Como e por que
Juan Guaidó declarou-se presidente interino da Venezuela
Estadão Conteúdo
Juan Guaidó falou em transição pacífica e ofereceu anistia a chavistas
descontentes com Maduro, tanto no Exército quanto na burocracia estatal
É a terceira vez em
cinco anos que a oposição venezuelana sai às ruas contra o presidente Nicolás
Maduro. Em 2014 e 2017, após repressão e dezenas de mortes nas ruas, o chavismo
conseguiu debelar as manifestações e desarticular a força política da oposição.
Desta vez, sob nova liderança, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) se
reorganizou interna e externamente para tentar tirar o chavismo do poder. Mas
como e por que isso está acontecendo agora? E quais as chances de, desta vez, a
oposição sair vitoriosa?
Depois dos protestos de 2017, convocados para pressionar pela realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro e que deixaram 165 mortos, a oposição ficou bastante enfraquecida e dividida. Os partidos que compõem a MUD - que nunca foram coesos - se dividiram sob qual rumo tomar depois que Maduro convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para substituir, na prática, o Parlamento de maioria opositora.
Fortalecido pela desmobilização opositora, o chavismo ampliou a perseguição a líderes da MUD. Alguns, como Julio Borges e Antonio Ledezma e David Smolansky, deixaram a Venezuela. Leopoldo López seguiu preso. Henrique Capriles perdeu os direitos políticos.
Agravamento da crise econômica
Ao mesmo tempo, no campo econômico, a crise se agravou com a imposição de sanções americanas às fontes de financiamento da Venezuela, o que, na prática, dificultou a exportação de petróleo e o refinanciamento e pagamento da dívida externa. Com isso, a hiperinflação saiu de controle, chegando em 2018 a 1 milhão por cento, segundo o FMI.
A escassez de alimentos e remédios ficou mais grave e se somou à deterioração da infraestrutura de serviços básicos, como água, luz e gás. Sem dinheiro em caixa para quase nada, o chavismo deixou às moscas a manutenção das empresas estatais que cuidam desses fornecimentos.
O maior problema diário dos venezuelanos se transformou em comer. Segundo a FAO, a fome no país triplicou entre 2016 e 2018. Com dificuldade de ter dinheiro para comprar alimentos cada vez mais escassos, o governo criou uma alternativa: o Carnê de la Pátria (Clap).
Documento universal, usado para retirada de alimentos de cesta básica importados de países como a Turquia, o Clap também é usado para registrar eleitores em processos eleitorais, o que, segundo a oposição, configura um mecanismo de fraude eleitoral.
Dividida, MUD vê novas lideranças surgirem
Ao entrar em 2018, Maduro decidiu antecipar as eleições para o primeiro semestre, temendo que o agravamento da crise pudesse deteriorar ainda mais seu apoio nas bases chavistas. Com isso, o governo conseguiu dividir a MUD. Enquanto a maioria dos partidos optou por boicotar a votação - caso de Capriles, López e Maria Corina Machado- a oposição menos radical, do ex-presidente da Assembleia Nacional Henry Ramos Allup, e do chavista dissidente Henri Falcón optaram por participar do processo. Maduro foi reeleito em maio.
Na virada do ano, com as principais lideranças opositoras presas ou no exílio, coube a um nome desconhecido do grande público assumir o comando da Assembleia Nacional - que, até então continua existindo formalmente, mas sem poderes reais. Juan Guaidó, de 35 anos, é deputado do Voluntad Popular, partido de López. Coube a ele liderar um novo plano, gestado, segundo analistas, tanto fora quanto dentro da Venezuela.
"Enquanto a oposição dentro da Venezuela é mais jovem e tenta encontrar canais para uma transição, a que está fora busca apoio internacional contra o chavismo", explica Luis Vicente León, do Instituto Datanalisis.
Dentro da Venezuela, Guaidó mudou o discurso tradicional dos opositores tradicionais, centrado no antagonismo ao chavismo. Falou em transição pacífica e ofereceu anistia a chavistas descontentes com Maduro, tanto no Exército quanto na burocracia estatal. Com a crise, principalmente o baixo oficialato e funcionários de menor poder aquisitivo passaram a sofrer com a escassez e a falta de serviços básicos.
Crise afeta as bases chavistas
Além disso, como nota o especialista em Venezuela do Washington Office on Latin American Affairs, David Smilde, a população tradicionalmente chavista começou a sentir para valer a crise. Não tanto pela falta de alimentos, subsidiada pelo Clap, mas com os cortes quase diários de luz, gás e água.
