Depois da eleição
Mateus Simões
Pode parecer que
não, mas a eleição acaba, mais cedo ou mais tarde…
Com ela, espero que
venha a possibilidade de repensar, profunda e verdadeiramente, o nosso modelo
político.
A eleição de pessoas
de fora do ambiente político, um fenômeno que vai imperar no resultado a ser
colhido das urnas, vai garantir a possibilidade de retomar temas que os
ocupantes do poder, por algumas décadas, mantiveram enterrados porque não
serviam aos interesses deles. A começar pelo financiamento público das
campanhas e dos partidos: um deboche que retira R$ 1 bilhão em anos ímpares e
quase R$ 3 bilhões nos anos de eleição para custear a farra das velhas legendas
partidárias e as quadrilhas que as comandam.
Além do
financiamento público, no entanto, há ainda outros vários e sérios problemas, a
começar pela forma como as eleições proporcionais (para vereadores e deputados)
ocorrem, em um sistema que privilegia a manutenção dos políticos atuais no
poder, com votos espalhados de tal forma que ninguém consegue, de forma mais
apropriada, cobrar os compromissos e a postura desejada do eleito. Essa a
grande virtude de modelos distritais, puros ou mistos – permitir que o eleito
seja mantido por perto do eleitor do seu distrito, que pode acompanhar o que é
feito e exigir resultados efetivos.
A lógica das
coligações proporcionais, que permitem a união de partidos para montar legendas
e garantir a eleição de seus caciques, além da indecência do custo público do
horário eleitoral de rádio e TV – que é gratuito apenas para os políticos, mas
que, de fato, é custeado pelo poder público – são outros dos temas que serão
enfrentados e superados por um Congresso menos comprometido com a política de
ontem e mais alinhado com quem está do lado de fora.
É difícil
transformar um modelo com o voto de quem se mantém no poder exatamente através
da reprodução infinita desse mesmo modelo. Mas tenho convicção de que há
espaço, em uma nova legislatura, para que ideias de rompimento com a
politicagem tradicional sejam apoiadas de forma mais efetiva, não apenas porque
vários dos atuais mandatários serão arrancados do poder pelo voto (outros
tantos pela Justiça), mas porque os sobreviventes, mesmo que originados das
velhas estruturas, terão de optar, em pouco tempo, entre mudar ou serem
expelidos por um sistema de acompanhamento próximo e contínuo, pela população.
Brasília é longe,
mas as redes sociais estão em todo lugar e não há proteção possível contra essa
vigilância.
Os novos eleitos
precisam tomar posse dos cargos e dessa certeza: quanto mais claros eles forem
com a população, mas fortes eles serão para arrastar os demais consigo.
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