Convicções que aprisionam
Simone
Demolinari
Seja entre família,
amigos, na mesa do bar, redes sociais ou no ambiente de trabalho, estamos cada
vez mais “rachados” em função de opiniões radicais sobre assuntos polêmicos
como política, religião e futebol. Não é de hoje que os estudiosos tendam entender
a lógica do fanatismo, estado psíquico de devoção cega, rígida e irracional por
alguma coisa ou tema.
O fanático defende
suas causas com tanto fervor, que, por vezes, flerta com o delírio, ficando
“cego” e “surdo” para qualquer premissa oposta à sua. Só enxerga o prisma
através da própria lente. Há um vínculo entre o fanatismo e a estrutura
psicótica que, por fuga da realidade, trata como única sua certeza absoluta.
O fenômeno se
fortalece quando o indivíduo se une a grupos como por exemplo, torcidas. Nesse
contexto, a pessoa adquire uma identidade social e incorpora valores, regras, e
obediência de comando. Na mentalidade coletiva, as aptidões intelectuais e,
consequentemente, sua personalidade, enfraquecem, prevalecendo a psicologia de
massa.
Algumas características
são observadas nos fanáticos: preconceito, agressividade, dificuldade em
escutar, ódio, visão maniqueísta e radicalismo que segue a lógica – ou está
comigo ou está contra mim.
Alguns exemplos:
- Fanatismo
religioso: Tentam emplacar suas crenças forçadamente sob a justificativa de
missão divina. Acreditam que o que é bom para si é ideal para humanidade, com
isso se autorizam a matar pessoas, maltratar raças e atear fogo em quem não
está alinhado com sua crença – um radicalismo contraditório, que em nada tem a
ver com paz, que em tese, a fé deveria promover.
- Fanatismo
artístico: Uma obsessão exagerada por alguma figura pública. Casos mais graves
podem chegar a chamada “síndrome de adoração à celebridade” onde o fanático
acredita que é correspondido e se comunica secretamente pelo seu ídolo. Na sua
fantasia, essa comunicação pode acontecer através de sinais, afinidades,
gestos. Um delírio de relação fictícia onde eles se sentem preparados para
matar ou até para morrer.
- Fanatismo
esportivo: Aqui, o futebol ganha maior destaque. A paixão desenfreada pelo
clube gera atrito, inimizade, brigas e até morte. Haja vista a violência nos
estádios entre torcidas e torcedores. Em nome do time não se mede esforço:
gasta-se o dinheiro que não tem, cumpre-se promessas insólitas, chora-se
copiosamente a derrota e perde-se um campeonato como se tivesse perdendo um
ente querido. Uma dor quase física.
- Fanatismo
político: A adesão cega a uma legenda ou a devoção a um político faz com que
esse tipo de fanático perca a lógica em razão do seu favoritismo. Seu discurso
é permeado de incongruências: defende a democracia, ao mesmo tempo que nega a
democracia de quem pensa diferente.
O fanatismo é uma
anomalia difícil de ser combatida. Ela se desenvolve à espreita: despoja o
afetado de lucidez deixando-o acreditar que ser “fanático” é bom. A maioria
sente orgulho em ser assim.
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