Cesarianas
representam quase a metade dos nascimentos em Minas
Raul Mariano e
Tatiana Lagôa
Família - Lídia e o
marido Wanderson Freitas durante o nascimento do filho Dom
Pelo menos 79 mil cesarianas foram
realizadas em Minas no ano passado. O número equivale a 45% dos partos
registrados no Estado e está longe do nível preconizado pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), que é de 15%.
O lançamento do filme “O Renascimento
do Parto 2”, que será exibido nos cinemas a partir desta semana, reacende a
discussão sobre a cesárea. Para especialistas, um dos maiores desafios é acabar
com o estigma de que o parto natural é sofrido e doloroso.
Referência no assunto, a obstetra e
membro do Instituto Nascer, Quésia Villamil, afirma que os prejuízos do
incentivo à cesariana afetam não apenas a mulher e a criança, mas toda a
sociedade.
“Estamos falando de uma cirurgia que
aumenta o risco de morte, as dificuldades de aleitamento e pode causar mais
doenças no futuro”, explica. “Sem falar que é mais cara (que o parto normal),
seja para o sistema público ou privado, já que se gasta mais anestésicos e
demanda muitos profissionais”, acrescenta.
Segundo a obstetra, estudos já apontam
que cidades com elevadas taxas de cesariana têm, por consequência, maiores
índices de violência. “É no parto normal que a mulher libera a ocitocina, o
hormônio do amor. Isso contagia tanto a mãe quanto o bebê”, garante.
173 mil partos foram
feitos em Minas em 2017, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde
Quem passou pela experiência recentemente garante que a escolha pelo parto natural é a mais consciente. A administradora Lídia de Freitas se tornou mãe há pouco mais de 15 dias, em um parto que aconteceu dentro de uma banheira.
“É um sentimento sobre o qual ainda
não existe palavra capaz de descrever. Foi algo intenso e muito feliz. Fiquei
14 horas em trabalho de parto até a chegada do Dom, meu bebê”.
Conscientização
Doula, coordenadora do Ishtar-BH
Espaço para Gestantes e ativista do grupo Parto do Princípio, Polly do Amaral
acredita que o filme “O Renascimento do Parto 2” poderá melhorar as
estatísticas de nascimentos humanizados no país. “O filme vai abordar a questão
da violência obstétrica e como nós, mulheres, podemos ser protagonistas no
nascimento de nossos filhos. Muitas vezes, faltam informações para que as mães
possam lutar para mudar essa realidade”.
Ela e um grupo de mães participaram
das gravações do filme em BH. As mulheres seguravam cartazes com justificativas
usadas por profissionais de saúde para agendar cesáreas. “Existem motivos
falsos que viraram verdade absoluta na hora de decidir pela não realização do
parto normal”, afirma.
Ela conta que na maior parte das vezes
são dadas duas opções para as mães: cesárea ou um parto normal com inúmeras
intervenções desnecessárias, como a episiotomia, que é o corte do períneo. “O
parto não precisa ser violento. A mulher pode ter o filho no tempo adequado e
manter o maior vínculo com o bebê logo após o nascimento”, defende.
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