Expectativas em queda e um triunfo: os 6 meses de Bolsonaro na economia
Ligia Tuon
©
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
O acordo entre Mercosul e União
Europeia, anunciado nesta sexta-feira (28), marcou a reta final dos
primeiros seis meses do governo Bolsonaro. Após vinte anos de negociação entre
os países dos blocos, a atual gestão coloca na sua conta a conquista do marco
histórico.
Até agora, no entanto, o clima estava mais
cinzento. A reversão de expectativas foi a grande marca dos seis meses primeiros
meses de governo, como mostram previsões do mercado para o crescimento da
economia e índices de expectativas de setores como os de construção e comércio
e dos consumidores.
“Terminamos o primeiro semestre de Bolsonaro com a
melhor notícia de todo o governo dele”, disse Sérgio Vale, economista-chefe da
MB Associados. “É um ótimo prenúncio de novas medidas à frente”.
As previsões de mercado apontavam no
início do ano para um crescimento de 2,5% da economia brasileira em 2019. Esse
número está sendo revisto para baixo todas as semanas há mais de quatro meses e
já chega a 0,87%.
O avanço do Produto Interno Bruto
(PIB) do primeiro trimestre confirmou o ritmo arrastado da economia, que acabou
recuando 0,2% na comparação com o quarto trimestre do ano passado.
As expectativas em relação ao governo Bolsonaro até
o começo desse ano embutiam a esperança de uma aprovação rápida da reforma da
Previdência e o encaminhamento da crise fiscal, mas as turbulências de gestão e
de relacionamento político jogaram um balde de água fria nessa previsão.
Essa percepção é confirmada pela
sondagem da construção realizada pela FGV com as empresas do setor, que
representa mais da metade do investimento no país.
O índice de expectativas dos empresários para o
futuro avançou 7,6 pontos de setembro a dezembro, chegando a 96,5. Em junho, o
indicador chegou a 92,5.
“Havia uma expectativa grande e a sondagem
refletiu isso. Mas até que ponto essa expectativa tinha uma base real?”,
questiona Ana Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE).
Grande parte da frustração do setor tem ligação com
o contingenciamento do orçamento anunciado mais cedo neste ano, que
interrompeu obras do programa Minha Casa Minha Vida, central para o mercado
imobiliário.
Dinâmica semelhante apareceu no setor de comércio.
O índice caiu do patamar de 104,8 pontos em dezembro para 99,9 em junho,
refletindo a insatisfação com o ritmo de vendas.
Já a sondagem do consumidor, que
passou de um perfil otimista para pessimista em apenas quatro meses, voltou a
melhorar em junho, mas ainda continua em níveis baixos em termos históricos.
Uma agenda (quase)
do Legislativo
Para além do acordo do Mercosul com a
UE, não há muito o que se possa colocar na conta do governo Bolsonaro, na
opinião de Vale, da MB.
“A não ser coisas que já estavam vindo do governo
anterior, como leilão dos aeroportos”, diz ele, que também considera positiva a
continuidade do rumo da gestão Temer. “Pautas importantes, como as reformas
previdenciária e tributária, terminam o semestre minimamente bem encaminhadas”,
afirma.
Sua previsão é que a Previdência seja
votada no plenário da Câmara ainda no começo de julho ou, no máximo, agosto.
“Dada a turbulência inicial do governo, é uma marca interessante”, diz.
Uma boa parte do crédito pode ser
colocada em um novo protagonismo do Congresso, mas a orientação liberal da
equipe econômica do governo também segue agradando o mercado financeiro, apesar
de sustos como a intervenção de preços na Petrobras.
Um dos exemplos positivos foi o envio
da MP da Liberdade Econômica ao Congresso. A medida – assinada por Bolsonaro no
dia 30 de abril – procura desburocratizar a vida de empresários,
principalmente dos pequenos, e garantir a livre iniciativa de negócios no país.
Outra bola dentro da equipe chefiada
pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para o mercado é o plano para abertura
do mercado de gás natural no Brasil. Segundo o ministro, a medida pode
contribuir para uma redução de 40% no preço da energia
em cerca de dois anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário