Era do robô
cirurgião: tecnologia beneficia pacientes com câncer de próstata
Flávia Ivo
O aparelho só
destrava para a operação com os olhos do cirurgião encostados na máquina; caso
contrário, a ferramenta bloqueia os movimentos
Precisão nos
movimentos, visão 3D e recuperação rápida são algumas das vantagens para
médicos e pacientes trazidas pela cirurgia robótica. A ferramenta, presente no
Brasil há oito anos e existente em Belo Horizonte há dois, foi um ganho em
operações para retirada de tumores, especialmente na próstata. A glândula está
em foco no mês em que os cuidados com a saúde masculina são lembrados –o
Novembro Azul.
O maquinário, que
leva o nome de Da Vinci – em referência às múltiplas habilidades do pintor
renascentista –, é guiado pelo especialista por meio de um console, em que
botões e pedais compõem espécie de joystick dos videogames. As funcionalidades
permitem, dentre outras coisas, incisões certeiras, manipulação de estruturas
delicadas e filtragem do tremor das mãos dos médicos.
“Na cirurgia por
videolaparoscopia, por exemplo, olhamos para um televisor bidimensional.
Tínhamos perdido a profundidade. O robô nos devolveu a visão tridimensional, o
3D real”, diz o urologista Pedro Romanelli, que preside a Seção Minas Gerais da
Sociedade Brasileira de Urologia e é proctologista do Hospital Felício Rocho.
O papel de
Romanelli, que tem cinco anos de experiência na técnica, é, além de realizar o
procedimento, orientar outros médicos que estejam começando na cirurgia
robótica na unidade de saúde.
“Existente há 18 anos lá fora, hoje cerca de 95% das cirurgias são
feitas com a tecnologia, principalmente para retirada de cânceres de próstata e
de rim. São estruturas em local de difícil acesso”
Pedro Romanelli
Urologista especialista em cirurgia robótica
Pedro Romanelli
Urologista especialista em cirurgia robótica
“Para operar no robô
é preciso tirar uma espécie de ‘carteira de motorista’, certificação disponível
nos Estados Unidos e na Colômbia. No entanto, nos primeiros casos, é preciso
ter ao lado um cirurgião experiente”, destaca o profissional.
De acordo com o
urologista, muita gente pensa que a cirurgia robótica é realizada
exclusivamente por robô. Uma equipe inteira está envolvida no processo.
“Brinco que o robô é
igual a uma Ferrari. Se você não souber dirigir, não adianta nada. O que fará
com a melhor imagem e a precisão depende do cirurgião. É uma tecnologia
fantástica, mas que precisa de treinamento e de uma equipe que está acostumada
com a mecânica da cirurgia”, explica o especialista.
Prevenção
Na retirada do
câncer na próstata, segundo tipo que mais mata homens no Brasil – estimativa
para este ano é de 65 mil novos casos –, a ferramenta permite a preservação de
estruturas importantes, reduzindo consideravelmente as chances de incontinência
uri-nária e disfunção erétil, situações temidas pelos pacientes.
“Nem sempre é
necessário tratar a doença de imediato. Tratamos excessivamente esse tipo de
tumor na década de 1990, fazendo os homens sofrerem com as consequências. Hoje,
fala-se muito de vigilância ativa, verificando periodicamente exames de sangue
e de imagem”, descreve Ellias Lima, oncologista da Oncomed e Instituto Mário
Penna.
Como qualquer tipo
de câncer, se diagnosticado precocemente, o de próstata apresenta maior
possibilidade de cura. “Queremos que as pessoas morram menos da doença. O exame
de sangue (chamado PSA) consegue nos dizer se pode haver algo errado com a
glândula, mas a enfermidade é confirmada apenas com a biópsia”, explica o
médico.
Na mesa de cirurgia, presença de um segundo médico é essencial para o
manejo das pinças e outras funções
Recuperação rápida é
uma das vantagens do procedimento
A redução dos riscos
de infecção e outros benefícios da cirurgia robótica foram determinantes para
que o comerciante Joaquim Eustáquio Reis, de 63, decidisse pela retirada da
próstata, há um ano.
Ele, que conviveu
com o câncer durante três anos, ficou receoso em tratar com a radioterapia,
opção dada por um dos médicos com os quais consultou. “Mas, minha avó sempre
falava que é preciso cortar o mal pela raiz. Além disso, a radiação poderia
afetar algum órgão próximo. Por isso, quando o robô chegou a Belo Horizonte,
fui criando coragem para passar pelo procedimento”, conta.
Reis afirma que a
única dor que sentiu durante todo o processo foi a da picada da agulha para a
aplicação da anestesia. “Fiz a cirurgia às 15h do dia 15 de novembro de 2017.
Vinte e quatro horas depois eu já seguia para a casa da minha filha para a
recuperação. Voltei às minhas atividades normais em 30 dias”, relata o
comerciante, que disse ter tido, por curto período, incontinência urinária.
“Meu médico me encaminhou para a fisioterapia e logo consegui reter a urina”,
expõe.
Dalton Laranjo fez a cirurgia há quase três meses
Satisfação
Há quase três meses,
o empresário Dalton Laranjo, de 56 anos, passou por experiência semelhante à de
Joaquim Reis com a cirurgia robótica. “Não senti dor alguma e, no dia seguinte,
já saí para a recuperação em casa. Já estou bem recuperado, fazendo atividade
física e retornei ao trabalho, mesmo que aos poucos, com duas semanas”.
O tumor de Laranjo
já estava grande quando foi detectado, no último mês de junho. Após alteração
no exame de sangue, o empresário fez a biópsia e logo decidiu pela operação,
realizada em agosto. “Ele poderia se espalhar para outros órgãos, mas deu
tempo, a ação foi rápida”, relembra.
Ambos os pacientes
foram operados pelo urologista Pedro Romanelli, que ressalta a excelência dos
resultados. “Com essa cirurgia, temos conseguido acelerar a recuperação. Hoje,
a maioria deles consegue ter uma vida boa após o procedimento”, coloca.
Se o tumor for
extirpado por completo e os exames de sangue estiverem normais, não há
necessidade de tratamento complementar.
“Na maioria das
vezes, o tratamento cirúrgico é o suficiente. Geralmente, se o paciente
precisa, a radioterapia é combinada com tratamento hormonal. Em fase mais
avançada da doença, no caso de metástase e recidiva, pode-se lançar mão de
quimioterapia”, esclarece Ellias Lima, oncologista da Oncomed e do Instituto
Mário Penna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário