Com a boca na botija
Manoel Hygino
Abre-se o jornal,
liga-se o rádio ou a televisão, pode-se mudar o matutino ou o canal, mas não
mudam as notícias, principalmente as más, que dominam os espaços nos veículos
de comunicação. Suspeições, denúncias, acusações, investigações, apurações – no
fundo, mais escândalos nos arraiais da administração pública envolvendo
inapelavelmente organizações empresariais.
Já se perguntou: que
país é este? Não surpreende mais o crime cometido, qual a gravidade, pois na
terra inventada por Cabral (o lusitano) e redescoberta por Cabral (o
ex-governador do Rio de Janeiro) o que assusta é o volume dos recursos
desviados ou furtados dos cofres públicos ou surrupiados do patrimônio da
sociedade, isto é, de todos os que contribuímos para manter o Estado. Agora, os
segmentos mafiosos se apropriam do que pertence à sociedade, como se fosse seu.
Quase no final de
semana, a Operação “Câmbio, desligo” cumpriu 33 de um total de 46 mandados de
prisão preventiva e 53 de busca e apreensão em quatro estados e no Distrito
Federal. Objetivava desmontar uma rede de doleiros, especializada em lavagem de
dinheiro e evasão de divisas. O esquema permitiu um giro de US$ 100 milhões em
um esquema ilícito paralelo aos sistemas bancários oficiais. Afinal, crime
pequeno é bobagem.
Pensando em hoje e
ontem, recordo Israel Pinheiro, a quem visitei no dia do seu aniversário, em
janeiro, em sua modesta casa em caeté, dias antes da posse. Chovera muito e a
estrada em construção, que liga a BR-381 à cidade, estava uma lástima. Chegamos
à residência em um estado de dar dó, sujos de lama, inclusive o sobrinho do
eleito, Raul Bernardo, futuro secretário de governo, que conosco se encontrava.
Almoço: feijão, arroz, angu e couve.
Pois bem, fui o
último assessor de imprensa de Israel. Constava que, após ser o grande esteio
da construção de Brasília, estava rico e se falava abertamente da fortuna que
acumulara. Quando saiu do Palácio da Liberdade, tivemos de fazer uma vaquinha
para comprar-lhe um automóvel, porque não tinha dinheiro disponível para
adquirir um para uso pessoal.
Pois bem. César
Prates, companheiro de todas as horas de Juscelino, conta (e Ronaldo Costa
Couto, confrade na Academia Mineira de Letras, escreve) que Israel era ótimo.
“Qualquer coisa que a gente perguntasse para ele, ouvia primeiro um não...
Muito simples e honesto. Certa vez, vi dona Coracy (a esposa) costurando uma
calça que ele usava muito. Fiquei pensando: o homem tem tudo na mão e a mulher
costurando a calça dele?”.
Antes, surgira na
imprensa a notícia de suspeita de uma importação ilegal na pasta da
Agricultura, de que era titular seu amigo Evaristo. O governador me chamou e ao
secretário de Educação José Maria Alkmim. No terceiro andar do Palácio dos
Despachos, deu a ordem: “Você e o Alkmim preparem um pedido de demissão para o Evaristo
assinar. Façam um ‘enterro de primeira classe’!”. Assim se fez.
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