Acordo comercial com a China esbarra em regulamento do Mercosul
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Gabriela Biló/Estadão Em encontro bilateral com a China, Paulo Guedes confirmou
a negociação de um acordo comercial com o país da Ásia
O ministro da Economia, Paulo Guedes,
afirmou na quarta-feira, 13, que o Brasil conversa com a China sobre a possibilidade de estabelecer uma área
de livre-comércio entre os dois países. Este tipo de acordo
costuma prever uma fase de transição até o fim de todas as barreiras tarifárias
na venda de produtos.
O Estadão/Broadcast apurou que as
negociações estão em estágio inicial e que, formalmente, ainda não incluem a ideia
de uma área de livre-comércio. Além disso, pelas regras do Mercosul, países membros do bloco não podem firmar
individualmente acordos bilaterais que envolvam eliminação de tarifas.
Neste sentido, uma eventual negociação teria de
acontecer entre a China e o Mercosul (mais informações nesta página). É o que
faz hoje o bloco em conversas com Coreia do Sul, Canadá, Líbano e Singapura.
Segundo fontes, neste momento o objetivo é aumentar
os itens na pauta de exportação para a China, hoje concentrada em três
produtos: soja triturada (34%), óleos brutos de petróleo (24%) e minério de
ferro (21%).
“Estamos conversando com a China sobre a
possibilidade de considerarmos uma ‘free trade area’ (área de livre comércio).
Estamos buscando um alto nível de integração. É uma decisão. Queremos nos
integrar às cadeias globais. Perdemos tempo demais, temos pressa”, afirmou o
ministro, em seminário do banco do Brics, em Brasília. A capital federal recebe
desde ontem o encontro de cúpula do grupo, que reúne líderes de Brasil, China,
Índia, Rússia e África do Sul.
Durante evento distinto do que teve Guedes como
participante, o presidente Jair Bolsonaro ressaltou o desejo de uma maior aproximação
com a China, mas não fez menção a um acordo de livre-comércio entre os dois
países. “A China é nosso primeiro parceiro comercial e, juntamente com toda
minha equipe, bem como com empresariado brasileiro, queremos mais que ampliar,
queremos diversificar nossas relações comerciais”, disse Bolsonaro.
Já o presidente chinês, Xi Jinping, disse que a
China está disposta a trabalhar com o Brasil “em pé de igualdade” para
intercâmbio em diferentes áreas. Os dois países fecharam ontem acordos
bilaterais em transporte, saúde, segurança, comunicações e agronegócio. O
último possibilita a venda de melão brasileiro para a China em troca da
importação de pera chinesa.
A China é hoje o maior parceiro comercial do País.
De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou US$ 21,5 bilhões a mais do
que importou da China. Os chineses respondem por 27,8% das exportações e por
20% das importações. Sem entrar em detalhes, Guedes afirmou que o objetivo do
Brasil é ampliar as trocas comerciais com o país asiático, ainda que isso
signifique uma redução do superávit comercial do Brasil com o parceiro. “Não me
incomodo se nossa balança (comercial) com a China se equilibrar lá na frente.”
Presidente da Associação de Comércio Exterior do
Brasil (AEB), José Augusto de Castro afirmou que o anúncio é positivo, mas
ressaltou que, diferentemente do Brasil, a China possui baixos custos de
produção e alta eficiência. Assim, uma eventual abertura afetaria
principalmente o setor de manufatura brasileiro, que seria tomado por produtos
chineses. “A indústria brasileira não está preparada para nenhuma abertura de
mercado hoje”, disse ele.
Segundo fontes do governo, as conversas entre
autoridades dos dois países incluem a formação de joint-ventures com empresas
chinesas para manufaturar os produtos no Brasil, aumentando o valor agregado.
O Brasil tem uma demanda antiga para que os
chineses abram o mercado interno a produtos agrícolas processados e
semiprocessados, de maior valor agregado, como a soja, que poderiam ampliar os
ganhos nas exportações.
Guedes não descartou acordos com outros países ou
blocos comerciais. “Se pudermos passar para a área de livre-comércio com outras
áreas do mundo, também queremos”, afirmou o ministro da Economia. “Queremos nos
integrar. Vamos fazer 40 anos em quatro.”
No fim de julho, o Brasil iniciou oficialmente as
negociações para o fechamento de um acordo comercial com os Estados Unidos,
após o Mercosul ter fechado, semanas antes, um acordo de livre-comércio com a
União Europeia. / FABRÍCIO DE CASTRO, LORENNA RODRIGUES, FELIPE FRAZÃO,
MATEUS VARGAS E GUILHEME GUERRA
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