Servidor já se mobiliza para tentar barrar perda salarial e de
estabilidade
Eduardo Rodrigues e Lorenna Rodrigues
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Gabriela Biló/ ESTADÃO Guedes e Maia querem reforma mais dura, que permita a
governo ter margem orçamentária para investimentos
BRASÍLIA - Os servidores públicos
federais começam a preparar suas barricadas contra a reforma administrativa
prometida pelo governo Jair Bolsonaro. Sem espaço no Orçamento para reajustes salariais no próximo ano,
os funcionários das principais carreiras civis do Estado, que são os ligados ao
Executivo Federal, vão concentrar os esforços para evitar uma reforma tão
“dura” quanto desejam o ministro da Economia, Paulo Guedes,
e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). (DEM-RJ).
Além de não conceder aumentos para o funcionalismo,
a equipe econômica prepara medidas para conter os gastos com pessoal em uma
reforma administrativa que pode acabar até mesmo com a estabilidade no serviço
público – que impede que os funcionários públicos estatutários sejam demitidos.
Salários iniciais mais baixos e uma progressão mais longa na carreira são a
espinha dorsal do projeto que deve ser apresentado formalmente ainda neste ano.
A reforma administrativa é mais uma das propostas do governo
para desengessar o Orçamento, já que há pouco espaço para investimentos
públicos. O teto de gastos, criado para limitar o crescimento nas despesas, tem
ameaçado levar à paralisia diversos órgãos do governo.
Preocupados principalmente com o fim da
estabilidade e a redução salarial, categorias estão se articulando e
intensificando o “lobby” no Congresso. Essa movimentação já resultou na criação
nesta semana da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, com a
adesão de 235 deputados e seis senadores de 23 partidos.
O coordenador da Frente, deputado Israel Batista
(PV-DF), disse que a intenção do grupo é garantir que a reforma administrativa
seja “técnica”, e não “ideológica”. “A intenção tem de ser melhorar o
atendimento ao público e o rendimento do servidor, não apenas cortar custos.
Vamos defender que a estabilidade seja preservada, pois é a única forma de se
proteger do governante de plantão”, afirmou.
O deputado diz que será “juridicamente impossível”
atuar em pontos como a redução salarial dos atuais servidores, mas disse ser plausível
a discussão sobre a reformulação de carreiras, com salários de entrada menores
e promoções de carreira mais espaçadas.
“Isso é possível de se discutir, pois são regras
para um novo jogo”, disse. Ele afirmou ainda que os parlamentares da frente estão
se articulando e pleiteando indicações para a comissão especial, que será
formada quando o projeto com a reforma administrativa for enviado ao
Legislativo.
“Os servidores têm sido alvo de diversos ataques
institucionais. Queremos mostrar que os funcionários de carreira não são os
vilões do gasto público, pelo contrário. Reconhecemos os problemas do gasto com
pessoal e, por isso, também queremos ter voz na discussão da reforma
administrativa”, afirma Rudinei Marques, presidente do Fonacate – fórum que reúne
32 carreiras de Estado.
Reajustes
O Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2020 enviado ao
Congresso no fim de agosto não prevê nenhum reajuste salarial para os
servidores no próximo ano, com exceção dos militares – que já contam com um
projeto de lei em tramitação no Parlamento sobre a reestruturação das
carreiras.
O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais (Sindifisco), Kleber Cabral, disse que a falta de reajuste faz parte de
um “desmonte mais amplo” do serviço público, que envolve ainda a não realização
de concursos públicos e o corte do Orçamento de diversos ministérios. “Há um
grande desalento para os servidores em geral, e o contraste com os militares só
acentua essa desmotivação”, disse.
Mas, depois de anos consecutivos de reposição
salarial nos governos anteriores, os servidores não veem, agora, clima para
greves e movimentações por melhores remunerações.
Segundo Marques, a obtenção de
novos reajustes ficou difícil em razão da grave situação fiscal do País e
pelo fato de o crescimento das despesas estar limitado pela regra do teto de
gastos. Além disso, um acordo costurado ainda no governo Dilma Rousseff
garantiu aumentos nos últimos quatro anos para a maioria dos servidores, ainda
que o governo Michel Temer tenha tentado – sem sucesso – adiar essa fatura.
“Temos de reconhecer a defasagem salarial dos
militares, sobretudo nas patentes mais baixas. Já a maioria das carreiras civis
obteve recomposição salarial nos últimos anos”, diz o presidente do Fonacate.
Segundo ele, apenas os servidores das agências
reguladoras, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e os fiscais agropecuários
poderiam adotar estratégias diferentes, já que o último reajuste para essas
carreiras ocorreu em 2017. Mas nem mesmo os que não tiveram reajustes nos
últimos dois anos têm plano de lutar por isso agora.
“Atualmente, o sindicato está dialogando no âmbito
do debate sobre as carreiras de Estado”, afirmou, em nota, o Sindicato dos
Empregados em Agências Reguladoras (Sindiagências), que representa os
servidores de dez órgãos.

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