Expectativas além da Copa
Manoel Hygino
As lembranças da
Copa do Mundo de 2018 depois que ela passar? É triste e lamentável a
participação fora de campo dos brasileiros que foram à terra de Tolstói e
Stalin. Os nossos torcedores-turistas fizeram papelões, no plural. Os jornais
britânicos criticaram os jogadores brasileiros na vitória sobre Costa Rica.
Neymar foi classificado de “mimado, resmungão, dramático e trapaceiro”. Em
restaurante na gloriosa São Petersburgo, o presidente da CBF, ao lado de
familiares, foi hostilizado por um torcedor do Paraná, que o chamou de “safado
e vagabundo”, quebrando-lhe um copo na cabeça.
A revista “The
Economist” previra, pelo seu site, que o Brasil seria campeão. Porque havia a
ameaça dos loucos/maníacos do Estado Islâmico, ameaçando a competição com “um
massacre nunca visto”. Seria a vingança contra a grande nação de Putin, por
contrapor-se a operações do grupo terrorista na Síria. Ficou nisso, felizmente.
Melhor assim.
A Copa do Mundo, que
tanto empolgou os brasileiros, já vai terminar. A gente deste espaço do mundo
esperava apagar o vexame da anterior, no coração do país, quatro anos atrás, em
Belo Horizonte. Não são poucas as dúvidas e preocupações também na cena
política. Chegamos ao segundo semestre de 2018 com velhos e novos desafios.
A violência
permanece habitando nosso campo e nossas cidades. As dificuldades para
vencê-las se tornaram mais evidentes depois da intervenção militar na segurança
do Rio de janeiro. Em todos os estados, porém, as gangues atuam e enfrentam os
agentes da lei, que caem inexoravelmente diante do poder de fogo dos bandidos,
abastecidos com melhores armamentos, munições e dinheiro à suficiência.
No campo
político-administrativo, identifica-se a insatisfação da população, que
reconhece a incapacidade das autoridades para superar os imensos obstáculos,
resultantes de equívocos e malfeitos mais recentes ou dos acumulados, que
ganharam vigor no decorrer de décadas. E há uma eleição este ano.
Lembro agora o
advogado paulista Almir Pazzianotto Pinto, ex-presidente do Tribunal Superior
do Trabalho e ex-ministro do Trabalho. Com propriedade, dizia ele que estamos
na oitava Constituição, a sétima do período republicano. “O número elevado de
emendas revela que a redação original deixou a desejar. Os membros da
Assembleia Nacional Constituinte decidiram por texto analítico, minucioso,
prolixo, recheado de dispositivos dependentes de regulamentação. Recusaram o
sucinto modelo americano, cuja lei fundamental data da independência em 1787.
Lembre-se Norberto
Bobbio, durante crise na Itália, quando sentenciou: “A Constituição não tem
culpa”. Pazzianotto acrescentou: “O mesmo se deve dizer em relação à nossa. Nem
por isso, devemos responsabilizá-la por problemas que enfrentamos”. Eis a
realidade.
O segundo semestre
será dos mais difíceis.
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