sexta-feira, 19 de julho de 2019

SURTO DE EBOLA NO CONGO


Por que o surto de ebola no Congo virou uma emergência internacional de saúde pública


             © Reuters O ebola é um grande desafio para os profissionais de saúde da República Democrática do Congo

O surto de ebola na República Democrática do Congo (RDC) foi declarado uma emergência de saúde pública de caráter internacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quarta-feira (17).


A declaração de emergência acontece depois de o país ter confirmado nesta semana o primeiro caso de ebola na cidade de Goma, um importante eixo de transportes no leste do país africano. O surto no país foi declarado em agosto de 2018, mas o caso em Goma pode ser um "divisor de águas", segundo a OMS, por causa da grande população da cidade, de mais de 2 milhões de habitantes, localizada na fronteira com Ruanda, que está em alerta máximo.
"Está na hora de o mundo notar e de redobrarmos nossos esforços. Precisamos trabalhar juntos com a RDC para acabar com esse surto e construir um sistema de saúde melhor", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Um trabalho extraordinário tem sido feito há quase um ano sob as circunstâncias mais difíceis. Todos nós devemos a esses trabalhadores – não só da OMS mas também do governo, parceiros e comunidades – a responsabilidade de carregar um pouco mais desse peso."
Mais de 1.600 pessoas morreram desde o início do surto de ebola no leste da República Democrática do Congo - o segundo maior surto de todos os tempos.
Segundo o Ministério da Saúde local, o caso de Goma foi de um pastor foi diagnosticado após chegar de ônibus no domingo (14). O pastor infectado viajou de ônibus por 200 km da cidade de Butembo, onde esteve em contato com pessoas com ebola, até Goma.
O Ministério da Saúde disse em um comunicado que há um baixo risco de propagação da doença na cidade, porque todos os outros ocupantes do ônibus - um motorista e mais 18 passageiros - foram rastreados e seriam vacinados nesta segunda-feira, 15 de julho. "Por causa da velocidade com que o paciente foi identificado e isolado, bem como a identificação de todos os passageiros, o risco de o vírus se espalhar por Goma permanece pequeno."

© SOPA Images/Getty Images Surto no leste da República Democrática do Congo é o segundo pior da história

Por que o surto mudou de patamar?
Desde o início do atual surto, a Organização Mundial de Saúde havia optado em três ocasiões diferentes não declará-lo como uma situação de emergência de saúde global – até agora.
Robert Steffen, presidente do comitê de emergência para ebola da OMS, havia dito em abril que adotar essa medida não traria mudanças significativas às ações de combate ao vírus no país.
Além disso, ele queria evitar também que o novo patamar fosse usado como justificativa para um eventual fechamento de fronteiras e rotas de transporte, causando impactos econômicos e sociais que poderiam até agravar o surto - algo que não foi adotado até agora.
Mas na semana passada o Reino Unido pediu que o órgão fizesse a declaração de emergência a fim de facilitar a arrecadação internacional de fundos para lutar contra a disseminação da doença - a OMS está desapontada com o impacto de atrasos em repasses de verbas ao combate da doença.
Além de facilitar a arrecadação de verbas, a declaração significa que a entidade fez uma série de recomendações que devem ser seguidas pelo país afetado e seus vizinhos.
Entre elas, está a recomendação de que autoridades do mundo todo trabalhem em conjunto com companhias aéreas e com agências de viagens para que todos sigam as regras da OMS para o tráfego internacional. Países vizinhos devem ter vacinas preparadas e mapear o fluxo de pessoas, entre outras medidas. A OMS reitera a importância de não fechar as fronteiras - há livre circulação de pessoas entre as cidades fronteiriças de RDA e Ruanda.

© SOPA Images/Getty Images Goma é um importante centro comercial e cultural na fronteira com Ruanda

Desconfiança nas autoridades favorece propagação
O ebola infecta seres humanos por meio do contato próximo com pessoas ou animais infectados, incluindo chimpanzés, morcegos frugívoros e antílopes da floresta.
O vírus pode então se espalhar rapidamente quando pessoas têm contato direto com lesões na pele, na boca e no nariz ou com sangue, vômito, fezes ou fluidos corporais de alguém que tem o vírus, ou indiretamente, ao ficarem em ambientes contaminados.


© Getty Images Pacientes com ebola tendem a morrer de desidratação e falência múltipla de órgãos

O ebola inicialmente causa sintomas como febre súbita, fraqueza intensa, dor muscular e dor de garganta. O quadro depois progride para vômitos, diarreia e sangramento interno e externo. Os pacientes tendem a morrer de desidratação e falência múltipla de órgãos.
O ebola é um grande desafio para os profissionais de saúde da República Democrática do Congo que lutam para conter sua disseminação.
"As pessoas ainda têm medo de ir às clínicas de saúde se estiverem com sintomas de ebola", diz Tariq Riebl, diretor de resposta a emergências de ebola da organização não governamental International Rescue Committee.
O atual surto no leste da República Democrática do Congo começou em 2018 e é o décimo a atingir o país desde 1976, quando o vírus foi descoberto pela primeira vez.
A epidemia na África Ocidental entre 2014 e 2016, que afetou 28.616 pessoas e fez 11.310 vítimas fatais, principalmente na Guiné, Libéria e Serra Leoa, foi o maior surto do vírus já registrado.

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