Moraes determina que Receita suspenda investigações sobre ministros do
STF
Renato Souza
© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Os
ministros do Supremo Dias Toffoli e Alexandre de Moraes
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), determinou a suspensão de procedimentos investigatórios em curso
na Receita Federal que possam ter como alvo os membros do plenário da Corte e
outras autoridades. A decisão foi tomada nesta quinta-feira (1/8), horas depois
de o site The Intercept Brasil revelar diálogos segundo os quais o procurador
da Lava-Jato Deltan Dallagnol teria incentivado uma investigação contra Dias
Toffoli, hoje presidente do Supremo.
Na decisão, tomada em segredo de
Justiça, o magistrado paralisa apurações que atingem 133 contribuintes. O
despacho ocorreu em meio a um polêmico inquérito, aberto no início deste ano, para apurar "fake news, ameaças e outros
ataques" contra o STF.
Para suspender as ações, Moraes indica que estão
"presentes graves indícios de ilegalidade no direcionamento das apurações
em andamento". Além disso, ele decidiu pelo "afastamento temporário
de dois servidores da Receita Federal, por indevida quebra de sigilo noticiada
em procedimento administrativo disciplinar".
No documento, o ministro afirma que ocorreu
investigação, por parte da Receita, sem que houvesse indício de ilegalidade.
"Considerando que são claros os indícios de desvio de finalidade na
apuração da Receita Federal, que, sem critérios objetivos de seleção,
pretendeu, de forma oblíqua e ilegal investigar diversos agentes públicos,
inclusive autoridades do Poder Judiciário, incluídos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, sem que houvesse, repita-se, qualquer indicio de irregularidade por
parte desses contribuintes", escreveu o ministro.
"Crise sem precedentes no
Judiciário"
Desde que os diálogos foram revelados
pelo The Intercept, em parceria com a Folha de S. Paulo, ministros do Supremo
se mostraram indignados com o teor das conversas. Os diálogos sugerem que Dallagnol buscou informações sobre finanças
pessoais de Tofolli e sua esposa, Roberta Rangel, que os
aproximassem de empresas envolvidas na Lava-Jato. O procurador teria ido ao
banco de dados da Receita Federal buscar informações sobre o escritório de
advocacia da esposa de Toffoli e informes sobre a reforma de uma casa do
ministro, em Brasília.
Marco Aurélio Mello classificou a postura de Dallagnol como inconcebível
e disse esperar que o Conselho Nacional do Ministério Público apure as
denúncias. Outro que fez críticas foi Gilmar Mendes. Ao chegar ao Supremo, ele
disse que o episódio cria uma crise sem precedentes no Judiciário. "É a
maior crise que se abateu sobre o aparato judicial do Brasil desde a
redemocratização. A Justiça Federal está com o seu prestígio muito abalado e a
Procuradoria Geral da República está com seu prestigio muito abalado",
destacou Gilmar.
Ele afirmou, também, que independente da forma em
que as mensagens foram reveladas, os fatos são de extrema gravidade. O hacker
Walter Delgatti, preso pela Polícia Federal, confessou ter invadido o celular
de procuradores, de juízes e repassado as informações para o The Intercept.
"Independentemente do meio que nos permitiu saber disso, claro, ninguém
deve saudar hackeamentos e iniciativas desse tipo, mas as reverberações são
extremamente graves e mostra que é um modelo que não tinha limites. Trapezista
morre quando pensa que voa. Está ai o resultado", completou.
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