afirmou que estaria pronto para "o bom combate". Em seguida,
minutos depois, publicou uma postagem defendendo um golpe contra o Supremo.
"Bolsonaro, para atender o povo e tomar as rédeas do governo, precisa de
duas atitudes inadiáveis: demitir e substituir os 11 ministros do STF, herança
maldita".
A publicação não passou despercebida e gerou a
inclusão dele no inquérito. Ações do Supremo, como a decisão do ministro
Alexandre de Moraes que vetou a nomeação de Alexandre Ramagem para chefiar a
Polícia Federal, irritaram apoiadores do governo e fizeram a Corte ser alvo da
chamada "milícia digital" bolsonarista.
Desde a campanha eleitoral, como já revelou o Correio,
uma rede profissional de fake news criada para moldar os rumos da política,
atua no país, sustentada por ações deliberadas em bunkers montados no Brasil e
no exterior.
O assunto está presente em ações de cassação de
chapa apresentadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na CPMI das Fake News,
no Congresso, a deputada Joice Hasselmann, ex-aliada do governo, afirmou que as
investigações sobre o caso vão parar dentro do Palácio do Planalto. O temor de
avanço das investigações foi revelado pelo próprio presidente, que em conversa
por WhatsApp com o ex-ministro Sergio Moro, afirmou, no começo do ano, que o fato
de 10 a 12 deputados bolsonaristas estarem na mira do Supremo seria "mais
um motivo para trocar", se referindo ao comando da Polícia Federal.

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