quinta-feira, 5 de julho de 2018

FANATISMO É UMA DOENÇA OU UMA CONVICÇÃO?


Convicções que aprisionam

Simone Demolinari 







Seja entre família, amigos, na mesa do bar, redes sociais ou no ambiente de trabalho, estamos cada vez mais “rachados” em função de opiniões radicais sobre assuntos polêmicos como política, religião e futebol. Não é de hoje que os estudiosos tendam entender a lógica do fanatismo, estado psíquico de devoção cega, rígida e irracional por alguma coisa ou tema.
O fanático defende suas causas com tanto fervor, que, por vezes, flerta com o delírio, ficando “cego” e “surdo” para qualquer premissa oposta à sua. Só enxerga o prisma através da própria lente. Há um vínculo entre o fanatismo e a estrutura psicótica que, por fuga da realidade, trata como única sua certeza absoluta.
O fenômeno se fortalece quando o indivíduo se une a grupos como por exemplo, torcidas. Nesse contexto, a pessoa adquire uma identidade social e incorpora valores, regras, e obediência de comando. Na mentalidade coletiva, as aptidões intelectuais e, consequentemente, sua personalidade, enfraquecem, prevalecendo a psicologia de massa.
Algumas características são observadas nos fanáticos: preconceito, agressividade, dificuldade em escutar, ódio, visão maniqueísta e radicalismo que segue a lógica – ou está comigo ou está contra mim.
Alguns exemplos:
- Fanatismo religioso: Tentam emplacar suas crenças forçadamente sob a justificativa de missão divina. Acreditam que o que é bom para si é ideal para humanidade, com isso se autorizam a matar pessoas, maltratar raças e atear fogo em quem não está alinhado com sua crença – um radicalismo contraditório, que em nada tem a ver com paz, que em tese, a fé deveria promover.
- Fanatismo artístico: Uma obsessão exagerada por alguma figura pública. Casos mais graves podem chegar a chamada “síndrome de adoração à celebridade” onde o fanático acredita que é correspondido e se comunica secretamente pelo seu ídolo. Na sua fantasia, essa comunicação pode acontecer através de sinais, afinidades, gestos. Um delírio de relação fictícia onde eles se sentem preparados para matar ou até para morrer.
- Fanatismo esportivo: Aqui, o futebol ganha maior destaque. A paixão desenfreada pelo clube gera atrito, inimizade, brigas e até morte. Haja vista a violência nos estádios entre torcidas e torcedores. Em nome do time não se mede esforço: gasta-se o dinheiro que não tem, cumpre-se promessas insólitas, chora-se copiosamente a derrota e perde-se um campeonato como se tivesse perdendo um ente querido. Uma dor quase física.
- Fanatismo político: A adesão cega a uma legenda ou a devoção a um político faz com que esse tipo de fanático perca a lógica em razão do seu favoritismo. Seu discurso é permeado de incongruências: defende a democracia, ao mesmo tempo que nega a democracia de quem pensa diferente.
O fanatismo é uma anomalia difícil de ser combatida. Ela se desenvolve à espreita: despoja o afetado de lucidez deixando-o acreditar que ser “fanático” é bom. A maioria sente orgulho em ser assim.

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