Procurador diz que Trump não sai isento da investigação sobre a Rússia
O procurador especial dos Estados
Unidos, Robert Mueller, afirmou nesta quarta-feira, 29, que seu
relatório da investigação de um suposto conluio da campanha eleitoral de Donald Trump com a Rússia, em 2016, não
exonerou o presidente de responder por crimes. Disse, contudo, que a
Constituição do país o impede de fazer qualquer acusação formal contra o
republicano.
“Se tivéssemos a confiança de que o presidente não
cometeu um crime, nós teríamos dito isso”, afirmou Mueller em seu primeiro
pronunciamento desde que começou, há dois anos, a apuração sobre as
interferências de Moscou nas eleições americanas de 2016.
“Acusar o presidente por um crime… não era uma
opção que podíamos considerar”, disse ele a repórteres. “Concluímos que não poderíamos
chegar a uma determinação nem de um jeito nem de outro sobre o presidente ter
cometido um crime.”
Mueller disse que o relatório escrito “fala por si
só” e que o escritório especial para a apuração do caso será oficialmente
fechado. Com isso, ele também anunciou sua renúncia do Departamento de Justiça.
“Sob a política do Departamento [de Justiça], um
presidente não pode ser acusado de um crime federal enquanto estiver no cargo”,
disse. “Isso é inconstitucional”, frisou.
O procurador afirmou ainda que não acha adequado
falar mais sobre o caso à imprensa, por isso não aceitaria perguntas dos
jornalistas. Mueller já ocupou anteriormente o comando do FBI.
O relatório da investigação sobre a interferência
russa nas eleições presidenciais de 2016 foi concluído em março, após uma
investigação de 20 meses.
“Espero que esta seja a última vez que eu fale
sobre este assunto”, disse ele. “Eu mesmo estou tomando essa decisão – ninguém
me disse se posso ou se devo testemunhar ou falar mais sobre esse assunto”,
completou.
Mueller terminou sua declaração, reiterando “que
houve esforços múltiplos e sistemáticos para interferir em nossas eleições” e
que “essa alegação merece a atenção de todos os americanos”. Trata-se
exatamente do tópico que os congressistas democratas insistem em investigar,
com base no texto integral do relatório.
Reação do presidente
Logo após a conclusão do pronunciamento do
procurador, o presidente Donald Trump reagiu afirmando que nada mudou e que “o
caso está encerrado”.
“Havia evidência insuficiente e, portanto, no nosso
país, uma pessoa é inocente”, disse Trump em uma publicação no Twitter. “O caso
está encerrado.”
Repercussão da
investigação
O mais esperado relatório sobre a interferência
da Rússia na eleição presidencial de 2016 chegou às mãos do
secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, em 22 de maio.
No documento, Mueller detalhou que Trump fez
diversas tentativas de interferir na sua investigação e chegou, inclusive, a
tentar demiti-lo de seu posto. Não concluiu, contudo, se as ações seriam
suficientes para acusar Trump criminalmente por obstrução de justiça.
A investigação resultou também em acusações contra
32 indivíduos e três empresas russas, que respondem por ataques de hackers a
computadores do Partido Democrata e por crimes financeiros, entre outros
delitos.
Após receber o relatório, Barr divulgou um sumário
de quatro páginas com suas próprias e seletivas conclusões. Três semanas
depois, tornou público o relatório completo de 448 páginas público, a pedido do
Congresso.
Em seu parecer, o secretário de Justiça também
afirmou não ter encontrado provas de conluio com a Rússia durante a campanha
eleitoral de Trump. Quanto ao crime de obstrução de Justiça, Barr citou as
palavras de Mueller: “este relatório não conclui que o presidente cometeu um
crime, tampouco o isenta.”
Membros do Partido Democrata criticaram Barr por
sua decisão e exigiram que o relatório completo de Mueller fosse publicado.
Mesmo após sua revelação, convocaram o titular da pasta de Justiça a depor no
Comitê Judiciário do Senado em 1º de maio. Ali, ele foi criticado por atuar
como “o advogado do presidente” e por ser “parcial”. Alguns congressistas
pediram, inclusive, sua renúncia.
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