Abrindo o livro
Manoel Hygino
Suponho que já
tardamos na abertura do livro. É hora, ou já retardamos no reconhecimento de
erros do passado, pelo menos para evitar repetição. Há um descrédito
generalizado nos partidos e nos políticos, não poucos envolvidos em crimes
contra os interesses da sociedade, em desvios de recursos públicos, na
organização de quadrilhas, especializadas em tempos recentes, enfim na
dilapidação do patrimônio nacional, nas respectivas áreas de atuação.
Seria necessário
dizê-lo?
Cristovam Buarque,
já ocupou cargos importantes, pronuncia palestras e escreve para os meios de
comunicação, ex-ministro da Educação, e fez uma confissão: “nós (a esquerda
brasileira), como bloco, toleramos a corrupção, o aparelhamento do Estado,
convivemos com mordomias. Não acabamos com as mordomias, elas aumentaram. Temos
que reconhecer que erramos e discutir quais foram os erros”.
Eis o mea culpa
poderia estender-se a membros de outros partidos que existem no país e cujos
integrantes são identificáveis até pela simples enunciação dos nomes. Inúmeros
já tiveram suas mazelas e ações criminosas investigadas e esclarecidas.
O jurista Sacha
Calmon, ex-professor titular da UFMG e UFRJ, escreveu, há algum tempo, sobre
“Movimentos Sociais”, lembrando que o “Brasil enveredou pela social-democracia
europeia e seu ideário, para impor ao estado objetivos sociais. Disse, então:
“é errado supor que o constituinte não devesse fazê-lo. O problema é
pragmático. Faltou um ‘sempre possível’ ou ‘na medida dos meios orçamentários’.
Exemplo disso é o artigo 6º, a cuidar dos direitos sociais, assim escrito: ‘são
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a Previdência Social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição’. Um
sarcástico constitucionalista – não vem a pelo citá-lo – se perguntou se tudo
isso cairia do céu, uma espécie de fubá (ou maná, como no mitológico deserto
hebraico), ou deveria o Estado, da noite para o dia, realizar o voluntarismo
desbragado dos constituintes. Ao que sei, nada daquilo posto no artigo 6º
realizou-se a contento. Cá estamos já em 2015 metidos em severa crise. O
governo da União falido e sem meios sequer para as coisas mais essenciais”.
E era 2015!
Mas se constata que
a falência não circunscreve-se ao poder central. Lá de cima até na parte mais
baixa da administração pública está em semelhante situação.
Basta verificar-se o
que dizem os jornais impressos, televisivos e falados para constatar que a
situação é dramática. Não há recursos para as escolas primárias, faltam merenda
escolar, o transporte dos alunos é precário (onde existe); não há com que tapar
os buracos nas rodovias, federais e municipais; as folhas por serviços
prestados pelos funcionários se atrasa; há movimentos de insatisfação nas ruas
e nas repartições públicas; os remédios que chegam à rede de assistência à
saúde são insuficientes; o sistema de abastecimento de água e o de esgoto são
extremamente exíguos, põem em risco as grandes cidades. E as pequenas, os
distritos, os povoados? Chora-se em cada esquina por demandas não atendidas e
se apela à revolta pela dor que não esmaece.
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