Bolsonaro e presidente da Índia assinam hoje cinco acordos de Estado
Rosana Hessel - Enviada Especial
©
Alan Santos/PR O presidente Jair Bolsonaro assiste à apresentação artística
diante do cartaz com a imagem dele e do primeiro-ministro Narendra Modi e com a
saudação em português
Nova Délhi
— O presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Índia,
Narendra Modi, se encontram, neste sábado (25/1), para assinar 15 atos, sendo
cinco acordos de Estado e 10 memorandos institucionais em várias áreas,
conforme informações do Palácio Planalto. Os dois mandatários têm formas
parecidas de governar, uma elevada polaridade entre o séquito de apoiadores e a
oposição em ambos os casos.
Há quase seis anos no poder, a serem completados em
maio, o primeiro-ministro indiano é considerado autoritário. Em reportagem de
capa, a revista britânica The Economist o denomina intolerante ao defender a
população hindu, que responde por 80% da população do país asiático, e ao
atacar os críticos de seu governo. A publicação destaca que Modi e o seu
partido, o BJP, “estão criando divisões que colocam em risco a maior democracia
do mundo”.
Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia deve
ultrapassar a China em menos de uma década, pelas projeções da Organização das
Nações Unidas (ONU). A economia também cresce em ritmo acelerado, em patamares
acima da média global, mas perdeu fôlego em 2019, devendo crescer 4,8% pelas
estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). O organismo multilateral
reduziu de 7% para 5,8% a expectativa de expansão do Produto Interno Bruto
(PIB) neste ano e de 7,6% para 6,5%, em 2021. Essas taxas estão acima das
previstas para a China, de 6% e 5,8%, respectivamente.
Enquanto isso, pelas estimativas do FMI, a economia
brasileira deve crescer 2,2%, neste ano, e 2,4%, em 2021. Com isso, elevou em
0,2 ponto percentual a previsão de 2020 e reduziu em 0,1 ponto percentual a do
próximo ano.
Perseguição
Modi e Bolsonaro presidem duas democracias e
possuem grupos de seguidores fervorosos. No caso do líder indiano, eles chegam
a perseguir jornalistas disparando fake news ou coisa pior na dark web, de
acordo com amigos de vítimas desse tipo de ataque. Já o presidente brasileiro
tem um séquito apelidado de “bolsominions”. Eles chamam de esquerdistas
economistas liberais que criticam o fato de o presidente falar ou adotar
medidas na contramão do prometido ajuste fiscal, como a concessão de subsídios
a igrejas, um dos principais segmentos que apoiaram a candidatura dele, em vez
de reduzir mais os gastos públicos.
Bolsonaro e Modi costumam ficar no centro de
polêmicas. O premier indiano tem sido alvo de protestos por aprovar uma lei que
facilita a obtenção de cidadania para imigrantes não muçulmanos de Paquistão,
Bangladesh e Afeganistão. Paralelamente, Bolsonaro e integrantes de seu governo
costumam dar declarações controversas que causam desconforto em relação à
fragilidade da democracia brasileira. O ministro da Economia, Paulo Guedes,
falou em um novo AI-5 em caso de manifestações da oposição, em novembro
passado. Depois, teve de se explicar, após o câmbio disparar e o dólar chegar
perto de R$ 4,20. A mais recente foi a queda do secretário especial de Cultura,
Roberto Alvim, que fez propaganda parecida com a nazista em um vídeo que
circulou na internet e chocou o país. Diante do constrangimento e das críticas
dentro e fora do Brasil, a exoneração dele foi inevitável, e Bolsonaro começou
um “namoro”, que virou “noivado” com a atriz Regina Duarte para assumir a
pasta. Segundo o chefe do Executivo, o “casamento” será definido até
quinta-feira. Ele chega ao Brasil na terça-feira.
