UFMG
desenvolve vacina inédita no mundo que promete matar o 'Aedes aegypti'
Rosiane Cunha
Rodolfo Giunchetti
em laboratório no ICB: pesquisa inédita no mundo que mata o Aedes aegypti
Uma vacina que mata
o 'Aedes aegypti', mosquito transmissor da dengue, zika,
chikungunya, febre amarela e mayaro, desenvolvida no Instituto de Ciências
Biológicas (ICB), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está em fase
de testes e a patente foi registrada no início de 2018. Coordenada
pelo professor Rodolfo Giunchetti, os estudos representam uma vantagem
tecnológica para o Brasil, uma vez que combater o mosquito é mais eficaz
do que vacinar a população contra cada uma das doenças que ele transmite.
O estudo está
em fase de testes em macacos e o próximo passo são os estudos em
humanos. Esses testes buscam demonstrar que a vacina é segura, não tem
efeitos colaterais significativos e provoca alterações no inseto. Mas, o que
falta agora é dinheiro. "Todas as etapas podem ser feitas na UFMG, nós
temos a capacidade técnica, intelectual e estrutural, mas precisamos de
investimentos para seguir em frente", ressalta Giunchetti.
A vacina age da
seguinte forma: a pessoa que receber a dose cria anticorpos contra o mosquito e
quando picada, esses anticorpos matam o mosquito. A vacina não protege
individualmente contra as doenças (dengue, zika, chikungunya, febre amarela e
mayaro), isso significa que o indivíduo picado, pode sim contrair essas
doenças. No entanto, pensando coletivamente, se toda a população for vacinada,
ocorre o controle do mosquito e, consequentemente, das doenças.
A pesquisa começou a
partir da tese de doutorado, sob a supervisão de Giunchetti, da também
pesquisadora Marina Luiza Rodrigues Alves. “Ela observou que um terço dos
insetos que picava animais imunizados morria imediatamente”. E, ao acompanhar o
ciclo completo do inseto, a pesquisadora constatou redução significativa no
número de ovos e baixa viabilidade das pupas, que se desenvolveram mal ou
morreram. “Foi possível perceber uma redução de cerca de 60% no ciclo do
Aedes”, explica o professor.
A ideia dos
pesquisadores é acabar com o transmissor e evitar a necessidade de desenvolver
uma vacina para cada tipo de doença . "Se a proposta tem a desvantagem de
não imunizar o indivíduo contra arboviroses, que são as viroses transmitidas
por insetos, a chance do mosquito morrer é bastante alta, assim como de
reduzir sua reprodução. Além disso, a formulação desenvolvida pelo grupo de pesquisa
poderia ser associada a vacinas convencionais, como a da dengue", revela.
O professor enfatiza
ainda que quem receber essa vacina não estará imunizado contra todas as
viroses, mas o componente vai ajudar a eliminar o mosquito, o que, em
última instância, provoca o fim dessas doenças, por falta do principal elo de
transmissão.
Ele explica que o
Aedes aegypti tem a capacidade de se alimentar em vários hospedeiros: “A fêmea
pica em busca do sangue, necessário para o amadurecimento do ovário e a
produção de ovos”. Ela digere o sangue, coloca os ovos e volta para se
alimentar em outra pessoa ou na mesma. O ensaio pré-clínico foi feito em
camundongos, que, após receberem a vacina, produziram anticorpos capazes de
induzir alterações na homeostasia do inseto, resultando em desequilíbrio
fisiológico de alto impacto.
A pesquisa é
financiada, em parte, por parceria firmada entre Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Ministério da Saúde. Na UFMG,
conta com a participação de professores dos departamentos de Morfologia,
Rodolfo Giunchetti e Walderez Dutra e de Parasitologia, Daniella Bartholomeu,
Ricardo Fujiwara, Nelder Gontijo, Marcos Pereira, Mauricio Sant’Anna e Ricardo
Araújo. Também participam William Borges, da Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP), Rodrigo Correa-Oliveira e Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz
(CPqRR-Fiocruz), e Paulo Ho, do Instituto Butantan.
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