'Acabou a tempestade, veio a bonança', diz hacker a amigo; PF suspeita
de venda de mensagens
Patrik Camporez e Breno Pires /
BRASÍLIA
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Fornecido por S.A. O Estado de São Paulo
A Polícia Federal acredita ter encontrado um
indício que pode ajudar a desvendar a principal dúvida que ainda paira sobre os
suspeitos de hackear as principais autoridades do País: se eles venderam as
mensagens que obtiveram de forma ilegal. Numa conversa trocada via aplicativo,
Walter Delgatti Neto, que confessou chefiar o grupo, diz a Danilo Cristiano
Marques, seu suposto "testa de ferro", que "acabou a tempestade",
"veio a bonança".
A conversa consta num relatório de 13 páginas em
que a PF sustenta para a necessidade da manutenção das prisões de Delgatti e
Gustavo Henrique Santos, o DJ de Araraquara também suspeito de participar dos
crimes. No relatório, ao qual o Estado teve acesso, os investigadores dizem que
a troca de mensagens ocorreu em 10 de abril de 2019, dois meses antes de
conversas entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e de procuradores da
Lava-jato, serem divulgadas. São conversas que "sugerem algum feito",
conclui a PF, numa sinalização de que Delgatti poderia estar comemorando a
venda das mensagens. A conversa entre os dois é acompanhada pela descrição
"@chefedeestado".
No documento, a polícia diz que Danilo e Suelen
Priscila de Oliveira, namorada de Gustavo, não oferecem mais riscos para
obtenção de provas, podendo assim ser soltos.
Os investigadores da PF concluíram parte da perícia
dos materiais apreendidos na Operação Spoofing na semana passada. Até o
momento, além das suspeitas de que Delgatti teria recebido pelas mensagens que
vazou, também dizem ter encontrado elementos que indicam fraudes bancárias.
Os quatro suspeitos foram presos pela Polícia
Federal no dia 23 de julho, no âmbito da investigação sobre a invasão de
telefones celulares de autoridades, incluindo o presidente da República, Jair
Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador da República e
coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol.
Como revelou o Estado na época das prisões,
Delgatti afirmou em depoimento à PF ter repassado o conteúdo das supostas
mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do The Intercept Brasil, que
tem divulgado reportagens com base nas conversas desde junho. O hacker disse
que não cobrou contrapartidas financeiras para repassar os dados.
COM A PALAVRA, WALTER DELGATTI NETO
Procurada, a defesa de Delgatti afirmou que, até o
momento, a PF não apresentou nos autos os supostos arquivos acessados pelo seu
cliente. "Considerando todo material apreendido há mais de um mês, tempo
hábil para o delegado apresentar provas concretas dos supostos acessos, uma
mera tentativa de acesso, sem comprovação de invasão, com cópia de dados, não
justifica o acautelamento provisório. Ressalte-se que Walter Delgatti Neto é
estudante de Direito e até o momento não apresentou nenhum risco à continuidade
das investigações, sempre colaborando com a autoridade
policia", afirmaram os advogados.
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