O cotidiano brasileiro
Manoel Hygino
O engenheiro
Fernando Guedes de Melo é perguntado como se posicionaria com relação a
Nietzsche, para quem a mensagem matinal seria uma espécie de “hoje, vou dar
alegria a alguém”. O entrevistado não tem dificuldade em responder:
“Como budista,
geralmente concordo com a opinião do bodhisattva: que eu seja um instrumento
para a felicidade e a iluminação de todos os seres, que esteja a serviço da
paz, da sabedoria, que este seja um dia de despertar a harmonia para todo o
mundo”.
Esta, contudo,
deveria ser a mensagem de cada homem, de qualquer religião em todos os lugares
do mundo, o que ora não acontece, com a sucessão de ameaças entre pessoas que
vivem na mesma pátria, entre países e povos cujos mandatários não se entendem e
trocam incessantemente acusações e promessas de agressões mútuas, de toda
natureza, inclusive econômicas e bélicas.
O Brasil vive um
período dramático de sua história, em que as próprias autoridades não sabem
como firmar posição em face da violência hoje imperante. Tenho um caso horrível
à mão. Um adolescente roubou um celular e apanhou até a morte em minha cidade
natal, no Norte de Minas. Tinha quatorze anos e foi linchado, após acusação do
furto. Colhido por sete moradores, estes o agrediram a pauladas, socos e
pontapés. A vítima não resistiu. O aparelho não foi localizado pela polícia,
que informou: entre os detidos pelo cruel homicídio estavam dois jovens de 13
anos, dois de 15 e um de 16. Os demais sumiram.
Estas são as reações
que se vão tornando constantes em todas as cidades brasileiras, nas quais agem
marginais já formados em idade e experiência e os que, talvez se julgando
heróis a serviço do bem, acabam ilhados pelos agentes da lei. Irão para a
cadeia? Cadeia resolve o problema, que é muito maior? Deixá-los soltos?
Encaminhá-los a instituições ditas de sócio educação?
O povo se encontra
em meio ao pesadelo, ou, usando a velha expressão, como cego em meio a
tiroteio. Assim é a nossa pátria, pátria amada, salve-salve, em que só se salva
quem puder. Estamos forjando a maior concentração de malfeitores do mundo, quem
sabe? A esta altura... O povo paga imposto alto, ou faz de conta que paga, para
reclamar dos insuficientes e ineficientes serviços públicos.
Enviar os
adolescentes para estabelecimentos sócio-educativos? A expressão é bonita, mas
não exatamente correta. As demonstrações revelam que essas casas são mais de
aprimoramento de futuros malfeitores reiterados.
Construir novas
prisões para os que ignoram ou agem contra a lei? É mais dinheiro, muito
dinheiro, para solução no mínimo duvidosa, abertamente falsa. Cadeia não educa,
pelo menos entre nós.
Já se sabe: o Brasil
é o terceiro país do mundo em número de presos, isto é, 726 mil. E pior: outros
586 mil estão nas ruas quando deveriam estar detrás das grades. É dado oficial,
divulgado pelo ministro Extraordinário de Segurança, Raul Jungmann.
No final do ano,
eles somarão 841,8 mil; em 2025, 1,4 milhão de presos. O déficit de vagas
prisionais é de 358.663. Haja dinheiro para pagar tributos!
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