"O grande desafio de Guaidó é unir essa parcela da população à massa de classe média que tradicionalmente marcha com a oposição", diz Smilde.
Depois dos protestos de 2017, convocados para pressionar pela realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro e que deixaram 165 mortos, a oposição ficou bastante enfraquecida e dividida. Os partidos que compõem a MUD - que nunca foram coesos - se dividiram sob qual rumo tomar depois que Maduro convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para substituir, na prática, o Parlamento de maioria opositora.
Fortalecido pela desmobilização opositora, o chavismo ampliou a perseguição a líderes da MUD. Alguns, como Julio Borges e Antonio Ledezma e David Smolansky, deixaram a Venezuela. Leopoldo López seguiu preso. Henrique Capriles perdeu os direitos políticos.
Agravamento da crise econômica
Ao mesmo tempo, no campo econômico, a crise se agravou com a imposição de sanções americanas às fontes de financiamento da Venezuela, o que, na prática, dificultou a exportação de petróleo e o refinanciamento e pagamento da dívida externa. Com isso, a hiperinflação saiu de controle, chegando em 2018 a 1 milhão por cento, segundo o FMI.
A escassez de alimentos e remédios ficou mais grave e se somou à deterioração da infraestrutura de serviços básicos, como água, luz e gás. Sem dinheiro em caixa para quase nada, o chavismo deixou às moscas a manutenção das empresas estatais que cuidam desses fornecimentos.
O maior problema diário dos venezuelanos se transformou em comer. Segundo a FAO, a fome no país triplicou entre 2016 e 2018. Com dificuldade de ter dinheiro para comprar alimentos cada vez mais escassos, o governo criou uma alternativa: o Carnê de la Pátria (Clap).
Documento universal, usado para retirada de alimentos de cesta básica importados de países como a Turquia, o Clap também é usado para registrar eleitores em processos eleitorais, o que, segundo a oposição, configura um mecanismo de fraude eleitoral.
Dividida, MUD vê novas lideranças surgirem
Ao entrar em 2018, Maduro decidiu antecipar as eleições para o primeiro semestre, temendo que o agravamento da crise pudesse deteriorar ainda mais seu apoio nas bases chavistas. Com isso, o governo conseguiu dividir a MUD. Enquanto a maioria dos partidos optou por boicotar a votação - caso de Capriles, López e Maria Corina Machado- a oposição menos radical, do ex-presidente da Assembleia Nacional Henry Ramos Allup, e do chavista dissidente Henri Falcón optaram por participar do processo. Maduro foi reeleito em maio.
Na virada do ano, com as principais lideranças opositoras presas ou no exílio, coube a um nome desconhecido do grande público assumir o comando da Assembleia Nacional - que, até então continua existindo formalmente, mas sem poderes reais. Juan Guaidó, de 35 anos, é deputado do Voluntad Popular, partido de López. Coube a ele liderar um novo plano, gestado, segundo analistas, tanto fora quanto dentro da Venezuela.
"Enquanto a oposição dentro da Venezuela é mais jovem e tenta encontrar canais para uma transição, a que está fora busca apoio internacional contra o chavismo", explica Luis Vicente León, do Instituto Datanalisis.
Dentro da Venezuela, Guaidó mudou o discurso tradicional dos opositores tradicionais, centrado no antagonismo ao chavismo. Falou em transição pacífica e ofereceu anistia a chavistas descontentes com Maduro, tanto no Exército quanto na burocracia estatal. Com a crise, principalmente o baixo oficialato e funcionários de menor poder aquisitivo passaram a sofrer com a escassez e a falta de serviços básicos.
Crise afeta as bases chavistas
Além disso, como nota o especialista em Venezuela do Washington Office on Latin American Affairs, David Smilde, a população tradicionalmente chavista começou a sentir para valer a crise. Não tanto pela falta de alimentos, subsidiada pelo Clap, mas com os cortes quase diários de luz, gás e água.
"O grande desafio de Guaidó é unir essa parcela da população à massa de classe média que tradicionalmente marcha com a oposição", diz Smilde.
Comandantes
militares de várias regiões da Venezuela vieram a público, na manhã desta
quinta-feira (24), para jurar lealdade ao presidente Nicolás Maduro,
que reconhecem como chefe em exercício constitucionalmente eleito. Até a
publicação desta reportagem, ao menos sete comandantes já tinham se
pronunciado. Ao falar, cada um deles estava cercado por subordinados – alguns,
por centenas de militares.
“Juramos lealdade à
pátria, à Constituição e às leis da República”, disse o general Manuel Gregório
Bernal Martínez, comandante da região que reúne os estados de Mérida, Táchira e
Trujillo.
