quinta-feira, 21 de junho de 2018

SENTIMENTOS NEGATIVOS PERMANENTES VALE A PENA SENTIR?


Você é o que você sente

Simone Demolinari 







Cada vez mais, estudos mostram que as emoções tanto podem preservar nossa saúde quanto podem interferir consideravelmente no surgimento de doenças. Seguindo a máxima da nutrição – “você é o que você come” –, na psicologia “você é o que você sente”. Isso ocorre pelo fato de as emoções jogarem em nossa corrente sanguínea um coquetel de elementos químicos, fazendo com que nosso corpo acione respostas fisiológicas, boas e ruins.

Emoções negativas, como raiva, medo, ansiedade, podem estimular a produção de cortisol, elemento químico do estresse, que faz com que o corpo entre num estado de alerta, como se estivesse correndo risco de morte ou precisasse lutar ou fugir. Como tal ameaça não existe, a química acaba sendo absorvida pelo organismo, passando de remédio, para veneno.

Em nossa rotina diária, recebemos estímulos emocionais do ambiente externo, do trabalho, família, irmãos, cônjuges e, a partir daí, degustamos enormes alegrias e também terríveis dores. Para escrever esse artigo, submeti a um grupo de pessoas a seguinte pergunta: “o que ou quem mais contribui para você sentir raiva ou estresse no dia a dia?”. Obtive 40 respostas nas quais 60% responderam “cônjuge”. Em função do resultado, escolhi a seguinte história para ilustrar.

Maria, moça de 35 anos, carreira profissional em ascensão, casada, com um filho. O marido, rapaz extrovertido, de bem com a vida e apaixonado por ela, trazia em seu traço de personalidade uma nuance de narcisismo, o que o deixava com comportamento egoísta e baixa empatia. Seu jeito, voltado para si e com ego inflado, aos poucos foi drenando a autoestima de Maria. Ser casado com um narcisista não é tarefa fácil: a relação nunca é igualitária, o pedestal é apenas para um. Quando Maria relatava sua insatisfação ele ouvia, mas a limitação empática não o permitia entender a dimensão da dor da companheira. Ele tentava contribuir com frases do tipo: “pare de reclamar, vamos ser feliz”, uma “ajuda” que, em termos práticos, não resolvia nada. Aparentemente, Maria tinha o casamento dos sonhos, porém, na vida íntima, sentia uma dolorosa solidão a dois.

Costumamos pensar que dores subjetivas não causam danos. Ledo engano. Ao longo do tempo, Maria se tornou uma pessoa ao mesmo tempo sensível e explosiva, ao melhor estilo passiva/agressiva. O desgaste emocional que o casamento com um narcisista exige fez com que Maria enfraquecesse seu sistema imunológico. Com isso, as doenças não paravam de aparecer: a pele perdeu o viço, o cabelo caiu e, para dar vazão à sua angustia, desenvolveu um consumismo exagerado. Toda essa desesperança levou Maria a um quadro depressivo severo, permeado por tristeza, desesperança, sensação de abandono, insônia, mente tagarela e baixo rendimento no trabalho. Típico caso de doença produzida a partir do desconforto emocional.

Se vale à pena viver assim? De certo, não. Mas só quem está nessa situação pode se salvar.

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