Bastidores: Bolsonaro prepara ‘cavalo de pau’ no governo
Andreza Matais
Com Sérgio Moro
impondo condições à permanência no governo, o presidente Jair Bolsonaro
se viu mais distante da trajetória de seu ministro da Justiça, que conservou a
imagem de juiz da Lava Jato
mesmo depois dos reveses sofridos nos últimos tempos. O embate pelo controle da Polícia Federal, exposto por
notícias de que Moro não abre mão de indicar o comando da corporação, é uma
ferida aberta dentro do bolsonarismo.
Na campanha de 2018,
Bolsonaro se tornou, por falta de opção, o candidato natural da militância de
direita, formada no auge das sessões em que Moro agia de forma implacável nos julgamentos
da Lava Jato. A decisão do então juiz de Curitiba de aceitar a pasta
unificada da Justiça e da Segurança Pública, dois ministérios em um, foi
considerada como um “gol de placa” de Bolsonaro – o deputado do baixo clero
nunca fora reconhecido como um estrategista político. Com uma canetada, ele
trazia para debaixo de seu guarda-chuva o nome mais popular de um movimento.
© Gabriela Biló/Estadão O presidente Jair Bolsonaro
em frente ao Palacio da Alvorada
De lá para cá, Bolsonaro tentou minimizar a força
de Moro, uma sombra pesada especialmente para os filhos do presidente, sempre
ciosos da imagem do pai protagonista.
A semana tem sido intensa. As negociações de Bolsonaro com lideranças do Centrão
antecederam o imbróglio envolvendo Moro. Bolsonaro flertou com nomes
escrachados nas redes sociais, como Valdemar Costa Neto e Roberto
Jefferson. Por muito menos, o presidente foi violentamente atacado por sua
militância em janeiro, quando ensaiou tirar a área da Segurança Pública do
ministro da Justiça e entregar para o aliado Alberto Fraga, ex-deputado do DEM.
“Vai trocar o Moro pelo Fraga?”, foi uma contestação dura enfrentada por
Bolsonaro no Twitter.
Se mantiver firme a busca de apoio do Congresso,
numa aliança real com líderes de partidos de bancadas influentes, o presidente
dará um “cavalo de pau” no governo, mudando de forma brusca a imagem que tentou
construir até aqui de seu mandato.
O “justiceiro” da nova política, que tem Moro como
fiel escudeiro, dará espaço ao governante entrosado com o Parlamento, mas sem
características que garantiram até aqui a unidade de seu campo político e de
sua militância.
No presidencialismo de coalizão, o Palácio
do Planalto depende dos votos do Congresso para tocar sua vida. Mas, pelo menos
na história mais recente, liderança alguma da Câmara e do Senado garantiu a um
presidente a permanência no Planalto sem levar em conta a economia e o que as
ruas pensam.
A propósito, há entre os interlocutores de
Bolsonaro quem veja Moro como uma figura que não apenas divide a militância com
o presidente como tem a deferência de setores chaves do governo. Tanto é assim
que os generais da equipe não estão medindo esforços para minimizar a mais nova
queda de braço entre o presidente e o ministro da Justiça. Mas Moro não é Mandetta.
Vídeo: Bolsonaro grava vídeo com líder do centrão (Estadão)
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