A fragilidade do sexo forte
Simone
Demolinari
A ideia que nos governa ainda hoje é a que associa o homem à uma figura forte, viril, nada delicado, provedor e impassível, uma espécie de Rambo. Espera-se desse homem implacável, que ele não esmoreça frente aos obstáculos, não sinta medo e claro, jamais chore.
Essa opressão
disfarçada de supremacia é um modelo de masculinidade que nem os próprios
homens estão aguentando suportar.
Vejamos o caso de
Joao, um rapaz de 37 anos, casado, com 2 filhos, passou por uma decepção
amorosa quando descobriu que sua esposa mantinha uma relação extra conjugal com
um colega de trabalho, fato até então comum para o universo feminino. Buscou
desabafar com um amigo que, prontamente, o encorajou a se separar e buscar.
Prontificou-se a integrar-lo numa turma de solteiros e o garantiu que em meio
festas e novas mulheres, ele viraria a pagina daquele sofrimento rapidamente.
De uma maneira
geral, não há problema em tentar atenuar a dor através da diversão. Neste caso
a questão vai além: no universo masculino, é amputado ao homem a condição
de sofrer, sobretudo se for por mulher. O sofrimento é associado ao fracasso e
isso é outro problema para eles. Acontece, que, ao contrário do que muitos
pensam, o sofrimento não é opcional. Nesse caso, deriva da sensação de
rejeição, substituição, traição do pacto matrimonial e dissolução da família.
Uma dor intensa para ser resolvida de forma prática.
João queria mesmo
perdoar sua esposa, mas não se sentia confortável em fazer isso perante os
amigos e família. Não queria a alcunha de “corno”. Resolveu então se separar
mesmo contrariando sua vontade. Começou a frequentar festas e bares, mas se
sentia tão triste que precisava anestesiar sua diversão com álcool e drogas.
Pensou em procurar uma terapia, mas foi logo desencorajado pelo amigo que disse:
“isso não é coisa de homem”.
De um modo geral, a
maneira cultural que o homem metaboliza sua dor, é mais prática, mas também,
mais superficial. João seguiu, sem dar ouvidos à espiral descendente a qual se
encontrava. Sentia-se permanentemente triste, mas evitava falar no assunto,
embora passasse boa parte da madrugada acordado com pensamentos recorrentes.
Acordava sempre
cansado, a produtividade profissional caiu, parou de praticar esporte. E,
devido ao seu novo estilo de vida, largou hábitos saudáveis e os substituiu por
atitudes autodestrutivas. Algumas vezes, João pensava em visitar um psicólogo,
mas logo tirava a ideia da cabeça, associava isso a figura de um homem
fracassado. Preferiu então fazer algo comum ao universo masculino: “engolir o
choro”. O que ele não contava era que estava entrando num quadro depressivo
acompanhado de crise de ansiedade.
João custou a se
acostumar com a ideia de que estava doente e precisava de ajuda. Não pela
doença em si, mas por ser “homem”.
A dificuldade em
assumir as fragilidades é comum ao universo masculino. Uma lástima, pois o
machismo que muitas vezes é visto como privilégio, sob ponto de vista
emocional, mais oprime que dá vantagens.
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