Brasil pode atingir 10 mil mortes por covid-19 até domingo, segundo
estudo
Roberta Jansen
RIO - O número de mortes pela covid-19 no
Brasil pode chegar a quase dez mil até o próximo domingo, segundo previsão do
Imperial College de Londres divulgado nesta quarta-feira, 29. O relatório
semanal da instituição sobre a situação da pandemia revela que o País tem,
neste momento, a pior situação do mundo com o número de casos “em provável
crescimento” e o um registro “muito grande” de óbitos.
Os resultados foram divulgados no mesmo dia em que
o presidente Jair Bolsonaro decidiu flexibilizar o isolamento social, ampliando
a lista de serviços essenciais que podem funcionar durante o período de
enfrentamento ao novo coronavírus no País. O decreto inclui atividades
relacionadas a alimentação, atendimento bancário, mecânica automotiva,
transporte e armazenamento de cargas, além daqueles exercidos por startups.
O levantamento revela que número de óbitos deverá
ser “muito alto” (acima de 5 mil) em apenas dois países, Brasil e Estados
Unidos. A estimativa do Imperial College é de que o número de mortes no Brasil
possa chegar a até 9,7 mil. Numa previsão menos pessimista, os cientistas
previam 5,6 mil óbitos até o fim desta semana - nesta quarta-feira, 29, o
Ministério da Saúde contabilizava 5.466 registros, mas especialistas alertam
para possível subnotificação, por falta de testes suficientes para testar as
vítimas. Os números previstos para os EUA são maiores, entre 13 mil e 15 mil,
mas, por lá, a epidemia já está se estabilizando, enquanto que, por aqui, está
ainda está crescendo.
A Imperial College é uma das mais conceituadas do
mundo em modelagem matemática e vem publicando projeções desde que a epidemia
chegou à Europa. Foi por conta dos números apresentados pela instituição que o
primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu de que o
isolamento social era a única medida possível para evitar um número
catastrófico de mortes no país.[
A projeção do Imperial College avaliou a tendência
da epidemia em 48 países do mundo. O levantamento lista os países em que a
disseminação do novo coronavírus está “provavelmente declinando” (República
Dominicana, França, Itália e Espanha); “provavelmente estável ou em crescimento
lento” (Argélia, Bangladesh, Bélgica, Colômbia, República Tcheca, Equador,
Egito, Alemanha, Grécia, Indonésia, Irã, Israel, Holanda, Panamá, Filipinas,
Portugal, Romênia, Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia, Reino Unido e EUA).
A pior previsão é para nove países em que a
epidemia ainda se encontra “em provável crescimento” (Brasil, Canadá, Índia,
Irlanda, México, Paquistão, Peru, Polônia e Rússia). A tendência é incerta para
os demais 12 países avaliados (Argentina, Áustria, Chile, Dinamarca, Finlândia,
Hungria, Japão, Marrocos, Noruega, Arábia Saudita, Sérvia e Coreia do Sul),
segundo a universidade.
“Estamos virando uma referência mundial negativa”,
resumiu o infectologista Antônio Flores. “Isso tem a ver com as nossas
estratégias de testagem, que não são satisfatórias; da forma como o
distanciamento social foi implementado em diferentes regiões do País e das
mensagens conflitantes do nosso governo. Ter uma mensagem consolidada é muito
importante para que a comunidade tenha confiança na resposta; e por aqui
estamos vendo protestos contra o isolamento.”
Com base nas tendências de crescimento da epidemia,
o número de mortes estimadas para esta semana deve ser “relativamente baixa” (menos
de 100 óbitos) em Argélia, Argentina, Áustria, Bangladesh, Chile, Colômbia,
República Tcheca, Dinamarca, República Dominicana, Equador, Egito, Grécia,
Hungria, Israel, Marrocos, Noruega, Panamá, Filipinas, Arábia Saudita, Sérvia,
Coreia do Sul e Ucrânia.
A tendência das mortes será “relativamente alta”
(entre 100 e 1.000 óbitos) em outros 14 países (Finlândia, Índia, Indonésia,
Irã, Japão, Holanda, Paquistão, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Suíça
e Turquia). O número deverá ser alto (entre mil e 5 mil mortes) em dez países:
Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Irlanda, Itália, México, Espanha, Suécia e
Reino Unido. Finalmente, o número de óbitos devera ser “muito alto” (acima de 5
mil) em apenas dois países, Brasil e EUA.
Para o infectologista Roberto Medronho, coordenador
da força-tarefa contra a covid-19 da UFRJ, as mortes estão crescendo no País
porque a velocidade na oferta de leitos hospitalares para o novo coronavírus
não está acompanhando o crescimento da epidemia como deveria.
“O Brasil adotou as medidas de distanciamento
social precocemente, diferentemente dos EUA, e, com isso, conseguimos achatar a
curva (de crescimento da epidemia), diminuir a velocidade de crescimento, adiar
o pico, mas isso tem de ser acompanhado pela oferta de leitos”, explicou. “Os
leitos extras e os hospitais de campanha já deveriam estar preparados para
fazer frente a essa situação. Meu medo é que essa lentidão faça disparar os
óbitos dentro das residências e nas portas das emergências.”
)
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