Há
50 anos, Armstrong, Aldrin e Collins levavam o homem à Lua
© HO Da esquerda
para a direita, Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin em 30 de março de
1969 no Centro Espacial Kennedy
Os primeiros quatro dias da viagem da Apolo 11 tinham
transcorrido como no treinamento, mas faltando apenas 20 minutos para o pouso
na Lua, em 20 de julho de 1969, começaram os problemas.
As comunicações por rádio com a sala de controle em Houston
foram brevemente interrompidas. E, em plena descida, soaram os alarmes no
módulo lunar (LEM), pilotado por Edwin "Buzz" Aldrin e o comandante
da missão, Neil Armstrong.
Duas horas depois, o LEM havia se separado do veículo
principal, o módulo de comando, onde permaneceu o terceiro membro da tripulação
da Apolo 11, Michael Collins.
"Deem uma explicação sobre o alarme do programa
1202", exigiu Armstrong.
Houston pediu aos seus astronautas que ignorassem esse
sinal. O computador de bordo estava saturado, mas os sistemas funcionavam,
explicou o comando da missão.
As crateras lunares começaram a passar a toda velocidade
diante do módulo. Rápido demais, como comprovou o comandante, que entendeu que
o módulo se distanciaria vários quilômetros da zona de alunissagem prevista.
© HO Decolagem da
missão Apolo 11 em 16 de julho de 1969 do Centro Espacial Kennedy, na Flórida
Armstrong assumiu, então, o controle manual da nave,
procurou uma nova área olhando pela escotilha do módulo, mas tudo parecia
"muito rochoso".
Aldrin começou a ler para ele as informações do computador:
a velocidade vertical e a altitude: "250 pés... 220 pés...".
"Será logo depois da cratera", disse Armstrong.
O nível de combustível diminuía rapidamente. Restam "30
segundos", anunciou Houston.
Armstrong não falava mais. Desacelerou, o LEM quase parou de
avançar e acabou pousando. "Contato", disse Aldrin.
Os astronautas desligaram os motores do veículo.
"Houston, aqui é a base Tranquilidade. A Águia
pousou", anunciou Armstrong.
"Copiamos vocês na Terra", respondeu o encarregado
de comunicações, Charles Duke, de Houston. "Tinha um monte de gente quase
ficando azul. Voltamos a respirar".
- Von Braun -
Segundo dados oficiais, 400 mil pessoas participaram do
programa Apolo. Mas apenas duas foram encarregadas de lançá-lo. Em 1961, John
Fitzgerald Kennedy perguntou a seu vice-presidente, Lyndon Johnson, como
superar os soviéticos na corrida espacial.
"Se um homem entrar na órbita terrestre este ano, se
chamará Ivan", lamentou o presidente um ano depois.
© Neil ARMSTRONG Buzz Aldrin em 20 de julho de 1969
caminhando na Lua, fotografado por Neil Armstrong, visível no reflexo da
viseira do companheiro
Johnson consultou o projetista de foguetes da Nasa, o
foragido nazista Wernher von Braun. O engenheiro havia inventado os foguetes V2
que bombardearam Londres durante a Segunda Guerra Mundial.
Perto do fim do conflito, ele ofereceu seus serviços aos
americanos, que o levaram junto com uma centena de seus melhores engenheiros ao
Alabama, fundando o que se conhece desde então como "Rocket City"
(cidade dos foguetes).
O alemão respondeu com entusiasmo a Johnson que o envio de
homens à Lua era o único projeto em que se podia derrotar Moscou porque nenhum
de seus foguetes tinha a potência necessária para chegar até o satélite natural
da Terra. Kennedy disse ok.
Oito anos depois, Richard Nixon presidia os Estados Unidos.
Antecipando uma possível tragédia, o chefe de Estado mandou preparar uma
homenagem: "quis o destino que os homens que foram explorar a Lua em paz
descansassem em paz".
Mas o enorme esforço nacional rendeu frutos. Tudo foi muito
rápido, graças aos fundos aprovados pelo Congresso.
Foram lançadas quatro missões Apolo exploratórias entre
outubro de 1968 e maio de 1969. Em dezembro de 1968, Armstrong foi escolhido
comandante da décima primeira missão Apolo, com tudo o que isso representava:
ele seria o primeiro homem a pisar na Lua.
