Seis meses após posse de Bolsonaro, oposição segue desorganizada
Marcelo de Moraes
©
Isac Nóbrega 'Deve ir, está sendo discutido aqui, para o Onyx', disse
Bolsonaro, após cerimônia de assinatura da MP 871, no Palácio do Planalto
Caro
leitor,
Depois de o PT ser derrotado no
segundo turno por Jair Bolsonaro, havia a
expectativa de que a oposição conseguiria se organizar politicamente para se
contrapor solidamente ao novo governo. Mas, seis meses depois da posse
presidencial, o que se vê é que os principais problemas enfrentados por
Bolsonaro são causados por integrantes de sua própria equipe ou por grupos
políticos próximos do seu campo ideológico, como é o caso dos integrantes do
Centrão.
Dos petistas, pelo tamanho de suas
bancadas, esperava-se que liderassem o processo de oposição dentro do Congresso.
O partido têm preferido, no entanto, insistir em concentrar seus esforços na
campanha pela libertação do ex-presidente Lula. À exceção de
bastante gritaria em algumas sessões na Câmara e no Senado, o PT tem passado
longe de incomodar o governo e ficou muito mais concentrado na torcida para que
o Supremo soltasse o ex-presidente do que na discussão da reforma da
Previdência, por exemplo.
Nesse link você pode
acompanhar como foi a cobertura ao vivo do julgamento do pedido para que Lula
fosse solto. Aqui, na newsletter do BR18,
eu analiso como foi o efeito político dessa decisão. E se você quiser saber
como foram os seis primeiros meses do governo Bolsonaro até agora não pode perder esse material
especial preparado pelo Estadão.
A oposição tinha uma oportunidade real
de marcar presença na discussão, por exemplo, da reforma da Previdência. O PDT
de Ciro Gomes, e o PSB ainda se organizaram para discutir o tema e
tentar apresentar alternativas, mas já desembarcaram da iniciativa.
Já PT, PSOL e PCdoB preferiram ser refratários à
discussão. Assim, os defensores da proposta têm enfrentado muito mais
resistência nesse debate de setores corporativos contrários às mudanças, como é
o caso de policiais, professores e servidores. Os partidos do Centrão também
têm verbalizado com muita mais veemência suas queixas contra a proposta.
Até governadores e prefeitos têm sido
mais efetivos nas críticas ao projeto. Assim, se a reforma avançar ou recuar,
isso independe dos movimentos políticos feitos pela oposição. Nessa reportagem, você
pode ver que a discussão da proposta tem enfrentado problemas para avançar na
Comissão Especial da Câmara, mas isso não corresponde a alguma ação organizada
dos partidos de oposição.
É normal que forças políticas enfrentem
dificuldades depois de uma mudança tão expressiva no cenário como aconteceu com
a vitória de Jair Bolsonaro. O PT não está sozinho nesse barco. Acostumado a
polarizar com os petistas as disputas presidenciais, o PSDB amargou seu pior
resultado na disputa pelo Planalto em 2018 e está precisando se reinventar sob
a liderança política do governador de São Paulo, João Doria.
Mesmo sendo um movimento de
reconstrução, o PSDB já conseguiu provocar uma reação de Bolsonaro. Na
discussão pela organização do GP Brasil de Fórmula 1, disputado por São Paulo e
Rio, o presidente trocou farpas com Doria, ironizando sua pretensão ao Planalto
em 2022. Você pode ver aqui como foi essa
discussão. Aqui, você pode ler a
reação do governador paulista.
O PT, ao contrário, ainda segue
engessado na pauta do “Lula Livre” e tenta aproveitar o efeito do vazamentos
das mensagens de integrantes da Lava Jato com Sérgio Moro para tentar minar a
credibilidade do ministro da Justiça. O objetivo é o de tentar invalidar a
condenação do ex-presidente considerando que a atuação de Moro como juiz desses
casos foi abusiva. Mesmo com sua imagem desgastada pelo problema, o ministro
conseguiu receber apoio popular importante, depois das manifestações
organizadas no fim de semana pelo País. O Estadão mostrou bem como foram as
manifestações.
Assim, é difícil vislumbrar qual seria o projeto
eleitoral do PT para as próximas eleições, sejam as municipais no ano que vem,
ou as estaduais e nacionais de 2022. Preso nessa espécie de sebastianismo
tropical, que aguarda pela libertação de Lula, o partido corre o risco,
inclusive, de sequer encabeçar a chapa na disputa por capitais importantes,
como em São Paulo. O partido nem precisaria deixar de lado sua luta pela
libertação de seu principal ator político. Mas deveria estar preocupado em
tentar construir algum projeto de poder capaz de responder ao atual governo.
Por enquanto, foram seis meses onde a oposição tem sido mera figurante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário