Número de
mortos chega a 214 em Brumadinho; 91 ainda estão desaparecidos
Mariana Durães*
O número de
mortes confirmadas após o rompimento da barragem da Vale
em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, chegou a 214. A
atualização foi divulgada nesta segunda-feira (25) pela Defesa Civil. Dois
meses após a tragédia, 91 pessoas permanecem desaparecidas.
O trabalho dos
bombeiros no cenário da tragédia não tem data para acabar. Até agora, já
são mais de 964 horas de buscas incansáveis para tentar amenizar a angústia das
famílias. A operação de resgate é a maior da história de Minas Gerais. Nos 60
dias de trabalho, são cerca de 1.800 oficiais mineiros e de outros 11 estados
envolvidos.
Diariamente, a média
é de 150 militares atuando na área varrida pela lama. Doze cães farejadores
ajudam e foram responsáveis por 80% dos resgates.
Nesta segunda, 129
bombeiros participam das buscas em 23 frentes de trabalho. Quase 80 máquinas
pesadas apoiam os trabalhos. Hoje, no entanto, os cachorros não estarão em
campo. A varredura se concentra nas próximidades de onde será construído o
primeiro dique de contenção dos rejeitos, além de remanejamento da lama da áre
de descarte 2 para a descarte 1.
No dia 25 de
janeiro, a barragem na Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, se rompeu.
Foram atingidos a área operacional, administrativa, o refeitório da mina, uma
conhecida pousada da região, o bairro Parque da Cachoeira e o Rio Paraopeba.
* Com Simon
Nascimento
Nesta segunda-feira
(25), quando os ponteiros dos relógios marcarem 12h28, completam-se 1.440 horas
do colapso da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. Um tempo
arrastado, mas que dá a medida exata da saudade de quem perdeu amigos e
parentes na tragédia. E que anuncia uma dor que vai atravessar a eternidade.
Com 212 mortos
e 93 vítimas ainda desaparecidas sob o mar de lama, o trabalho heróico dos
bombeiros no cenário da tragédia não tem data para acabar. Até agora, já são
pelo menos 964 horas de buscas incansáveis para tentar amenizar a angústia das
famílias.
É um consolo
paliativo. Sem remédio capaz de curar o vazio no peito, parentes de quem perdeu
a vida no desastre relatam dificuldades para dormir, trabalhar, se alimentar e
seguir adiante. “A esperança é encontrar nem que seja só um pedaço do corpo.
Eles não podem deixar meu pai lá”, desabafa Adilson Lopes da Silva, de 35 anos,
morador do Córrego do Feijão. O pai dele, Levir Gonçalves da Silva, de 59, era
empregado de uma rede ferroviária que prestava serviços à Vale.
No momento do
colapso na barragem, Levir estava próximo aos vagões que apareceram em um vídeo
sendo carregados e retorcidos pela avalanche de lama. Funcionário da empresa há
15 anos, o hobby do pai de Adilson era a pesca. “Na quinta-feira, um dia antes
da catástrofe, a gente ia pescar junto, mas ele não conseguiu ir porque estava
cansado. Na volta, passei na casa dele e a gente conversou por um bom tempo”,
lembrou. Foi o último contato com o pai.
Diferentemente de
Adilson, a viúva Zulma Pires, de 39 anos, conseguiu enterrar o marido Ângelo
Gabriel Lemos, de 57. Ex-motorista de uma empresa que prestava serviços à
mineradora, o corpo do trabalhador foi localizado seis dias após a tragédia.
Com o adeus, Zulma
passou a ser arrimo da família, formada, ainda, pelos dois filhos de 21 e 23
anos. “Estou vivendo um luto na luta. Minha filha está sem estudar porque não
consigo pagar o valor da mensalidade e ela perdeu o prazo de renovação do
contrato em meio à calamidade”, lamentou.
