Equipe
econômica quer usar lucro do Banco Central para reforçar o caixa do Tesouro
Idiana Tomazelli
BRASÍLIA - A equipe econômica deve pedir a transferência do
lucro do Banco Central obtido no primeiro semestre deste ano para reforçar o
caixa do Tesouro Nacional, segundo apurou o Estadão/Broadcast. A medida será
importante para garantir os recursos necessários à gestão da dívida pública num
momento de forte aumento de gastos e maior dificuldade para o País se financiar
no mercado. O resultado positivo deve superar os R$ 500 bilhões e pode ser
repassado no segundo semestre, mediante autorização do Conselho Monetário
Nacional (CMN).
© Marcello Casal Jr./Agência Brasil Repasse de lucros do
Banco Central já foi feito antes.
O valor exato do lucro dependerá do reflexo da variação do
dólar nas reservas internacionais e do resultado do BC nas operações equivalentes
à venda da moeda americana no mercado futuro, o chamado swap cambial. Até 15 de
maio, o BC registrou um ganho de R$ 646,174 bilhões com as reservas e uma perda
de R$ 79,838 bilhões com as operações de swap, o que dá um resultado positivo
de R$ 566,335 bilhões em operações cambiais.
O Tesouro já queimou uma parte do seu caixa com o aumento
dos gastos do governo para combater a pandemia e com as condições menos
favoráveis para o País emitir títulos e se financiar. Em meio às incertezas
trazidas pelo novo coronavírus e seus efeitos econômicos, investidores têm
cobrado taxas de juros mais elevadas para emprestar ao governo, principalmente
em papéis com prazo mais longo de vencimento.
O valor nominal da dívida pública federal tem até caído
diante da cautela do Tesouro em novas emissões para evitar um aumento no custo
com juros. Em março, fechou em R$ 4,214 trilhões, uma queda de 1,55% em relação
ao mês anterior.
No caixa do governo, a subconta de recursos da dívida
pública já caiu de R$ 750,4 bilhões em dezembro de 2019 para R$ 574,3 bilhões
em março de 2020, segundo dados do Tesouro Nacional.
Sem pressa
Segundo um integrante da equipe econômica, ainda há espaço
para o governo seguir administrando a dívida sem ter “pressa” para voltar ao
mercado. “Não estamos desesperados para levantar os recursos ainda nesse
ambiente tão incerto”, diz essa fonte. A transferência do lucro do BC, porém,
será um reforço importante no segundo semestre.
O repasse do lucro do BC já foi adotado em outras ocasiões
pelo governo, mas não de maneira tão significativa. No fim do ano passado, uma
nova lei mudou o relacionamento entre Tesouro e Banco Central, mas ainda
permite a transferência “quando severas restrições nas condições de liquidez
afetarem de forma significativa o seu refinanciamento (da dívida)”. É esse
dispositivo que o governo pretende acionar no segundo semestre. O lucro do BC é
destinado exclusivamente ao pagamento de compromissos da dívida. Apesar desse
esforço na gestão, a dívida total do País deve continuar em alta.
Além da cautela nas emissões, o governo tem elevado os
gastos para fazer frente à crise. Só o auxílio emergencial de R$ 600 pago a
trabalhadores informais deve custar R$ 151,5 bilhões.
O governo já cancelou R$ 164,4 bilhões em dotações
destinadas à rolagem da dívida pública para abrir caminho aos gastos
emergenciais da pandemia, como o próprio auxílio emergencial de R$ 600. Depois
disso, recursos do caixa que só podem ser usados no pagamento da dívida pública
foram remanejados para cobrir o “buraco” deixado, numa sequência de operações
apelidada por técnicos de “triangulação de fontes”.

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