Guaidó convoca greve geral e Maduro diz que
opositor quer provocar guerra
Estadão Conteúdo
Juan Guaidó,
autoproclamado presidente interino da Venezuela, reapareceu nesta
quarta-feira, (1º), em Caracas durante a manifestação e convocou uma greve
progressiva na administração pública a partir desta quinta-feira, (2).
"Amanhã (hoje) começa a 'Operação Liberdade Sindical' rumo à greve geral
(...) Amanhã vamos acompanhar a proposta de greve escalonada", disse
Guaidó diante de mil pessoas que se concentraram em um dos pontos preparados
para o protesto contra o governo de Nicolás Maduro.
Embora Guaidó não
tenha se referido ao fracassado levante de terça-feira, (30), afirmou que
continuará convocando protestos até conseguir o fim da "usurpação",
que é a forma como se refere ao mandato de Maduro. Na Venezuela, as greves não
costumam ter o efeito desejado.
"Esperamos que
Bolsonaro nos ajude", afirmou o engenheiro eletrônico venezuelano, que
pediu para ser identificado somente como "Chicho", um dos
manifestantes que protestavam nesta quarta na Avenida San Juan de Bosco, altura
da Praça Altamira, um dos pontos de reunião de opositores ao governo. Durante
toda a tarde, Chicho e a irmã, dona de lavanderia em Las Mercedes, zona
comercial de Caracas, acompanharam a manifestação que foi reprimida com gás
lacrimogêneo, com avanço e recuo de policiais em motos e blindados.
No fim da tarde,
Maduro discursou para milhares de apoiadores em evento pelo Dia do Trabalho.
Ele acusou a oposição de querer "iniciar uma guerra civil", e voltou
a insinuar que os EUA poderiam ordenar uma invasão militar caso a tensão
interna escalasse para um conflito armado. "Se tivéssemos mandado tanques
para enfrentá-los (os manifestantes), o que teria acontecido? Um massacre entre
venezuelanos", afirmou Maduro. "É isso que a oposição quer? Uma
guerra civil entre compatriotas?". Enquanto Maduro discursava, Guaidó usou
as redes sociais para responder ao chavista: "O regime covarde trata de
demonstrar com repressão um controle que já não tem".
Maduro voltou a
chamar Guaidó e o opositor Leopoldo López de golpistas, e disse que os dois são
marionetes do presidente americano, Donald Trump. "Jamais haverá uma
marionete como presidente no Palácio de Miraflores", disse no discurso.
"Na Venezuela, a democracia existe de verdade. Aqui, só o povo põe, só o
povo tira."
Maduro celebrou o
que classificou de "vitória" contra "golpistas" nos
confrontos de terça-feira, felicitando seus apoiadores pelo "dia em que a
classe operária derrotou novamente um golpe de Estado" dos opositores.
"Não puderam com (o falecido líder venezuelano Hugo) Chávez e tampouco
puderam conosco", afirmou Maduro sobre o que disse ser um
"complô" da direita para derrubá-lo. "Eles esqueceram que há uma
poderosa união cívico-militar que não se enfraqueceu." Ele também prometeu
punir os "traidores".
Para Benigno
Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade Católica Andrés
Bello, a maior da Venezuela, Maduro está esperando o desgaste de Guaidó.
"Essa é uma aposta que o governo sempre fez. Apostar no desgaste do tempo.
E desta vez conta a favor dessa estratégia as ameaças feitas pelos EUA caso
algo aconteça a Guaidó". "Por isso o governo tem evitado tomar
medidas como tomou no passado, quando prendeu líderes da oposição."
Uma mulher de 27
anos, identificada como Jurubith Rausseo, morreu no hospital após ser atingida
por um tiro na cabeça durante os protestos em Caracas. Segundo fontes médicas,
ao menos 46 pessoas ficaram feridas nas manifestações que ocorreram nesta
quarta em várias partes do país. Em Caracas, os confrontos começaram quando
dezenas de opositores tentaram bloquear uma rodovia e lançaram pedras e
coquetéis molotov contra a base aérea, onde militares se rebelaram na
terça-feira contra Maduro.
Na avenida próxima à
Praça Altamira, onde se concentram os protestos, a empresária de lavanderia,
que também não quis se identificar, gritava: "Até quando vamos com isso?
Isso aqui é perigoso, senhor. Não estamos num país normal", afirmou ao
saber da reportagem para o jornal O Estado de S. Paulo. "Como disse
meu irmão, esperamos que Bolsonaro nos ajude a sair disso. É um absurdo o que
estamos vivendo."
A manifestante disse
ainda, durante uma das ondas de correria por causa das bombas de gás e
estampidos de tiros, que "não são venezuelanos que estão fazendo esses
ataques às pessoas", e emendou "isso deve ser cubano",
argumentando que "venezuelanos não têm essa índole de atacar o próprio
povo".
No quarteirão logo
abaixo, um grupo de jovens, com os rostos cobertos reunia pedras e coquetéis
molotov para investidas periódicas contra o comboio policial que tentava
desobstruir a via. Os mascarados comemoravam a cada fogaréu que se erguia dos
blindados atingidos.
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