Lições do tempo
Manoel Hygino
Que país é este? A
pergunta - segundo o embaixador Alves de Souza - não foi formulada por De
Gaulle. Mas o quesito fica para resposta futura. No último 22 de fevereiro, os
jornais de Belo Horizonte registravam que, no dia anterior, cerca de dois mil
policiais militares, civis e agentes penitenciários, no início da noite,
fecharam a rodovia MG 10 em protesto contra o pagamento do 13º salário em 11
parcelas e, simultaneamente, pela retomada pelo governo de Minas dos repasses
ao Instituto de Previdência dos Servidores Militares. O chefe do Executivo
apresentou nova proposta, rejeitada pelos policiais e agentes, que liberaram a
rodovia, mas com promessa de novas manifestações.
A expectativa era
grande e aconteceu o que se aguardava, pois - há muito - o funcionalismo
mineiro anda de pires na mão para receber o que lhe é devido. Novidade? A
situação financeira do Brasil, em 1919, por exemplo, era igualmente dolorosa, e
a nação toda reclamava. O presidente Epitácio Pessoa fez um depoimento grave:
“Quando assumi o governo, em 1919 (e está fazendo exatamente agora cem anos)
era tal o estado do Tesouro que, ao aproximar-se o fim do primeiro mês,
verifiquei com terror que não tinha como pagar a tropa e o funcionalismo
público”.
Nelson Werneck Sodré
comenta, aliás, que a terceira década do século XX foi a do tenentismo e
assinala o início da derrocada da velha estrutura econômica, aquela que, apesar
da Abolição e da República, era simples continuação da que ocorrera na fase
colonial.
Só isso? E depois? E
agora?
Observa-se que, a despeito de tudo, não se resolveram ainda problemas essenciais, e não vai nisso pessimismo. Basta fixar-se um pouco nas questões que nos afligem, transformadas em desafios, apesar da evolução em muitos setores da vida brasileira.
Observa-se que, a despeito de tudo, não se resolveram ainda problemas essenciais, e não vai nisso pessimismo. Basta fixar-se um pouco nas questões que nos afligem, transformadas em desafios, apesar da evolução em muitos setores da vida brasileira.
Para se entender,
hoje, o caso da Vale e de seu imenso poder em um estado vocacionado à produção
e exportação de minério, ter-se-ia obrigatoriamente de voltar às primeiras
décadas do século XX, quando se celebrou o contrato entre a União e a Itabira
Iron Ore Co. Muito em divisas vieram e vêm para Minas Gerais, mas faltou - no
decorrer do tempo - o cuidado em preservar o território, físico, e vidas
humanas. Deu no que está aí, e que ora deploramos.
Aliás, poder-se-ia
lembrar e refletir sobre Minas Gerais com tanta riqueza e sem recursos para
pagar funcionários. O excelente Eduardo Frieiro comentou, com muita
propriedade, voltando mais ao passado: “Nos primeiros tempos das
descobertas, o ouro brotava em fabulosa abundância, primeiro à flor dos
córregos, em lavras de aluvião, fáceis de explorar, e depois em filões e
assentadas minerais, que pediam trabalhos mais penosos. O morro do Ouro Preto e
o Ribeirão do Carmo, onde se encontravam as mais dadivosas lavras, povoaram-se
rapidamente com os milhares de aventureiros que acorriam de todas as partes do
Brasil e do Reino. Todos eram movidos por um só pensamento: enriquecer depressa
e regressar às suas terras de origem.
E depois, como era
fácil ganhar e mais fácil ainda gastar, despendia-se tudo por aqui mesmo. Que
se apurou, afinal, de tanta fartura, capaz de aplacar a mais veemente
auricídia? Nada mais que uma crise de calamidades: anarquia, desordens,
violências, miséria e fome.
Refletir não custa.
Refletir não custa.
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