Você é o que você sente
Simone
Demolinari
Cada vez mais, estudos mostram que as emoções tanto podem preservar
nossa saúde quanto podem interferir consideravelmente no surgimento de doenças.
Seguindo a máxima da nutrição – “você é o que você come” –, na psicologia “você
é o que você sente”. Isso ocorre pelo fato de as emoções jogarem em nossa
corrente sanguínea um coquetel de elementos químicos, fazendo com que nosso
corpo acione respostas fisiológicas, boas e ruins.
Emoções negativas, como raiva, medo, ansiedade, podem estimular a
produção de cortisol, elemento químico do estresse, que faz com que o corpo
entre num estado de alerta, como se estivesse correndo risco de morte ou
precisasse lutar ou fugir. Como tal ameaça não existe, a química acaba sendo
absorvida pelo organismo, passando de remédio, para veneno.
Em nossa rotina diária, recebemos estímulos emocionais do ambiente
externo, do trabalho, família, irmãos, cônjuges e, a partir daí, degustamos
enormes alegrias e também terríveis dores. Para escrever esse artigo, submeti a
um grupo de pessoas a seguinte pergunta: “o que ou quem mais contribui para
você sentir raiva ou estresse no dia a dia?”. Obtive 40 respostas nas quais 60%
responderam “cônjuge”. Em função do resultado, escolhi a seguinte história para
ilustrar.
Maria, moça de 35 anos, carreira profissional em ascensão, casada, com
um filho. O marido, rapaz extrovertido, de bem com a vida e apaixonado por ela,
trazia em seu traço de personalidade uma nuance de narcisismo, o que o deixava
com comportamento egoísta e baixa empatia. Seu jeito, voltado para si e com ego
inflado, aos poucos foi drenando a autoestima de Maria. Ser casado com um
narcisista não é tarefa fácil: a relação nunca é igualitária, o pedestal é
apenas para um. Quando Maria relatava sua insatisfação ele ouvia, mas a limitação
empática não o permitia entender a dimensão da dor da companheira. Ele tentava
contribuir com frases do tipo: “pare de reclamar, vamos ser feliz”, uma “ajuda”
que, em termos práticos, não resolvia nada. Aparentemente, Maria tinha o
casamento dos sonhos, porém, na vida íntima, sentia uma dolorosa solidão a
dois.
Costumamos pensar que dores subjetivas não causam danos. Ledo engano. Ao
longo do tempo, Maria se tornou uma pessoa ao mesmo tempo sensível e explosiva,
ao melhor estilo passiva/agressiva. O desgaste emocional que o casamento com um
narcisista exige fez com que Maria enfraquecesse seu sistema imunológico. Com
isso, as doenças não paravam de aparecer: a pele perdeu o viço, o cabelo caiu
e, para dar vazão à sua angustia, desenvolveu um consumismo exagerado. Toda
essa desesperança levou Maria a um quadro depressivo severo, permeado por
tristeza, desesperança, sensação de abandono, insônia, mente tagarela e baixo
rendimento no trabalho. Típico caso de doença produzida a partir do desconforto
emocional.
Se vale à pena viver
assim? De certo, não. Mas só quem está nessa situação pode se salvar.
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