Por que uma guerra com o Irã seria desafio para os EUA
Kersten Knipp (av)
© Imago/Mehrnews Agency Provided by Deutsche Welle
O porta-voz do Ministério iraniano do Exterior,
Abbas Mussawi, mostra-se seguro de si: seu país se defenderá de qualquer
ofensiva por parte dos Estados Unidos. "Não admitiremos nenhuma violação
das fronteiras do Irã. O Irã enfrentará de forma decidida toda agressão ou
ameaça da América", afirmou, segundo a agência de notícias semiestatal
iraniana Tasnim.
Essas palavras foram pronunciadas poucas horas
depois de o presidente americano, Donald Trump, suspender um ataque militar
contra o país asiático, alegando o possível número de mortes envolvidas. As 150
vítimas estimadas pelo Pentágono seriam "desproporcionais" como
retaliação ao abate de um drone não tripulado, escreveu o republicano no
Twitter.
A reação de Trump, assim como o abate da aeronave
anunciado por Teerã ou o até agora não esclarecido ato de sabotagem contra dois
navios comerciais no Golfo de Omã, em meados de junho, demonstram: o Irã é para
os EUA um adversário a ser levado a sério.
Levando unicamente em consideração as cifras, uma
guerra contra os iranianos não parece um grande desafio para Washington. O
Produto Interno Bruto dos americanos é 44 vezes superior ao do Irã; seus
arsenais armamentistas, quase 70 vezes maiores; eles possuem 15 vezes mais
aviões de combate do que seu potencial antagonista.
Além disso, a Aeronáutica iraniana é basicamente
antiquada, compondo-se, em grande parte, de modelos obsoletos de produção
americana, chinesa e soviética. Seus aviões F-14 foram fornecidos pelos EUA
ainda antes da revolução islâmica de 1979. No tocante à Marinha, a comparação é
também desigual: as sanções que já duram 40 anos mostram seus efeitos.
No entanto, o país possui um arsenal de mísseis de
precisão e de cruzeiro, e drones armados. Eles são fundamentalmente o que faz
de uma guerra contra o Irã um enorme desafio os EUA, pois, em caso de combate,
Teerã possivelmente não os mobilizaria apenas contra alvos civis na região, mas
também contra navios no Estreito de Ormuz.
© picture-alliance/US Air Force/Zumapress Drone que
Irã afirma ter abatido era do tipo RQ-4 Global Hawk
Em vez das forças de combate
regulares, as Guardas Revolucionárias Iranianas poderiam desempenhar um papel
importante. Segundo o especialista militar Theodore Karasik, num ensaio para o
jornal Arab News: "Elas podem ameaçar o tráfego marítimo no Golfo
Pérsico, no Golfo de Omã e no Mar Cáspio, com um rico arsenal armamentista,
como submarinos, torpedos inteligentes, minas controladas à distância ou
previamente instaladas, assim como mísseis antinavios estrategicamente
posicionados no continente, nas ilhas e em navios."
Completam o arsenal as embarcações comandadas
remotamente e de alta velocidade, torpedos submarinos e aeronaves não
tripuladas, podendo ser empregados em ofensivas contra navios-tanques,
embarcações de passageiros e instalações offshore. A mobilização de comandos
suicidas aumentaria ainda mais a eficiência dos ataques.
Especialmente perigosa seria a utilização dessas
armas como um "enxame", o qual, auxiliado por bombas de fragmentação,
colocaria fora de combate pelo menos partes das defesas inimigas. O Irã
poderia, ainda, danificar centrais de comando e comunicações através das
técnicas de combate eletrônico em permanente evolução, afirma Karasik.
Com tais ofensivas, é possível paralisar o
transporte petrolífero global pelo menos parcial e temporariamente, já que um
terço da produção total passa de navio pelo estreito entre o Irã e a Península
Árabe. Caso o Estreito de Ormuz deixasse de ser seguro, não só os EUA mas
muitos outros países sentiriam as consequências. Assim, seria proporcionalmente
alta a pressão sobre Washington para terminar a guerra rapidamente – ou sequer
começá-la.
Cabe também definir o que significa uma vitória
americana sobre o Irã. De fato, seria fácil para as Forças Aéreas dos EUA
destruírem aeronaves e navios de combate adversários, mas tal não representaria
uma grande conquista, pois os iranianos seguiriam dispondo de grande parte de
seu arsenal de mísseis, que continuariam dirigindo contra alvos não militares.
Os EUA seriam forçados a invadir, e para isso os militares iranianos vêm se
preparando há tempo.
Como aponta um estudo da RAND Corporation, o Irã
aposta numa "estrutura de defesa em mosaico" e uma guerra de
guerrilha. Isso "sujeitaria a numerosas ameaças uma tropa invasora
avançando em direção a Teerã, impossibilitando a ocupação do país".
Além disso, Teerã sabe que uma ofensiva de solo não
é uma opção popular nos EUA, enfatiza a firma comercial de consultoria 5 Stones
Intelligence, que também trabalha para o governo americano. Até por motivos
puramente econômicos, os Estados ocidentais não podem mais se permitir grandes
missões militares como a do Iraque ou Afeganistão. Por isso, o Irã procura
também enfraquecê-los economicamente através de práticas de guerra assimétrica.
Para além de suas fronteiras nacionais, Teerã
poderia empregar como seus representantes as milícias que apoia, embora
oficialmente elas combatam em interesse próprio. Um exemplo conhecido é a ação
do Hisbolá na Síria.
A 5 Stones Intelligence afirma que certas milícias
da Al Qaeda igualmente manteriam laços estreitos com o Irã, e que operações
jihadistas "aparentemente realizadas pela Al Qaeda são, na realidade,
planejadas e financiadas pelo Irã".
O secretário de Estado americano, Mike
Pompeo, também falou em maio de conexões entre o Irã e as milícias da Al Qaeda.
No entanto, segundo a revista Time, isso lhe rendeu desmentidos
veementes de altos funcionários nos departamentos de Estado e de Defesa. Um
oficial americano citado anonimamente admite haver tais ligações, "mas os
serviços de inteligência não dispõem de qualquer evidência de que ambos estejam
unidos numa grande aliança antiamericana".
Esse tipo de discussão pública igualmente convém ao
Irã, já que declarações ambivalentes também fazem parte de sua guerra
assimétrica: o inimigo não deve nunca saber o que esperar do outro lado.
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