Aguardemos próximos capítulos
Manoel Hygino
Uma semana que
inquietou nações de três continentes. Na Ásia, a ex-presidente da Coreia do Sul
Park Gueun-hye foi condenada a 24 anos de prisão por corrupção, encerrando a
carreira da primeira mulher eleita chefe de Estado. Julgada e considerada
culpada de vários crimes, entre os quais abuso de poder e de relações ilícitas
com poderosos grupos empresariais, em março de 2017 foi destituída e presa por
tribunal e condenada ao pagamento de multa equivalente a quase 17 milhões de
dólares. O Sérgio Moro de lá se chama Kim Se-Yoon, que na sentença baixara o
tempo de reclusão de 30 anos da ex-presidente, pedido pelo Ministério Público.
Na riquíssima África
do Sul, após a morte de Winnie Mandela, viúva de Nelson Mandela, a mais alta
expressão da luta pela independência e fim do apartheid, o ex-presidente Jacob
Zuma foi levado ao Tribunal Superior de Durban, acusado de suborno em aquisição
de armamentos a vários fabricantes no exterior, somando em torno de 16 bilhões
de dólares, ou seja, cerca de 4,2 bilhões de euros. Sem contar os fabricantes
de eletrônicos.
Abandonando a
presidência, após extenso confronto com Cyril Ramaphosa, líder do poderoso
Congresso Nacional africano, cuja meta principal era a luta contra a corrupção,
Zuma protestou, em Zulu, contra “algumas pessoas que querem tratar-me como
culpado”. Nas ruas, grupos protestavam: “não mexam com Zuma”.
No Brasil, houve
ex-presidentes presos e exilados. O primeiro, porém, levado à Justiça,
inclusive à decisão do Supremo Tribunal Federal, foi Luís Inácio Lula da Silva,
eleito por dois mandatos, que cumpriu, mas respondendo a outros processos em
tramitação. O tumultuoso caso do apartamento em Guarujá, lhe valeu 12 anos e um
mês de prisão após a não concessão do habeas corpus apresentado pela defesa,
com o apertado placar de 6 a 5.
Fez-se a
transferência para Curitiba, não tão tranquilamente como poderia ter sido, mas
como também se admitiria. O que se pode dizer, contudo, é que o ex-presidente
escolheu mal o alvo de seus ataques no discurso na porta do Sindicato dos
Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, contra o Judiciário e a imprensa.
Em certo ponto,
declarou: “não posso ir contra a opinião pública porque a opinião pública está
pedindo para cassar”(?). “Quem quiser votar com base na opinião pública largue
a toga e vai ser candidato. Ora, a toga é um emprego vitalício. O cidadão tem
de votar apenas com base nos autos do processo”.
Adiante, argumentou:
“quantos mais dias me deixarem lá (na prisão), mais Lulas surgirão neste país.
Estou fazendo algo muito consciente’. Sempre ameaças : “a história vai daqui a
alguns dias provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, o juiz
que me julgou e o Ministério Público que foi leviano. Vou de cabeça erguida e
vou sair de peito estufado de lá”.
Enquanto jornalistas
eram hostilizados em São Bernardo, o apartamento, em Belo Horizonte, da
ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, era pichado por militantes. Dá o que
pensar. E temer.

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