Por que o surto de ebola no Congo virou uma emergência internacional de
saúde pública
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Reuters O ebola é um grande desafio para os profissionais de saúde da República
Democrática do Congo
O surto de ebola na República Democrática do Congo
(RDC) foi declarado uma emergência de saúde pública de caráter internacional
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quarta-feira (17).
A declaração de emergência acontece
depois de o país ter confirmado nesta semana o primeiro caso de ebola na cidade de Goma,
um importante eixo de transportes no leste do país africano. O surto no país
foi declarado em agosto de 2018, mas o caso em Goma pode ser um "divisor
de águas", segundo a OMS, por causa da grande população da cidade, de mais
de 2 milhões de habitantes, localizada na fronteira com Ruanda, que está em
alerta máximo.
"Está na hora de o mundo notar e de
redobrarmos nossos esforços. Precisamos trabalhar juntos com a RDC para acabar
com esse surto e construir um sistema de saúde melhor", disse Tedros
Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Um trabalho extraordinário tem
sido feito há quase um ano sob as circunstâncias mais difíceis. Todos nós devemos
a esses trabalhadores – não só da OMS mas também do governo, parceiros e
comunidades – a responsabilidade de carregar um pouco mais desse peso."
Mais de 1.600 pessoas morreram desde o início do
surto de ebola no leste da República Democrática do Congo - o segundo maior
surto de todos os tempos.
Segundo o Ministério da Saúde local, o caso de Goma
foi de um pastor foi diagnosticado após chegar de ônibus no domingo (14). O
pastor infectado viajou de ônibus por 200 km da cidade de Butembo, onde esteve
em contato com pessoas com ebola, até Goma.
O Ministério da Saúde disse em um comunicado que há
um baixo risco de propagação da doença na cidade, porque todos os outros
ocupantes do ônibus - um motorista e mais 18 passageiros - foram rastreados e
seriam vacinados nesta segunda-feira, 15 de julho. "Por causa da
velocidade com que o paciente foi identificado e isolado, bem como a
identificação de todos os passageiros, o risco de o vírus se espalhar por Goma
permanece pequeno."
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SOPA Images/Getty Images Surto no leste da República Democrática do Congo é o
segundo pior da história
Por que o surto
mudou de patamar?
Desde o início do atual surto, a Organização
Mundial de Saúde havia optado em três ocasiões diferentes não declará-lo como
uma situação de emergência de saúde global – até agora.
Robert Steffen, presidente do comitê de emergência
para ebola da OMS, havia dito em abril que adotar essa medida não traria
mudanças significativas às ações de combate ao vírus no país.
Além disso, ele queria evitar também que o novo
patamar fosse usado como justificativa para um eventual fechamento de
fronteiras e rotas de transporte, causando impactos econômicos e sociais que
poderiam até agravar o surto - algo que não foi adotado até agora.
Mas na semana passada o Reino Unido pediu que o
órgão fizesse a declaração de emergência a fim de facilitar a arrecadação
internacional de fundos para lutar contra a disseminação da doença - a OMS está
desapontada com o impacto de atrasos em repasses de verbas ao combate da
doença.
Além de facilitar a arrecadação de
verbas, a declaração significa que a entidade fez uma série de recomendações
que devem ser seguidas pelo país afetado e seus vizinhos.
Entre elas, está a recomendação de que autoridades
do mundo todo trabalhem em conjunto com companhias aéreas e com agências de
viagens para que todos sigam as regras da OMS para o tráfego internacional.
Países vizinhos devem ter vacinas preparadas e mapear o fluxo de pessoas, entre
outras medidas. A OMS reitera a importância de não fechar as fronteiras - há
livre circulação de pessoas entre as cidades fronteiriças de RDA e Ruanda.
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SOPA Images/Getty Images Goma é um importante centro comercial e cultural na
fronteira com Ruanda
Desconfiança nas
autoridades favorece propagação
O ebola infecta seres humanos por meio do contato
próximo com pessoas ou animais infectados, incluindo chimpanzés, morcegos
frugívoros e antílopes da floresta.
O vírus pode então se espalhar rapidamente quando
pessoas têm contato direto com lesões na pele, na boca e no nariz ou com
sangue, vômito, fezes ou fluidos corporais de alguém que tem o vírus, ou
indiretamente, ao ficarem em ambientes contaminados.
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Getty Images Pacientes com ebola tendem a morrer de desidratação e falência
múltipla de órgãos
O ebola inicialmente causa sintomas como febre
súbita, fraqueza intensa, dor muscular e dor de garganta. O quadro depois
progride para vômitos, diarreia e sangramento interno e externo. Os pacientes
tendem a morrer de desidratação e falência múltipla de órgãos.
O ebola é um grande desafio para os profissionais
de saúde da República Democrática do Congo que lutam para conter sua
disseminação.
"As pessoas ainda têm medo de ir às clínicas
de saúde se estiverem com sintomas de ebola", diz Tariq Riebl, diretor de
resposta a emergências de ebola da organização não governamental International
Rescue Committee.
O atual surto no leste da República Democrática do
Congo começou em 2018 e é o décimo a atingir o país desde 1976, quando o vírus
foi descoberto pela primeira vez.
A epidemia na África Ocidental entre 2014 e 2016,
que afetou 28.616 pessoas e fez 11.310 vítimas fatais, principalmente na Guiné,
Libéria e Serra Leoa, foi o maior surto do vírus já registrado.
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