Bolsonaro, sempre que pode, faz críticas à
imprensa. Segundo pesquisa da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), ele
foi responsável por 58% dos 208 ataques à categoria no ano passado, ou seja,
121. Ao ser questionado sobre a reportagem da revista britânica sobre Modi,
apontando-o como autoritário, e sobre as semelhanças com ele, Bolsonaro evitou
comparações. “Dizem que eu também sou uma ameaça à democracia. Diziam durante a
campanha e dizem agora. A própria Fenaj diz que eu sou a pessoa que mais ataca
a mídia do Brasil. Então, desculpa aqui, o que eu quero é que a imprensa, cada
vez mais, fale a verdade para evitar a eterna desconfiança que existe quando se
tem uma notícia como essa”, afirmou, ao chegar ao hotel em que está hospedado
na capital indiana.
Convidado de honra
O chefe do Planalto demonstrou bastante afinidade
com Modi ao destacar que, em novembro, durante a cúpula dos Brics (grupo das
economias emergentes, integrado pelos dois países e por China, Rússia e África
do Sul), em Brasília, foi convidado para a cerimônia do Dia da República, que
será celebrado neste domingo (26/1). O presidente ressaltou o fato de ser o
“convidado de honra” do evento e se mostrou bastante impressionado com o
tratamento dos indianos, que colocaram cartazes pela cidade com a foto dele e
as palavras “bem-vindo” em português.
“O campo está muito aberto para o Brasil. O próprio
convite do governo indiano para participarmos do evento demonstra o interesse
deles no país”, frisou o presidente, citando o mercado da Índia, com sua
população de 1,3 bilhão de habitantes. “A gente vê que o potencial de comércio
com eles é muito grande. Eles têm interesse em nós, e nós também temos
interesse neles.”
Bolsonaro é o primeiro presidente brasileiro a
fazer uma visita de Estado à Índia desde 2004, de acordo a secretaria de
comércio exterior indiana. Apesar de a Índia ser o quarto maior parceiro
comercial do Brasil na Ásia, o comércio entre os dois países é desfavorável ao
lado brasileiro. A balança ficou deficitária em US$ 1,5 bilhão, em 2019, em
grande parte devido à queda de 29,3% nas exportações para o país asiático.
Conforme dados do Ministério da Economia, o Brasil exportou para a Índia US$
2,8 bilhões e importou US$ 4,3 bilhões no acumulado do ano passado. Já os
indianos investem mais em território brasileiro do que o Brasil na Índia: US$ 6
bilhões contra US$ 1 bilhão, segundo dados do governo da nação asiática.
Acordos em áreas
diversas
Os cinco acordos de Estado e os 10 memorandos
institucionais, que serão assinados no encontro deste sábado (25/1) entre
o presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi,
dizem respeito a várias áreas, como agricultura, energia, segurança
cibernética, saúde e medicina. Conforme dados da assessoria do Palácio do
Planalto, os cinco acordos são de: Cooperação para Facilitação de Investimentos
(ACFI), de Previdência Social, sobre Assistência Jurídica Mútua em Matéria
Penal, Memorando de Entendimento sobre Cooperação de Bioenergia e de
Intercâmbio Cultural para 2020-2024. De acordo com Bolsonaro, o etanol é um dos
destaques dos acordos que serão firmados. “O etanol é uma questão importante.
Se eles, por exemplo, agregarem mais etanol na gasolina, o preço do açúcar se
equilibra no mundo. Isso é interesse nosso e deles também”, afirmou.
Agenda
Além de participar, neste domingo (26/1), das
festividades da independência indiana do Reino Unido, decretada em 1947,
Bolsonaro tem compromisso também na segunda-feira. De manhã, será o principal
palestrante de um evento para empresários dos dois países. À tarde, visitará o
Taj Mahal, um dos principais cartões-postais indiano, em Agra, e, à noite,
retorna para o Brasil. A chegada ao país está prevista para terça-feira.
Vídeo: Chuva provoca mortes em MG
(AFP)
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