“Somos um país
soberano, com autodeterminação. Somos um país democrático cujo presidente é
eleito apenas por seu povo, que é soberano em relação às decisões do destino de
nossa pátria e, por meio do voto livre e secreto, elegeu o cidadão Nicolás
Maduro Moros como presidente”, acrescentou o general.
“Ratificamos nosso
irrestrito apego à Constituição e às leis da República venezuelana. Rechaçamos
categoricamente todo o tipo de ato ilegal adverso à vontade do povo soberano e
a qualquer ato que atente contra a instabilidade da Nação”, destacou o general
Víctor Palacio García, comandante da região de Los Llanos, que compreende os
estados de Apure, Barinas, Portuguesa e Guarico.
García
ressaltou que as Forças Armadas da Venezuela se fundamentam em três
pilares: a obediência, a disciplina e a subordinação. "Por isso, honrando
a tradição de nossa instituição, somos a garantia de estabilidade,
independência, soberania e paz. Neste sentido, só reconhecemos e ratificamos
lealdade absoluta ao presidente constitucional Nicolás Maduro Moros”,
acrescentou.
O comandante da
Região Estratégica de Defesa Integral Central, que abarca os estados de Aragua,
Carabobo e Yaracuy, Domingo Hernández Lárez, também se pronunciou
cercado por soldados, suboficiais e oficiais. Afirmando falar em nome dos “mais
de 247 mil homens e mulheres do Exército, Armada, Aviação, Guarda Nacional e
Milícias Bolivarianas pertencentes ao território sob seu comando”, Lárez disse
que os militares “fiéis a suas convicções e juramento de fidelidade” proclamam
lealdade e subordinação absoluta a Maduro. “Eleito pelo povo, é ele o único que
ostenta o mando direto e supremo da Força Armada Nacional Bolivariana. Meu
comandante, conte com esta região para apoiá-lo em seu esforço diário para
lograr a estabilidade e o fortalecimento de nossa pátria.”
No mesmo tom,
pronunciou-se o general Jesús Mantilla Olivero, comandante da região de
Guayana (Amazonas, Bolívar e Delta Amacuro). Olivero ratificou “o compromisso,
lealdade e subordinação ao presidente constitucional Nicolás Maduro”.
O Kremlin classificou a
crise política na Venezuela como uma tentativa de golpe e expressou a
preocupação com sugestões de possível intervenção militar estrangeira no país.
A Rússia é uma aliada chave do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que
assumiu o segundo mandato no início deste mês. O opositor Juan Guaidó se
autointitulou presidente interino da Venezuela diante de milhares de
manifestantes em Caracas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou o anúncio de Guaidó e afirmou que isso foi "uma tentativa de usurpar o poder" que viola a lei internacional. Ele também afirmou que o Kremlin estava preocupado com declarações de "nações estrangeiras" que "não excluem a possibilidade de intervenção estrangeira".
Questionado se a Rússia estaria disposta a conceder asilo a Maduro, Peskov comentou que o presidente venezuelano é o líder legítimo do país. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia, em comunicado divulgado nesta quinta-feira (24), afirmou que a crise venezuelana "chegou a um ponto perigoso" e pediu à comunidade internacional que atue na mediação entre o governo e a oposição.
A Rússia não é a única a demonstrar apoio a Maduro. A China e a Turquia também já declararam estar ao lado do presidente venezuelano. De acordo com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, Ancara se opõe a tentativas de golpe onde quer que elas ocorram. O porta-voz de Erdogan também afirmou que o líder turco conversou com Maduro e disse a ele que ficasse "firme".
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou o anúncio de Guaidó e afirmou que isso foi "uma tentativa de usurpar o poder" que viola a lei internacional. Ele também afirmou que o Kremlin estava preocupado com declarações de "nações estrangeiras" que "não excluem a possibilidade de intervenção estrangeira".
Questionado se a Rússia estaria disposta a conceder asilo a Maduro, Peskov comentou que o presidente venezuelano é o líder legítimo do país. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia, em comunicado divulgado nesta quinta-feira (24), afirmou que a crise venezuelana "chegou a um ponto perigoso" e pediu à comunidade internacional que atue na mediação entre o governo e a oposição.
A Rússia não é a única a demonstrar apoio a Maduro. A China e a Turquia também já declararam estar ao lado do presidente venezuelano. De acordo com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, Ancara se opõe a tentativas de golpe onde quer que elas ocorram. O porta-voz de Erdogan também afirmou que o líder turco conversou com Maduro e disse a ele que ficasse "firme".
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