"Fiquei calado durante dias enquanto lutava para não me
irritar com Neil. Depois de tudo, era o comandante e, portanto, o chefe",
contou Aldrin ao relatar suas memórias.
- "Um grande salto" -
Quando o enorme foguete de Von Braun decolou transportando a
cápsula da Apolo 11 no topo naquela quarta-feira, 16 de julho de 1969, um
milhão de pessoas assistiram ao espetáculo nas praias da Flórida, perto de Cabo
Cañaveral.
© Neil ARMSTRONG
Buzz Aldrin em frente ao módulo lunar em 20 de julho de 1969, fotografado por
Neil Armstrong
Mas muitos duvidavam que os homens realizassem seu objetivo.
"Nos davam pelo menos 90% de chances de voltar com vida e 50% de conseguir
alunissar", disse Armstrong após a missão.
Para os americanos, a descida final ocorreu no domingo à
tarde. Na Europa já era de noite. Mas em todas as partes se acompanhou a
façanha, com comunicações de rádio crepitantes até que Armstrong instalou uma
câmera antes de pisar na Lua.
"Os pés do LEM só estão afundados na superfície como
uma ou duas polegadas, embora a superfície pareça muito, muito fina, quando
você se aproxima. É quase como pó", explicou Armstrong.
"Agora, vou descer do LEM", anunciou.
Após uma pausa, pronunciou a frase pela qual sempre seria
lembrado: "É um pequeno passo para o homem, um grande passo para a
humanidade".
Eram 22H56 em Houston.
"Pensei nisso após ter pousado", lembrou Armstrong
em uma longa entrevista em 2001. Na verdade, o astronauta se enganou, queria
dizer "para um homem".
Durante duas horas e meia, Armstrong recolheu quilos de
rochas e tirou fotos. Aldrin instalou um sismômetro e outros dois instrumentos
científicos. Colocaram uma bandeira dos Estados Unidos, deixaram uma placa e
vários suvenires, incluindo uma medalha para Yuri Gagarin, o primeiro humano a
viajar ao espaço.
Das 857 fotos em preto e branco e 550 coloridas que tiraram
na Lua, Armstrong só aparece em quatro. A maioria é de Aldrin. "É muito
mais fotogênico do que eu", brincou Armstrong em 2001.
- O retorno -
Quando chegou a hora de partir, os astronautas estavam
cobertos de pó. O módulo cheirava a "cinza molhada em uma lareira",
descreveu Armstrong.
Collins estava há 22 horas esperando em órbita.
"Meu medo secreto há seis meses era deixá-los na Lua e
voltar sozinho para a Terra. Se não conseguissem decolar ou se caíssem, não vou
me matar. Vou voltar para casa, mas serei um homem marcado pelo resto dos meus
dias", escreveu Collins.
Não precisou voltar sozinho. O único motor do LEM ligou, a
acoplagem funcionou e os três homens voltaram para a Terra.
No fim, a cápsula, da qual tinham se desprendido módulos
inúteis, pesava 12 toneladas, um peso insignificante se comparado com as 3.000
toneladas iniciais.
Em 24 de julho, atravessou a atmosfera envolta em uma bola
de fogo para cair como uma pedra no Atlântico, freada por três grandes
paraquedas.
Os Estados Unidos enviaram um porta-aviões para resgatá-los.
Richard Nixon estava a bordo.
Mergulhadores de elite tiraram os homens da cápsula e os
levaram de helicóptero até a embarcação, onde foram postos em quarentena por
medo de contaminação por possíveis micro-organismos extraterrestres.
Em sua primeira coletiva de imprensa, três semanas depois,
os jornalistas perguntaram aos três astronautas da Apolo 11 se pensavam voltar
à Lua.
"Tivemos muito pouco tempo para pensar", respondeu
Armstrong, categórico.
Nenhum deles voltaria. O programa Apolo foi encerrado em
1972 e foi preciso esperar a chegada de Donad Trump à Casa Branca para que os
Estados Unidos decidissem lançar a irmã de Apolo, a missão Artemisa.
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