Stalin, mais uma vez
Manoel Hygino
Enquanto se busca
identificação e prisão dos responsáveis pelas dezenas de ataques a bancos e
estabelecimentos públicos no Brasil, bem como do “incendiamento” (a palavra é
pouco usada cá no Brasil) de coletivos, as atenções se voltam para a Copa
Mundial de futebol, na Rússia, mas sem o entusiasmo de outras competições.
Pudera! Depois do fracasso de quatro anos atrás, em nosso próprio terreiro, não
mais se tem a confiança anterior, embora não tenha fenecido a esperança.
Não sei se de
propósito, São Paulo exibe “A morte de Stalin”, uma comédia um tanto sem graça,
que – na opinião do crítico Inácio Araújo – é “uma maneira de contar uma
história, não raro, escabrosa de maneira agradável”. Nem poderia ser de outro
jeito e maneira, se considerar que o filme é britânico, com humor britânico, de
modo que só se percebe “que se trata de uma comédia quando já se passou um
terço de duração”.
Quem viu o filme
comenta que, no princípio, Kruschev descreve, aos risos, como matava alemães
presos após a batalha de Stalingrado. Não era motivo de riso, mas as lideranças
políticas russas tinham sua maneira de ver e sentir.
Ademais, o final de
vida do poderoso líder soviético já foi relatado inúmeras vezes e com inúmeras
versões. Há exatamente três anos, por exemplo, lançou-se aqui o livro “A morte
de Stalin”, sobre o episódio, em quadrinhos, traços e textos simples, tradução
da publicação francesa.
Apresentado
originalmente em Paris, em 2014, o livro mereceu prêmio como de melhor HQ no
festival “Encontros com a História”. A obra narra em tom de sátira o clima de
conspiração na União Soviética com o desaparecimento do líder, em 1953. Mas
como teria sido mesmo a morte de um dos homens mais poderosos do mundo do
pós-guerra? Enfim, Stalin era durão, porque duríssimo, exercia policiamento
rigoroso sobre os que poderiam pretender sucedê-lo, enfim, sobre todo cidadão
russo. Não se esquecerá da incessante perseguição ao seu principal adversário,
Leon Trotsky, assassinado no México, com uma picareta de quebrar gelo, em 1940.
O domínio de Stalin,
sucessor de Lênin, era ilimitado. Edward Radzinksy, autor de mais de um livro
sobre períodos marcantes da Rússia, com o novo regime, descreve o final. Teria
sido estrangulado por Kruschev, Beria e Malenkov. Nada disso, porém,
correspondeu à verdade. Segundo Radzinky, o líder faleceu em consequência de um
derrame, Acidente Vascular Cerebral, um AVC fulminante.
Svetlana, a filha,
conta: “ele abriu seus olhos pela última vez. Sua aparência estava desfigurada.
De repente, sua mão se levanta, parecia querer golpear algo no ar ou nos
ameaçar. No momento seguinte, seu espírito, após um esforço final, rompe de seu
corpo”.
Não só Radzinski
considera que Stalin fizera nascer nas pessoas o sentimento de que eram
vitoriosas, porque tinham uma sociedade única, como nunca houvera. Os muitos
autores são unânimes: suas regras ninguém ousava desafiar e quem tentava não
sobrevivia. Centenas de personalidades foram eliminadas, bem como mais de 5
milhões de famílias camponesas. I. Rybin e Dimitri Volkogonov contam não muito
diferente: Stalin fora encontrado estatelado no chão, só de camiseta, calças e
pijama. Não conseguia falar, mas levantava a mão. Às 5h50, em 5 de março de
1953, morre.
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