Coluna Alexandre Garcia: ''Fritura fake''
Alexandre Garcia
©
Evaristo Sa/
O Ministro Sérgio Moro começou
a semana no Pânico, da Jovem Pan, tendo que responder sobre o factoide
dos últimos dias, de que ele estaria sendo fritado no azeite quente da retirada
da Segurança Pública do seu ministério. Na mesma segunda-feira, a Coluna
do Estadão publicou o título “O Brasil quer saber: Moro fica no
Governo?” — a pergunta vem de pesquisa feita no Google. Mas a pergunta também
vem de uma ficção criada na quarta-feira da semana anterior. Uma narrativa,
para usar o eufemismo para ficção.
Ocorre que naquele dia eu testemunhei os fatos,
porque fora ao Palácio do Planalto para acompanhar Regina Duarte, uma colega de
televisão e amiga de muitos anos. Quando cheguei, o presidente e o ministro
Moro estavam reunidos no gabinete de Bolsonaro. Depois, saíram para a
antessala, numa conversa descontraída. O presidente já sabia, àquela hora da
manhã, que viria um grupo de secretários de Segurança, pedir, entre outras
reivindicações, que a Segurança fosse desmembrada da Justiça. Provavelmente
Moro fora levar a informação ao presidente. E já estavam combinados em que Moro
não participaria daquela reunião mais tarde, deixando os secretários se
dirigirem diretamente ao presidente.
Sabia-se também que havia uma certa ciumeira em
relação aos poderes de Moro. Mais tarde, quando os secretários formalizaram o
pedido, o presidente, por cortesia, prometeu estudar a reivindicação. Isso foi
rastilho de pólvora em terreno minado e oportunidade para inventar que Moro
estava sendo fritado e enfraquecido. O ruído da suposta fritura subiu a tal
volume, que o presidente precisou ser claro na sexta-feira, quando afirmou que
a chance de desmembrar o ministério é zero. A potencialização da narrativa foi
a prática do ensinamento de Goebbels: repetida mil vezes, pareceu virar
verdade.
Só um ingênuo não perceberia que foi mais uma oportunidade
de tentar mudar o time que está ganhando. Bater em Moro para atingir o governo
num de seus mais prestigiados integrantes. Afinal, a Segurança exibe um recorde
mundial de redução de 22% nos homicídios. Chegaram a sacar um argumento de
pasmar: que a redução foi ordenada por facções criminosas. Vale dizer, quem
está combatendo o crime são as quadrilhas. Mostrou, também, esse episódio, a
ciumeira interna na disputa do poder. “Assunto encerrado” — repetiu o
presidente na Índia. Mas é bom não esquecer como reage o público que se percebe
enganado. A chance zero já era zero na quarta-feira. Pode-se inventar um fato,
mas a invenção não faz o fato, apenas fere
credibilidade.
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