A busca do homem novo
Manoel Hygino
Com o nome de Adélio
Bispo de Oliveira, autor do atentado ao deputado Jair Bolsonaro, candidato a
presidente da República, apareceu o de Montes Claros, cidade norte-mineira,
hoje incluída entre as oito mais populosas do Estado, com mais de 400 mil
habitantes. Recorda-se, com o historiador Hermes de Paula, a luta política, em
1930, que empolgou a cidade. Esta se dividia entre a Concentração Conservadora,
que apoiava Júlio Prestes, de preferência do presidente Washington Luís, na sua
sucessão, e a Aliança Liberal, então ao lado de Vargas, em consonância com o
pacto dos governadores, o Café com Leite, um mandato para São Paulo e outro
para o vizinho, as mais fortes unidades da federação.
Desde 1922 o Brasil
era sacudido por um frenesi revolucionário, principalmente porque as novas
gerações não aceitavam as velhas ideias em política e no campo cultural. Montes
Claros, em posições claras e fortes, com o povo apaixonadamente dividido em
partidos, levava vida pacata, tudo devagar, mas aceso.
Em 6 de fevereiro de
1930, uma grande e seleta comitiva, de que participava o vice-presidente da
República, Melo Viana, desceu na estação ferroviária em direção ao Centro da
cidade quando ocorreu um tiroteio na praça que hoje tem o nome de João Alves,
médico e uma das lideranças da Aliança Liberal. Uma tragédia com sete mortos e
vários feridos, descrita por Assis Chateaubriand, na imprensa carioca, como
Emboscada de Bugres (título, alias, de excelente livro de Milene Coutinho
Maurício).
A fagulha em Montes
Claros percorreu a nação, divulgando-se o nome de Tiburtina, esposa de João
Alves, acusada de promover o incidente em que se feriram Melo Viana, o líder
agroindustrial Dolabela e, entre os óbitos, o do secretário do vice-presidente
da República. Segundo Darcy Ribeiro, “dona Tiburtina foi a glória de Montes
Claros e uma das mulheres mais bravas do Brasil”, auxiliando o marido
pessoalmente na assistência aos casos de gripe espanhola, embora “a mais
querida e a mais odiada razão dos ódios partidários dos gastos pessoais”.
O condenável
episódio da véspera do feriado da Independência, em 2018, acorda sentimentos
que já vão longe no tempo, mas não apagados. Nossos problemas não foram
resolvidos, alguns se agravaram nos anos de República. Há um desalento
generalizado, quando não insatisfação, indignação ou revolta que precisam
urgentemente ser eliminados. A nação quer paz, o que compreende acabar com a
corrupção, que contribui para revigorar o descontentamento, fazendo a reforma
pacífica das estruturas sociais.
Este indivíduo que
se armou de uma faca para tentar extinguir a vida de um brasileiro que se
dispôs a participar da vida política poderia ter nascido em qualquer lugar. O
episódio é uma grave e tormentosa advertência.
No mais, é tentar
saber mais a respeito de seu passado, sua conduta, de suas receitas, de seu
estado de saúde, de quem financiou o ato (se houve patrocinador), se este é um
ato isolado ou não. Imprescindível, finalmente, que o eleito deste ano conheça
o manual de Quinto Túlio, utilizado por Cícero, em Roma, ao sair diariamente à
busca de votos. “Sou um homem novo” aspirante à Presidência, e se trata agora
do Brasil.
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