Uma questão de fé
Manoel Hygino
Os elogios em alguns
dos maiores jornais dos Estados Unidos, a começar pelo “New York Times”, que o
classificou como best-seller nº 1, são um chamativo à leitura de “A vida e a
época de Jesus de Nazaré”, no Brasil editado pela Zahar. O autor é Reza Aslan, nascido
no Irã, de família muçulmana, transferido para os Estados Unidos, onde se
formou em Harvard e na Universidade da Califórnia.
Tornou-se
especialista em temas religiosos, estudou o Novo Testamento, o grego bíblico,
história, sociologia, para enfim produzir algo de interesse e que poderia,
talvez, influenciar uma aproximação de povos, tão marcados pela incompreensão e
por divergências que geram o fanatismo. Na nota inicial, Reza diz que, quando
tinha quinze anos, encontrou Jesus.
Este o verbo -
encontrar. Em seguida, explica-se: “Há 2 mil anos, disseram-me, em que uma
terra antiga chamada Galileia, o Deus do céu e da terra nasceu na forma de uma
indefesa criança. A criança cresceu e tornou-se um homem sem faltas. O homem
tornou-se o Cristo, o salvador da humanidade. Por meio de suas palavras e ações
milagrosas, ele desafiou os judeus, que se acreditavam os escolhidos de Deus e,
em troca, os judeus o pregaram em uma cruz... Sua morte é o ponto central de
tudo, pois seu sacrifício salvou todos nós do peso de nossos pecados. A
história, contudo, não terminava aí, porque três dias mais tarde ele
ressuscitou grandioso e divino, de maneira que agora todos os que acreditam
nele e o aceitam em seus corações também jamais morrerão e terão vida eterna.”.
O autor confessa
dificuldades para elaboração de seu livro: escrever uma biografia de Jesus de
Nazaré não é como escrever uma de Napoleão: parece a montagem de um
quebra-cabeças enorme, com apenas algumas peças na mão; o grande teólogo
cristão Rudolf Bultmann dizia que a procura pelo Jesus histórico é, no fim
das contas, uma busca intensa, pessoal, íntima. Os estudiosos se inclinam a ver
o Jesus que querem ver. Frequentemente veem a si próprios, como reflexo na
imagem que construíram de Jesus.
Em pouco mais de 300 páginas,
Reza consegue uma ampla reconstrução do tempo de Jesus e de sua personalidade,
que varia segundo cada um, cristão ou não. O personagem, grandioso, é também
polêmico, e o escritor faz uma análise ampla e profunda dos Evangelhos. É
também didático, pretendendo ser isento, pesquisou e quer informar, parecendo
ansioso por transmitir o que conseguiu em seus estudos e transmiti-los límpidos
ao leitor.
Ao confluir a
apresentação, observa: “De fato se nos comprometermos a colocar Jesus
firmemente dentro do contexto social, religioso e político da época em que
viveu – uma época marcada por uma persistente revolta contra Roma, que iria
transformar para sempre a fé e a prática do judaísmo, então, de certa forma,
sua biografia se escreve por si própria”.
A conclusão: "O
Jesus que é revelado nesse processo pode não ser o Jesus que esperamos, e ele
certamente não será o Jesus que os cristãos mais modernos reconheceriam. Mas,
no final, ele é o único Jesus que podemos acessar por meios históricos. Todo o
resto é uma questão de fé
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