Voto não é
fake: TRE alerta sobre influência de notícias falsas
Lucas Simões
Eleição acontece
neste domingo
Após uma campanha
curta em tempo e dinheiro, focada nas redes sociais e marcada pelo bombardeio
diário de fake news, os brasileiros decidem amanhã o futuro do país. Em uma das
eleições mais agressivas da história, com troca de acusações e ameaças também
entre os eleitores, uma preocupação da Justiça Eleitoral é o cenário em que 75%
do eleitorado admite ter medo de ser influenciado por notícias falsas para
decidir o voto.
Entre os brasileiros
mais jovens, de até 34 anos — que representam a segunda maior fatia do
eleitorado —, o receio de acreditar em boatos sobe para 82%, segundo o estudo
da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Além disso, seis em
cada dez brasileiros admitem não ter preocupação em checar a veracidade das
notícias, tendo acreditado em pelo menos um boato nestas eleições, segundo a
empresa Ipsos. Aliás, levantamento do instituto, feito em 27 países, apontou
que os brasileiros são os que mais acreditam em fake news no mundo.
O vice-presidente do
Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), Rogério Medeiros, diz que “a campanha
migrou definitivamente para a internet”, trazendo a reboque uma enxurrada de
informações mentirosas. Prova disso é que, neste pleito, pela primeira vez as
propagandas irregulares no mundo virtual — incluindo fake news — estão entre os
três tipos principais de denúncias, somando 198 casos em Minas, de acordo com o
TRE-MG.
Medeiros reconhece
que principalmente correntes de WhatsApp com informações distorcidas ganharam
espaço no debate eleitoral, influenciando eleitores.
Boatos
“As fake news sempre
existiram. A novidade agora é a força e a velocidade com que são disseminadas.
Infelizmente, por causa das redes sociais, há uma disposição maior do
eleitorado em acreditar nas fake news. Além disso, esses 45 dias de campanha
foram focados nas redes sociais, e isso contribuiu para que os boatos
aumentassem”, analisa Medeiros.
O vice-presidente do
TRE-MG é otimista em relação à punição para quem disseminar notícias falsas.
Ele ressalta que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro
Luiz Fux, alertou que se o resultado de uma eleição qualquer for fruto de uma
fake news, a Constituição prevê a anulação do pleito.
“O ministro Fux foi
taxativo ao lembrar que o melhor antídoto para as fake news são as informações
verdadeiras. Por mais cansativo que seja rebater fake news, é um ato
necessário, principalmente nesse momento político de ânimos tão exaltados”, diz
Medeiros.
O cientista político
Mauro Bonfim, da UFMG, adverte, porém, que até checar as informações ficou mais
difícil. “Nesta eleição apareceram sites que fazem checagens falsas de
informação. Isso confunde mais ainda o eleitor leigo. Minha recomendação é só
acreditar em algo que pode ser provado com documentos, fotos e fontes críveis”,
adverte.
UFMG lança plataforma digital para combater boatos na eleição
Contra a
disseminação de fake news durante as eleições, a UFMG lançou neste mês a
plataforma digital “Eleições Sem Fake”, desenvolvida por alunos de graduação e
doutorandos do Departamento de Ciência da Computação (DCC).
Numa frente
principal, o site tem acompanhado 220 grupos públicos de WhatsApp e checado as
informações divulgadas sobre a disputa eleitoral, como notícias, memes, fotos e
vídeos. A intenção é produzir um relatório após as eleições sobre o percentual
de fake news encontradas nos grupos.
“A ideia é que a
gente possa mapear esses conteúdos e, por uma amostragem, claro, ter uma
dimensão de como as fake news afetam a opinião das pessoas e até que ponto elas
são levadas a sério. Por isso, usamos várias ferramentas distintas para cruzar
dados e ter o máximo de informação possível”, explica o professor Fabrício
Benevenuto, doutor em Ciência da Computação e coordenador do projeto “Eleições
Sem Fake”.
Monitoramento
Intuitiva e simples,
a plataforma trabalha com outros cinco eixos principais: monitor de anúncios,
que checa a autenticidade e legalidade das propagandas eleitorais impulsionadas
no Facebook; análises de robôs, focada em denunciar perfis conhecidos como
“bots”, criados apenas para disseminar informações falsas; e audiência da mídia
e dos políticos, que mede a confiabilidade dos conteúdos disseminados por
centenas de portais jornalísticos, além de acompanhar a adesão do eleitorado
aos políticos nas redes sociais.
Além disso, na seção
“Notícias Lado a Lado”, a plataforma permite comparar reportagens de centenas
de veículos, obtendo a abordagem mais frequente de cada um deles.
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