segunda-feira, 1 de abril de 2019

MILITARES BRASILEIROS QUEREM PRILIVILÉGIOS NA REFORMA DA PREVIDÊNCIA


É hora de ajustarmos o rombo, não de rever carreiras

Tiago Mitraud












Na última quarta-feira, dia 20, recebemos na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1645/2019 elaborado pelo governo federal, que propõe alterações na proteção social dos militares, como é chamada a previdência das Forças Armadas. O projeto era aguardado desde 20 de fevereiro, quando o governo entregou a PEC com as principais medidas para a Nova Previdência brasileira.
Nossa expectativa era de uma contribuição significativa vinda também da classe dos militares para a previdência. A urgência em lidar com o déficit do sistema previdenciário, estimado em quase R$ 300 bilhões apenas para 2019, justifica a necessidade de uma reforma profunda e abrangente, envolvendo toda a sociedade. No entanto, não foi isso que encontramos no texto do projeto de lei.
O principal problema da proposta é que, ao contrário de nossa expectativa, ela não trata somente da previdência das Forças Armadas, mas principalmente da reestruturação da carreira militar. Por mais que mudanças nesta carreira possam ser meritórias, este não é o momento e esta não é a forma de fazê-las. Nosso maior desafio atual como país é o ajuste fiscal, portanto as alterações na proteção social não podem aparecer apenas de maneira acessória.
Ao fazer a conta na ponta do lápis, as economias geradas na previdência dos militares seriam praticamente eliminadas com as mudanças nas carreiras. Os ganhos financeiros são de R$ 97,3 bilhões, mas o aumento dos gastos com a reestruturação da carreira chega aos R$ 86,8 bi ao longo de 10 anos. Assim, sobra apenas uma economia de R$ 10,5 bilhões, o que representa apenas 1% da meta de R$ 1 trilhão de economia do ministro Paulo Guedes.
Outro ponto controverso da proposta é que ela mantém para a categoria os benefícios da integralidade do último salário e paridade entre ativos e inativos. Essa é uma medida irresponsável fiscalmente, que inclusive já foi eliminada do restante do serviço público na reforma de 2003.
Não podemos aceitar que a reforma do regime previdenciário dos militares funcione como moeda de troca para a reestruturação de carreira. Guardar um “assento especial” a uma categoria específica pode abrir o precedente para que se faça o mesmo para as demais, que também possuem suas próprias exigências - legítimas ou não.
Sigo na defesa de uma Nova Previdência. No entanto, quero uma reforma abrangente, justa com todos, sem privilégios e que entregue uma economia significativa para nosso falido sistema previdenciário. Só assim vamos garantir que a previdência brasileira seja mais sustentável a longo prazo.


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