Reforma da discórdia: excluídos, estados e
municípios reagem a relatório sobre nova Previdência
Lucas Simões
Relatório da reforma
da Previdência foi lido na Comissão Especial, que ainda precisa aprovar o texto
antes da votação em plenário
A exclusão de
Estados e municípios do relatório do projeto de reforma da Previdência,
apresentado ontem [TEXTO]pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), fez prefeitos
e governadores reagirem – principalmente aqueles que se encontram em maiores
dificuldades financeiras e políticas.
A decisão de deixar
esses entes fora do texto aconteceu após uma queda de braço entre os
parlamentares do Centrão e os governadores. A estratégia do Centrão, que tem
207 deputados e a maioria da Câmara, é obrigar os gestores estaduais a apoiarem
a reforma, principalmente os do Nordeste, que têm se posicionado contra a
proposta.
Com esse impasse, o
Centrão pretende arrastar a inclusão até o último momento, deixando a decisão
para o plenário. “A inclusão de municípios e estados pode ser feita em
plenário. É uma pressão para atrair os governadores, que não querem ficar de
fora e, para isso, precisariam apoiar o projeto publicamente. O problema é que
muitos são contra o texto”, explica o deputado Diego Andrade (PSD-MG),
coordenador da bancada mineira na Câmara.
Para o presidente da
Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Lacerda, uma reforma sem estados
e municípios é “inviável”. Em Minas Gerais, apenas 200 municípios dos 853 possuem
regime próprio de Previdência, segundo a AMM.
“Não tem lógica
fazer uma reforma fracionada. Em Minas, você atrasaria o desenvolvimento de
centenas de cidades, que certamente teriam dificuldades para aprovar
Previdências próprias, seja por crises políticas ou por causa de
desestabilização financeira. Iríamos postergar a novela da Previdência por
décadas”, avalia Julvan.
Na mesma linha, o
presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Glademir Aroldi, diz
que pelo menos 70% das cidades brasileiras não têm regime de Previdência
próprio. “Jogar na conta das prefeituras é desonesto. Principalmente as do Rio
de Janeiro, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, que enfrentam graves crises
fiscais. Iria sufocar os Estados também. Com a flexibilização de alguns pontos,
governadores e prefeitos vão aderir”, diz Aroldi.
Segundo o ranking do
Instituto Independente do Senado Federal (IFI), Minas ocupa o penúltimo lugar
entre os Estados com a pior situação previdenciária do país, atrás apenas do
Rio Grande do Sul. Para o fim do ano, a previsão do governo mineiro é a de que
o déficit previdenciário atinja R$ 18,6 bilhões – apresentando pequena elevação
se comparado ao déficit de R$ 16 bilhões do ano passado.
Preocupado, nesta
semana o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), defendeu, em Brasília, que a
reforma da Previdência inclua Estados e municípios, mas permita ajustes
regionais, se necessários.
“Foi analisado um
instrumento jurídico em que o governador que sentir que a reforma da
Previdência precise de mais alguma coisa em seu estado, ele encaminhe para a
sua Assembleia Legislativa”, disse Zema durante o Fórum de Governadores.
Procurado ontem, o governo de Minas não se manifestou sobre a exclusão de
Estados e municípios do texto.
Como um passo para
atrair o apoio dos governadores, principalmente os do Nordeste, que fazem
oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), o relatório do deputado Samuel
Moreira (PSDB-SP), apresentado ontem à Comissão Especial antes de ir à
Plenário, derruba algumas das propostas mais rígidas do governo federal.
Foram excluídas as mudanças
do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e da aposentadoria rural. Além
disso, o texto não prevê mais o regime de capitalização e mantém as regras
atuais de idade e tempo de contribuição para as mulheres.
Agora, os deputados
terão 12 dias para analisar a o relatório. A previsão do presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), é a de que o tema seja votado na Comissão Especial em 25
de junho e esteja pronto para ser analisado em plenário na primeira semana de
julho. São necessários 308 votos dos 513 deputados, em dois turnos.
Servidores de saúde,
educação e metrô prometem paralisação geral hoje em BH
Em mais uma greve
geral programada para esta sexta-feira no país, a principal bandeira dos
protestos será pela não aprovação da reforma da Previdência proposta pelo
governo federal. Na capital mineira, a concentração para os protestos acontece
a partir das 11h, na praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte, com
cortejo em direção à Praça da Estação. Trabalhadores, entidades sindicais e
movimentos sociais irão marchar pelas ruas do Centro durante toda a tarde.
De acordo com
entidades sindicais e a Central Única dos Trabalhadores em Minas Gerais
(CUT-MG), o funcionalismo público do Estado deve aderir em massa à greve. Isso
inclui os trabalhadores da Cemig, Copasa e Correios, conforme confirmaram os
respectivos sindicatos. Além de Sindieletro-MG, Sindágua-MG e Sintect-MG.
“Quando a gente
analisa o que o governo está propondo sob a justificativa de ‘cortar
privilégio’, a gente percebe que os mais afetados serão os aposentados, as
pessoas que estão para se aposentar e aqueles que estão entrando no mercado de
trabalho. A nossa reivindicação é também pela questão da geração de empregos e
pela educação”, diz o secretário geral da CUT-MG, Jairo Nogueira.
O presidente do
Sindbel, Israel Arimar, acredita que, de modo geral, os trabalhadores são
contra a reforma da Previdência porque serão os mais prejudicados pelas regras
do texto— ainda que algumas questões tenham sido flexibilizadas no relatório do
deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), como a exclusão das mudanças na
aposentadoria rural e na idade mínima e tempo de contribuição para mulheres.
“Nos aspectos
sociais mais gerais, como a questão da redução do auxílio desemprego, a gente
entende que a reforma não é para acabar com os privilégios, mas o contrário. E
pelo viés do servidor municipal, um dos argumentos da reforma é o déficit, e
que o governo estaria gastando tudo o que arrecada com a Previdência, mas, por
exemplo, em BH a realidade não é esta. A folha de pagamento dos aposentados
corresponde a uma parcela muito pequena da arrecadação total”, comenta.
(Juliana Baêta)
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