A doação de R$ 100
mil feita pela mineradora aos familiares das vítimas é um desrespeito, na
opinião de Zulma. “É uma forma de calar nossa boca. Quero que os culpados pela
tragédia sejam responsabilizados e que nossos direitos sejam respeitados”,
pontua.
Mãe de Helbert
Vilhena, de 32 anos, que trabalhava como técnico de informática da Vale, Maria
da Glória, de 55, lembra que o filho havia comentado sobre os riscos da
barragem. “Eles estavam cientes. Os funcionários sabiam que não estava segura.
Meu filho estava preocupado e até se inscreveu para um processo seletivo em
outra empresa. Perdi o que tinha de mais importante na minha vida”, conta.
Promotor do
Ministério Público de Minas Gerais e integrante da força-tarefa que investiga o
rompimento da estrutura, André Sperling diz que a companhia tem colocado
empecilhos para pagar as indenizações aos atingidos.
“Eles alegam ser
muita gente, que há dificuldade para pagar a dívida dos agricultores. Mas se
deram conta de fazer o desastre, de ceifar a vida de centenas de pessoas, então
precisam arcar com a reparação. É o mínimo”, ressalta.
A Vale informou que
o atendimento de registro para pagamento das indenizações emergenciais de
moradores de Brumadinho e municípios atingidos começa hoje e termina em 29 de
abril. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo 0800 888 1182.
Operação de resgate
é a maior da história de Minas Gerais
A operação de busca
às vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho é a maior realizada
pelo Corpo de Bombeiros de Minas em toda a história. São 60 dias de trabalho,
com cerca de 1.800 oficiais mineiros e de outros 11 estados envolvidos.
Diariamente, a média
é de 150 militares atuando na área varrida pela lama. Doze cães farejadores
ajudam nos trabalhos. Os cachorros, inclusive, foram responsáveis por 80% dos
resgates.
Segundo o porta-voz
da corporação, tenente Pedro Aihara, ainda que se trate de uma situação
catastrófica, o legado após o término dos trabalhos de busca será positivo.
Para o oficial de 26 anos, que se destacou pela serenidade ao atualizar os
boletins, as operações em Mariana, em 2015, e agora em Brumadinho credenciam o
Corpo de Bombeiros do Estado a ser uma referência internacional no resgate de
vítimas de desastres ambientais.
“Antes da tragédia
da Samarco a gente já tinha uma capacitação grande porque a atividade de
mineração no Estado é intensa. Essas técnicas se intensificaram em Brumadinho e
avalio que tivemos muito sucesso até agora”, afirmou o tenente.
Conforme Aihara,
outro legado relevante da operação em Brumadinho foi o uso da tecnologia e a
integração de trabalho com universidades, militares de outros estados e forças
de segurança de Israel. "Foi um esforço muito bonito de se ver. Sempre há
espaços para melhoria e investimentos tecnológicos. Tudo que chegar será bem
recebido e colocado a serviço da população”, destaca.
Uma das maiores
dificuldades durante os dois meses de trabalho em Brumadinho foram as fake
news, revela o tenente. Os boatos falavam de rompimento de novas barragens e,
até mesmo, do encerramento das buscas. “Brincar em uma tragédia como esta é
ferir a esperança das famílias. Lamentável que a crueldade humana tenha chegado
a esse nível”, critica.
Os primeiros dias de
buscas foram os mais desgastantes. Aihara diz que ficou até cinco dias sem
dormir e sem se alimentar direito devido à dinâmica da operação. “É inerente à
profissão. Não tem cansaço que se compare à dor dessas famílias. Então farei o
que estiver ao meu alcance para trazer conforto e tranquilidade aos
familiares”, garante.
Ainda não há
previsão para o término das buscas. O que pode ocorrer, conforme o porta-voz
dos bombeiros, é uma diminuição no efetivo de militares nas próximas semanas.
Em nota, a Vale
informou que fará um aporte de R$ 20 milhões para o Corpo de Bombeiros de Minas
Gerais.

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