sexta-feira, 3 de agosto de 2018

JOVENS BRASILEIROS NÃO SE INTERESSAM PELA POLÍTICA


Longe das urnas

Frustrados, jovens abrem mão do voto e número de eleitores de 16 e 17 anos em Montes Claros cai 61%

Rafaela Matias
Hoje em Dia - Belo Horizonte



Com os escândalos de corrupção levantados pela Operação “Lava Jato” e o enfraquecimento dos dois grandes polos políticos brasileiros, representados por PT e PSDB, um quadro de insegurança se instalou entre o eleitorado e acaba de gerar um novo fenômeno: a evasão dos jovens das urnas.
Dados divulgados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) mostram que o número de eleitores entre 16 e 17 anos caiu 57% desde as últimas eleições, em 2016, e é o menor nos últimos 29 anos.
Atualmente, o Estado conta com 112.868 jovens que vão às urnas, uma queda de 74% em relação a 1989, quando havia 420 mil votantes nesta faixa etária.
Em Montes Claros, a insatisfação também é grande e se reflete na queda de jovens aptos a votar neste ano. São 1.790 eleitores de 16 e 17 anos, número 61% inferior aos 4.631 existentes em 1992 – data em que foi feito primeiro levantamento por faixa etária na cidade. Isso apesar de o município ter registrado um crescimento de 5,54% no número total de eleitores.
Os dados por faixa etária foram levantados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e consideram a idade do eleitor no dia do primeiro turno das eleições 2018.
Para o cientista político Rudá Ricci, o motivo da queda é demográfico, causado pelo envelhecimento da população, mas também moral.
“Há uma tendência de redução no cadastramento dos jovens, porque eles estão menos politizados e mais frustrados com o sistema de representação. A juventude já colocou muita energia nas ruas, mas viu pouco resultado dos seus esforços”, afirma.
Para reverter a situação, ele comenta, é preciso mais do que políticas de incentivo. “A história criou desgaste, incompreensão, ressentimento. Para haver engajamento entre os jovens como houve no passado, é preciso que ocorram mudanças efetivas, os novos representantes têm de se organizar, entrar e alterar a estrutura política do país. Não é só se filiar a partidos, é trazer um pensamento novo, fazer diferente”, acredita.
Maria Fernanda Rebello Vieira já completou 16 anos, mas optou por não tirar o título. Descendente de uma família de políticos, ela tenta postergar o momento em que terá que votar. E é categórica: “Não me sinto com maturidade suficiente pra escolher. Não estou contente com os rumos do país, mas prefiro esperar os 18 anos pra não fazer uma escolha errada ou não ser influenciada pelas pessoas próximas. Além disso, não acho que as opções são boas. Prefiro aguardar”, disse.

ENVELHECIMENTO 
Se o número de eleitores jovens teve queda, o de pessoas com mais de 70 anos aumentou. São 1.523.084 eleitores (9,7% do total) que pretendem votar em 2018. Em 2016 eram quase 1,4 milhão.
O dado vai ao encontro da projeção do IBGE, divulgada em 25 de julho, que coloca Minas entre os estados com maior índice de envelhecimento da população. Com a menor taxa de fecundidade do país, a média de filhos por mulher em idade reprodutiva é inferior a duas crianças. Até 2060, segundo a pesquisa, um quarto da população do Brasil (25,5%) deverá ter mais de 65 anos.

ELEITORADO
Nas eleições deste ano, Minas Gerais terá 15,7 milhões de eleitores aptos a votar. O número coloca o Estado como o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo, com uma concentração de 10,65% do eleitorado brasileiro. No país, 147 milhões de eleitores poderão ir às urnas neste ano. (Colaborou Márcia Vieira)


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