Bolsonaro: Achavam que eu iria resolver os problemas no peito e na raça
Mauricio Lima e Policarpo Junior
Durante duas horas, o presidente Jair
Bolsonaro falou com exclusividade ao diretor de redação de VEJA, Mauricio
Lima, e ao redator-chefe Policarpo Junior sobre reformas, desemprego,
reeleição, os filhos, o amigo enrolado Fabrício Queiroz, o guru Olavo de
Carvalho, trapalhadas de ministros, Lula, o PT, sabotagens, tuitadas e o
atentado que sofreu durante a campanha, tema que, ao ser invocado, mudou
completamente o ritmo da conversa, a fisionomia e o humor do presidente.
Em uma das respostas, disse que as pessoas
acreditavam que ele resolveria os problemas do país “no peito e na raça”. “Não
é assim”, afirmou.
Leia um trecho da entrevista, que estará na edição
de VEJA que começa a circular nesta sexta-feira, 31.
O senhor já se acostumou com a função
de presidente da República?
Já consegui fazer aquilo que prometi durante a
campanha, coisa que eu desconheço que qualquer outro presidente tenha feito:
indicar um gabinete técnico, respeitar o Parlamento e cumprir o dispositivo
constitucional da independência dos Poderes. Agora, a pressão aqui é muito
grande, tem interesses dos mais variados possíveis, tem aquela palavra mágica
que a imprensa fala muito, governabilidade. Me acusam muitas vezes de não ter
governabilidade. Eu pergunto: o que é governabilidade? Nós mudamos o jeito de conduzir
os destinos do Brasil. Hoje, cinco meses depois, eu sinto que a maioria dos
parlamentares entendeu o que está acontecendo. Muitos apoiam a pauta do
governo. E esse apoio está vindo por amor à pátria, por assim dizer. A gente
não pode continuar fazendo a política como era até pouco tempo atrás. Estávamos
no caminho da Venezuela. Respondendo a sua pergunta, já passei noites sem
dormir, já chorei pra caramba também.
Por quê?
Angústia, né? Tá faltando o mínimo de
patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil. O pessoal não
está entendendo para onde o Brasil está indo. Não preciso dizer quem são essas
pessoas. Elas estão aí. Imaginava que ia ser difícil, mas não tão difícil
assim. Essa cadeira aqui é como se fosse criptonita para o Super-Homem. Mas é
uma missão, entendo que Deus me deu o milagre de estar vivo. Nenhum analista
político consegue explicar como eu cheguei aqui, mas cheguei e tenho de tocar
esse barco.
Como o senhor avalia a atuação da
bancada do PSL, o seu partido?
É um partido que foi criado, na verdade, em março
do ano passado e buscava pessoas, num trabalho hercúleo no Brasil. Então nós
fomos pegando qualquer um: “Quebra o galho, vem você, cara, vamos embora”. E
tem muita gente que entrou e acabou se elegendo com a estratégia que eu adotei
na internet. Só para ter uma ideia, o Major Olimpio, que estava em quarto em
São Paulo, passou a ser o primeiro e se elegeu senador. Eu falava: “Clica aqui.
Vote em um desses colegas nossos”. Teve muita gente que falou para mim: “Nossa,
eu não esperava me eleger”. Por isso o pessoal chegou aqui completamente
inexperiente, alguns achando que vou resolver o problema no peito e na raça.
Não é assim.
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