O plano de Maduro
Manoel Hygino
Diante da penúria
transformada em tragédia na Venezuela, o presidente bonzinho dos Estados Unidos
convocou todos os países reunidos na ONU, na última semana de setembro, a
reivindicarem a “reestruturação da democracia” no país sul-americano. Enquanto
Trump discursava na sede da organização, o Departamento do Tesouro de Tio Sam
anunciava novas sanções contra pessoas próximas ao presidente Nicolás Maduro.
A história da
Venezuela é triste em termos de democracia. Ostenta o título de única nação do
hemisfério a passar um século inteiro em regime de exceção, e sabemos o que
significa.
Não se trata de
fatos de séculos passados. O antecessor de Maduro, Hugo Chávez, deu
continuidade à aplicação de métodos ditatoriais: fechou emissoras de rádio e
televisão, concentrou verbas publicitárias nos veículos que o apoiavam.
Insistiu em “demonstrar progressivamente o conceito de propriedade particular e
garantir a socialização dos meios de produção”. Estatizou o setor elétrico, de
telecomunicações, a indústria do cimento e prestadores de serviços no setor
petrolífero. Assumiu o controle das siderúrgicas, da petroquímica e, até, da
área alimentícia.
Começou um dos
períodos mais difíceis da história do seu povo. Recomendou que o cidadão usasse
lanterna para ir ao banheiro à noite, para evitar acender lâmpadas e consumir
energia. Depois, com seu sucessor, a situação se tornou pior, sem que se
reclamasse. Em compensação, mandou exumar os restos mortais de Bolívar, para
provar que ele fora envenenado, e não vítima de tuberculose, como oficialmente
registrado.
Com câncer, Chávez
foi direto para Cuba tratar-se, acontecendo o que se sabe. Assumiu a
presidência Nicolás Maduro, que parece destinado a permitir o preconizado por
Simón Bolívar, o Libertador: “Este país cairá, inefavelmente, nas mãos da
multidão desenfreada, para depois passar ao controle de tiranetes de todas as
raças”.
Maduro se sentiu
predestinado a governar sua pátria, inclusive porque recebia – não sei se ainda
recebe – orientações preciosas de Chávez através de um passarinho palrador.
Ex-motorista de coletivos em Caracas, o novo presidente parece interessado em
cumprir o vaticínio de Bolívar.
Teve o desplante de,
na recente Assembleia da ONU, assegurar que sua participação “foi uma vitória
total”. Esqueceu-se de que a rica Venezuela tem mais de dois milhões de
cidadãos, fugindo de perseguições, do pauperismo generalizado, da fome. Em sua
conta no Twitter, Maduro declarou, enfaticamente: “A verdade da Venezuela foi
ouvida. Vitória na ONU, Vitória total”.
O presidente
chileno, Sebastián Piñera, não coaduna da opinião: “A Venezuela é um país que
está vivendo uma tremenda crise política, econômica, social e humanitária”. O
Chile está disposto a “ajudar o povo venezuelano a recuperar a sua liberdade, a
sua democracia, o respeito aos direitos humanos e a tirar a Venezuela dessa
crise humanitária”. Não disse quando, nem como.
A resposta está com
Maduro: este anunciou que vai solicitar meio bilhão de dólares às Nações Unidas
para trazer de volta os venezuelanos que deixaram o país. Com o dinheiro,
fretará frotas de aviões. A solução foi proposta em discurso no Palácio
Miraflores, ao lançar o programa “Volta para a Pátria”. Nas atuais
circunstâncias, ninguém voltará.
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