Bolsonaro tenta isolar Maia, que entra em choque com equipe econômica
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Reuters/ADRIANO MACHADO .
Por
Maria Carolina Marcello, Lisandra Paraguassu e Marcela Ayres
BRASÍLIA, 14 Abr (Reuters) - O presidente Jair
Bolsonaro ensaiou nova tentativa de isolar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), ao convidar para conversa nesta terça-feira Davi Alcolumbre (DEM-AP),
presidente do Congresso Nacional, mas o deputado, em disputa com a equipe
econômica, tem conseguido garantir a aprovação das propostas que defende.
Bolsonaro tomou a iniciativa e convidou Alcolumbre
para um café da manhã desta terça-feira, um gesto de cordialidade com o chefe
do Legislativo. O presidente já havia tentado um encontro com o senador na
semana passada, via ministros, mas faltava clima, na opinião do parlamentar.
Nesta semana, no entanto, Bolsonaro telefonou para
o senador, que correspondeu ao convite. Os dois debateram a pauta do Senado,
mas segundo uma fonte, não houve qualquer definição ou decisão sobre propostas
patrocinadas por Maia já encaminhadas para análise dos senadores --a chamada
PEC do orçamento de guerra e o polêmico projeto aprovado na véspera de auxílio
a Estados e municípios.
Na tarde desta terça, durante sessão do Senado,
Alcolumbre anunciou que cobraria "reciprocidade" da Câmara e avisou
que só pautará o projeto sobre os entes federativos quando deputados analisarem
medidas de autoria dos senadores, referindo-se especificamente a medida que
trata de microcrédito para enfrentamento da crise. Já a PEC tem votação
prevista para a quarta-feira no plenário da Casa.
Bolsonaro, que praticamente não tem uma base no Congresso,
vinha dando sinais de sua movimentação ao convidar, na última semana,
lideranças do PP e do PL, na avaliação de uma fonte.
Maia, no entanto, mantém relação próxima com o PL e
o PP, além de lideranças da oposição, e tem demonstrado força política ao
aprovar medidas que considera prioritárias, inclusive a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) do orçamento de guerra, que precisava de quórum especial
para ser aprovada.
Mas durante a crise, e principalmente no decorrer
das conversas sobre o projeto de auxílio a Estados e municípios por meio da
recomposição da queda de arrecadação de ICMS e ISS, a relação de Maia com o
Ministério da Economia esgarçou.
Antes encarado como o fiador das propostas de
ajuste fiscal, o presidente da Câmara mantinha boa relação com a equipe
econômica. Agora, segundo uma fonte, "a corda rompeu" entre o
deputado e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na avaliação do líder do DEM na Câmara, Efraim
Filho (PB), o ministro tem sofrido pressão por resultados, mas não abandona a
visão fiscalista, ainda que o Parlamento já tenha aprovado autorização para o
governo desconsiderar a meta fiscal.
Ao lembrar dos problemas de articulação do
Executivo, o líder aponta a dificuldade do ministro da Economia em convencer os
deputados de suas teses, o que acaba estressando a relação com a Câmara.
"É uma guerra de vaidades. O governo se
incomoda com o protagonismo da Câmara, copia, muda o selo e quer adotar a
autoria. Aconteceu com renda emergencial, com projeto de qualificação do FPM e
FPE e agora se repete", disse Efraim, referindo-se a projetos de
iniciativa dos parlamentares posteriormente encampados pelo Executivo.
Fontes da Economia avaliam que Maia assumiu um lado
no cabo de guerra entre Bolsonaro e os governadores, e optou pelos chefes dos
executivos estaduais.
A escolha não ecoou bem, entre a equipe econômica,
por considerar que o custo da crise acaba sendo jogado inteiramente no colo da
União, sem que governadores assumam o custo pelas medidas de isolamento social,
repetidamente criticadas e questionadas pelo próprio Bolsonaro. Essas mesmas
fontes creditam o movimento de Maia a interesse eleitoral do deputado em seu
Estado.

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