Candidatura
avulsa entra nesta segunda-feira na pauta do STF
Fábio Caldeira foi um dos observadores das eleições
regionais colombianas, em outubro
Uma audiência
pública convocada pelo ministro Luís Roberto Barroso discute hoje no Supremo
Tribunal Federal (STF) a possibilidade de autorizar candidaturas avulsas, ou
seja, permitir que uma pessoa possa se candidatar a um cargo eletivo sem estar
filiada a um partido político.
Apesar de ser
contrário às candidaturas avulsas, flexibilizar a possibilidade para movimentos
sociais é uma alternativa sugerida pelo professor de Direito na Academia de
Polícia Militar de Minas Gerais, Fábio Caldeira, ex-ouvidor-geral de Minas
Gerais e um dos observadores internacionais que acompanhou as eleições
regionais da Colômbia, em outubro.
Uma das experiências
que ele extraiu do primeiro pleito do país após o acordo de paz selado entre o
governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foi a
participação dessas entidades no processo eleitoral.
“Esses movimentos
são mais próximos da sociedade, têm investido na capacitação de candidatos e
essa mudança vai obrigar os partidos políticos a modernizar suas estruturas”,
diz Fábio Caldeira, que vê semelhanças no clima de insatisfação no país com
nossos vizinhos, circunstância que tem gerado instabilidade nos países da
América do Sul, mais recentemente no Chile e na Bolívia.
“Temos uma parte de
uma elite política e econômica com pensamento do século 19, convivendo com leis
do século 20 e com uma população do século 21”, avalia Caldeira, ao criticar as
estruturas ultrapassadas dos partidos a partir de levantamentos realizados pelo
instituto chileno Latinobarómetro. “A pior avaliação é sempre dos partidos, que
têm dificuldade de representar, estão distanciados das pessoas, com estruturas
rígidas e burocráticas. Alguns partidos no Brasil têm o mesmo presidente há
dez, 15 anos”.
Segundo ele, cada
movimento precisaria passar por um coeficiente de votação calculado a partir da
população e do número de cadeiras nas respectivas casas legislativas. “Mas não
sou favorável a candidaturas avulsas porque não se deveria discutir projetos pessoais
e personalistas, e sim ideias, e o pertencimento a um grupo garante a
identidade de um parlamentar”, avalia.
Um dos dez
acadêmicos que tomará a palavra na audiência pública do STF, Carlos Ranulfo,
professor do departamento de Ciências Políticas da UFMG, é contrário à
flexibilização para candidatos não-filiados.
“O cidadão
brasileiro tem dezenas de opções partidárias, a única coisa de que ele não pode
reclamar é de não ter opção de partido, no espectro ideológico que quiser”,
enfatiza.
“No sistema político
brasileiro, o Congresso funciona na base de partidos. Candidato avulso não tem
poder algum. O jogo é jogado pelos líderes, e não pelos deputados, que têm
baixíssima influência, a não ser que sejam patrocinados por alguém”, diz
Ranulfo. Uma eventual autorização iria na contramão das últimas decisões do
Congresso, que foram no sentido de fortalecer partidos, diz.
Carlos Ranulfo
também vê a inclusão de movimentos sociais como prejudicial ao processo
democrático. “Já reclamamos que o Congresso é fragmentado e isso só vai
aumentar a dispersão e dificultar ainda mais o governar”, afirma, citando
exemplos antigos da Bolívia e do Equador, que quebraram o monopólio partidário
sem sucesso.

Nenhum comentário:
Postar um comentário