Governo terá que emitir títulos, aumentar dívida e gastar, dizem
analistas
Sarah Teófilo
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Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Subsecretária do Tesouro de Goiás, Selene cobra
celeridade do governo federal no repasse da verba prometida para o combate à
pandemia Emitir títulos, aumentar a dívida, gastar. Só depois do fim das crises
econômica e sanitária causadas pela pandemia do coronavírus, o
governo federal deve se preocupar com o endividamento público. A ideia é
compartilhada por especialistas em contas governamentais, consultados pelo
Correio, para que as 27 unidades da Federação tenham lastro para enfrentar os
efeitos do avanço da Covid-19, conforme pedido feito na carta enviada ao
presidente Jair Bolsonaro, na última quarta-feira. E, no entender deles, tal
ação deve ser tomada já pelo Ministério da Economia.
“No momento, não há condições de preocupar com
contas públicas. A prioridade deve ser salvar vidas”, disse a economista e
subsecretária do Tesouro Estadual de Goiás, Selene Peres, uma das autoras da
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Para Selene, é preciso aplicar as medidas já
anunciadas e elaborar outros pacotes de ação, de forma ágil. “Precisamos desse
recurso hoje, não amanhã. Isso vai fazer diferença no número de mortes no
Brasil”, cobrou, salientando que, apesar das medidas anunciadas pelo governo
federal, como o pacote de R$ 88,2 bilhões de ajuda aos estados, o dinheiro
ainda não chegou.
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A subsecretária afirma que as medidas adotadas pelo
governo inicialmente foram boas, mas “claramente insuficientes”. “É preciso que
o Ministério da Economia tenha a diretriz de gastar dinheiro. Eu sempre defendi
o ajuste fiscal, mas essa é uma questão excepcional e que precisa ser tratada
assim e com rapidez, que é o que não está acontecendo”, lamentou.
Selene afirma que, com o decreto de calamidade, a
União poderia ter determinado a transferência de recursos para que os estados
implementem logo as medidas necessárias. “É uma situação de guerra”, lembrou.
Ela afirmou que parte do salvamento inclui dar socorro às empresas, algo que
deve ser operacionalizado com rapidez, para manter o nível de empregos. A
subsecretária considera que o governo anuncia medidas, mas demora a colocá-las
em prática.
Sem entravesEconomista,
fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, entidade voltada à
transparência de gastos públicos, Gil Castello Branco frisa que não existe
nenhum entrave para que a União aplique recursos no combate ao novo
coronavírus, auxiliando governadores e prefeitos. Ele afirma que depois da
decretação da calamidade, aprovada no último dia 20, a União não precisa se
preocupar com meta fiscal, que já era de um deficit de R$ 124,1 bilhões. No
momento, o prioritário é salvar vidas, proteger os desassistidos e,
paralelamente, cuidar das empresas.
“A opção é gastar ou gastar. O governo, inclusive,
está liberado para gastar o que for necessário”, disse. Segundo Gil, a União
terá que emitir títulos, colocá-los no mercado e aumentar o endividamento.
“Porque não tem recursos. E os estados e municípios vivem situação mais
dramática, porque eles não podem emitir papel”, explicou.
Para socorrer governos e prefeituras, que estão na
linha de frente do combate ao novo coronavírus, a presidente da Associação da
Auditoria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (AUD-TCU), Lucieni
Pereira, explica que não há outra solução: a União deverá se endividar.
“Não tem como pensar em austeridade fiscal nesse
momento. Vai ter que emitir dinheiro. A gente vai sair endividado. Não tem
jeito, mas só a União pode emitir título. O que não dá é deixar a população
morrer”, apontou.
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