Mágoa, ressentimento e perdão
Simone
Demolinari
O nosso convívio é,
muitas vezes, marcado por desentendimentos e conflitos. Cada vez que nos
sentimos decepcionados ou ofendidos por determinadas posturas vindas de pessoas
que amamos, aflora em nós sentimento de tristeza. É como se tivéssemos sido
traídos.
Em muitos casos,
sobretudo aqueles que não são bem conversados e esclarecidos, essa tristeza
pode evoluir para algo pior, uma mágoa profunda.
Um indivíduo se torna mais ou menos sensível a esse sentimento, quantas vezes mais ele os vivenciar. Ou seja, quanto mais machucado, mais frágil.
Um indivíduo se torna mais ou menos sensível a esse sentimento, quantas vezes mais ele os vivenciar. Ou seja, quanto mais machucado, mais frágil.
Isso porque nossa
memória emocional armazena principalmente as experiências ruins numa “gaveta”
mental, e, a cada novo golpe, essa gaveta é aberta e todas as mágoas anteriores
são reeditadas. Devemos ter a capacidade de levantar dos nossos tombos, porém é
igualmente importante tentar não cair. Isso faz toda a diferença.
Um subproduto da
mágoa é o ressentimento. Nem sempre ele ocorre, mas dependendo do traço de
personalidade de uma pessoa, ela não consegue sublimar o ocorrido e fica
“ruminando” mentalmente, nutrindo sentimentos ruins em relação ao ocorrido.
Em meio a tudo isso,
tem o perdão. Um sentimento difícil, mas aliviante para quem o pratica. Perdoar
significa deixar a mágoa para trás e seguir em frente. Não há mais
ressentimento, nem cobrança. É como abrir mão do pagamento de uma dívida.
Mas não é fácil.
Como diz o ditado: “quem bate esquece, quem apanha, não”. A ferida sentida em
quem apanhou nunca será percebida da mesma forma por quem a provocou. Nem
sempre um pedido de desculpa ressarce o dano. Uma quebra de confiança, por
exemplo, é uma mácula difícil de ser apagada. Mas isso não significa que não
possa ser perdoada e reconstruída. No entanto, para isso, é preciso a
contribuição de todos, principalmente de quem errou, pois o perdão é uma via de
mão dupla: quem foi ferido deve querer perdoar e quem feriu precisa ter o
“comportamento dos arrependidos”.
Há aqueles que se
sentem verdadeiramente arrependidos, são bem intencionados e fazem de tudo para
não repetir a postura que magoa – a maioria das vezes conseguem. Porém, há quem
se arrepende superficialmente, um arrependimento estratégico que visa não
perder confortos ou regalias. Estes costumam teatralizar um remorso que não
sentem, às vezes choram ou até se humilham em busca do perdão, mas não mudam,
pois no fundo acreditam que merecem ser desculpados de todos os erros.
É comum pessoas com
dificuldade de perdoar serem mal vistas ou chamadas de “frias” por parte de
quem deseja o perdão. Mas isso é um equívoco. A incapacidade de perdoar
aprisiona, mas não torna ninguém ruim, afinal, se há alguém ferido é porque
existe um agressor. E este sim, foi quem causou o dano. Porém, quem não perdoa,
acaba guardando tudo de mal que lhe ocorreu e costuma se tornar uma pessoa mais
irritadiça e revoltada. Já aqueles que perdoam, sentem-se mais felizes e
livres.
Mas, convém lembrar:
perdoar não é esquecer e sim conseguir transformar aquilo que nos magoou numa
memória “fria”, desprovida de sentimentos.
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