Um compromisso irrevogável
Manoel Hygino
Não surpreende. É
até edificante, quando não comovente, conhecer o número de pessoas que, neste
país continental e nesta nação tão desnecessariamente conturbada, se dispõem a
candidatar-se à presidência... da República, é claro. São heróis por antecipação,
que se julgam publicamente capazes de enfrentar as adversidades da hora e de
sempre para conduzir o Brasil a uma fase de ordem e de progresso, como
estampado na bandeira nacional – substantivos que inúmeros sequer sabem
inscritas no lábaro.
Em período de tantos
e tamanhos desencontros da história, quando há uma densa penumbra envolvendo
fatos e personagens de influência nas decisões maiores; quando os tribunais não
encontram espaço nas pautas para julgamento; quando se adota compreensível
cautela com relação a até membros da alta magistratura; quando o crime se
estendeu as mais distantes regiões do território é no mínimo alentador
constatar que homens tão probos pretendem laborar em favor da pátria.
São homens nascidos,
criados e formados neste país, em que também nascemos e nos formamos.
Certamente têm condições de competência, dignidade e de sabedoria,
imprescindíveis à hora. Devem alimentar-se de sinceras e sadias convicções e de
consciência, como Rui Barbosa se referia ao ideal. Refiro-me ao ideal, que “não
se define: enxerga-se por clareiras que dão para o infinito; o amor abnegado; a
fé cristã; o sacrifício pelos interesses superiores à humanidade; a compreensão
da vida ao plano divino da virtude; tudo o que alheia o homem da própria
individualidade, e o eleva, o multiplica, o agiganta, por uma contemplação
pura, uma resolução heroica, ou uma aspiração sublime”.
Nesta grave fase da
vida nacional, quando há temor nas ruas e nos lares, quando a força armada do
Estado por seus vários componentes é convocada a sair em defesa das
instituições. O brasileiro terá que, na mais de dezena de nomes arrolados para
postular a presidência, escolher o que mais convém à nobilíssima causa, não se
esquecendo de que a riqueza não prospera em solo abalado por convulsões políticas.
Na história,
passamos por extensos períodos de ditaduras e governos fortes, felizmente
superados após ingentes sacrifícios. É preciso preservar a reconquista, e
evidentemente os que se candidatam pensarão em atender às mais alentadas
demandas e reivindicações de um povo, que ainda navega em águas turvas.
Já que lembramos Rui
Barbosa, é bom pensar com ele que pelas eleições se evitam as revoluções.
Revoluções e eleições são os dois meios de remover os maus governos. O povo que
elege, não se revolta. Aguarda a operação eleitoral para ter governo que lhe
sirva.
O brasileiro que irá votar – e quantas vezes terá errado! – sabe que não pode equivocar-se novamente, sob a certeza de que penas mais pesadas o punirão. A eleição corresponde a uma decisão, que envolve toda a comunidade, todos os seus entes, por um período extenso, que pode causar mais penúrias e dores, se cometido equívoco.
O brasileiro que irá votar – e quantas vezes terá errado! – sabe que não pode equivocar-se novamente, sob a certeza de que penas mais pesadas o punirão. A eleição corresponde a uma decisão, que envolve toda a comunidade, todos os seus entes, por um período extenso, que pode causar mais penúrias e dores, se cometido equívoco.
Deve ter chegado a
hora do apelidado “voto consciente”, que não visa agradar o eleito, em
detrimento dos interesses de todos e de cada um. Não se deve abrir mais espaços
para elites, cujo comportamento se identifica nos danos cotidianos. O ciclo em
que nos debatemos exige, antes de tudo, um compromisso moral.

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