Em pleno circo
Manoel Hygino
Enquanto as seleções
costarriquenha e brasileira de futebol disputavam partida pela Copa do Mundo,
lá na Rússia, ponderável parte da força produtiva do país parava. Pouco
importavam os dias de paralisação por conta da greve dos caminhoneiros, que tão
elevados prejuízos causara – e ainda causa – à nação. Tampouco se preocupava
com o alerta da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) sobre a
possibilidade de novo caos, já que os mesmos autores da primeira prova prometem
parar o país mais uma vez, formulando novas e idênticas medidas.
Pão e circo são
remédios utilizados há séculos para manter satisfeita a multidão. Agora, a
arena foi transferida à Rússia, cuja história e belas construções de arte foram
pouco apresentadas por visitantes nada ilustrados, dentre os quais
latino-americanos que preferiam assediar as mulheres com gestos e palavras de
baixo calão.
Fazer o quê? Poucos
se lembrariam que a energia subiu 3,3%, quase o dobro da inflação. Em
prioritário lugar, o circo, em que os cidadãos, que somos nós, fazem o papel de
palhaços sem graça.
Em meio à
turbulência pelos dois únicos gols, assegurando ao Brasil a vitória na disputa,
pude ler os inspirados versos de Manoel Firmato de Almeida, ex-chefe da
Cirurgia Pediátrica da Santa Casa de Belo Horizonte. Ele os classifica de
Paródia sob o título de “Vou voltar para Pasárgada”, à Manoel Bandeira.
Ei-los:
“Vou voltar para
Pasárgada onde eu era amigo do Rei. Lá não usávamos imagens, mas imaginação.
Não usávamos o politicamente correto, mas o certo. Mandavam os que podiam e
obedeciam os que tinham juízo. O respeito é que gerava amor. O amor é que
gerava gente. O tempo era o senhor do universo. E a vida a senhora da terra. O
velho, o senhor da sabedoria. O jovem não era o dono da verdade, ou o professor
de Deus. A criança, um botão que um dia seria uma rosa ou um cravo. Era
irrigado, cultivado, às vezes podado. As dúvidas continuavam dúvidas. As
verdades eram para serem acreditadas. As mentiras eram apenas classificadas. As
mentirinhas era esquecidas. As cabeludas eram guardadas. O futuro a Deus
pertencia. Deus dava, Deus tirava. O passado virava estórias da carochinha. O
presente era vivido. Deus, o senhor do destino. Deus dava, Deus tirava. Uns
gostavam de chocolate preto, outros de branco. Gêneros eram simples assim:
homem é homem, mulher é mulher. E assim era a vida em Pasárgada. Simples, né?”.
Os amantes do antigo
esporte-bretão, como o futebol foi chamado, tiveram oportunidade, mas não a
aproveitaram certamente, para conhecê-la devidamente, porque São Petesburgo,
onde se deu o espetáculo esportivo, é uma das mais fantásticas belezas a se
apreciar na pátria de Tolstoi e Dostoievski, sem falar, no próprio Pedro, o
Grande, que fez construir a cidade sobre pântanos, como JK procedeu com
Brasília, erguida no áspero e quente território do interior brasileiro.
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