Com críticas
às mazelas sociais, Beija-Flor é a campeã do Carnaval do Rio
Estadão Conteúdo
Integrantes da
escola de samba Beija-Flor de Nilópolis comemoram o título de campeã do
carnaval de 2018
A escola de samba
Beija-Flor de Nilópolis é a grande campeã do Grupo Especial do carnaval 2018 do
Rio, com um enredo sobre as mazelas do Brasil, com destaque para a corrupção.
Com 269,6 pontos na apuração, a Beija-Flor ficou apenas um décimo à frente da
Paraíso do Tuiuti, escola que desfilou com um enredo também de conotação
política, com críticas à reforma trabalhista e ao presidente Michel Temer,
retratado como vampiro.
O cantor Neguinho da
Beija-Flor, principal intérprete da escola de Nilópolis, na região
metropolitana do Rio, disse que a crítica social foi o destaque da escola que
encerrou os desfiles da segunda-feira de carnaval. "A crítica do que
acontece no nosso País, a desigualdade (foi o melhor da escola). Muitos sem
nenhum e poucos com muitos", disse Neguinho, ainda na Praça da Apoteose,
onde as notas dos jurados são lidas na cerimônia de apuração.
O tom de protesto
tomou conta da cerimônia de apuração. Enquanto as notas das escolas de samba
eram lidas pelo locutor da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), com
transmissão ao vivo na tevê, foram entoados, algumas vezes, gritos pedindo
"Fora Temer".
Completando 70 anos
neste 2018, a Beija-Flor, que a cada ano se supera nos quesitos luxo e
imponência, fez um desfile atípico. Crítica das mazelas brasileiras, a
apresentação em alguns momentos remeteu o público que acompanha carnaval ao
histórico "Ratos e urubus, larguem minha fantasia" (1989), do carnavalesco
Joãosinho Trinta (1933-2011) - que tratava de luxo, lixo, pobreza e festa e até
hoje é um dos mais lembrados da história do sambódromo.
A escola fez um
paralelo entre o Frankenstein, de Mary Shelley, personagem que está completando
200 anos, e os "monstros nacionais": a corrupção, as agressões à
natureza, o uso indevido de impostos, as disparidades sociais. Foram retratados
favelas com traficantes "armados", brigas de casal e até uma mãe
velando um filho policial morto. A chamada "farra dos guardanapos",
episódio do esquema de corrupção do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB),
foi encenada.
Componentes vestidos
de pastores evangélicos, católicos e muçulmanos se juntaram contra a
intolerância religiosa. Pablo Vittar foi destaque no carro anti-LGBTfobia. No geral,
a plateia comprou o discurso de indignação da escola de Nilópolis, na Baixada
Fluminense, que encerrou sua passagem com a simulação de uma passeata popular,
seguida pelo público saído de frisas e camarotes.
O coreógrafo da
comissão de frente da Beija-Flor, Marcelo Misailidis, disse que a vitória da
escola foi "a vitória da arte". "De certa forma, é uma vitória
da arte e de uma coisa importante, que luxo não é botar pluma, é dar voz ao
povo, à cultura. Resgatar a dignidade desse País", disse.
Já a Paraíso do
Tuiuti, alçada ao grupo de elite das escolas de samba do Rio em 2017, após
vencer a segunda divisão em 2016, discorreu, no primeiro dia de desfiles, sobre
a escravidão no Brasil e defendeu a ideia de que ela ainda não acabou, apenas
mudou de forma.
O carnavalesco Jack
Vasconcelos partiu dos navios negreiros do século XVI e chegou ao
"cativeiro social" dos dias de hoje, marcado por desigualdades
sociais e precarização do trabalho. As últimas alas e o último carro alegórico,
bastante aplaudidos, faziam críticas à reforma trabalhista e traziam a imagem
do presidente Temer como vampiro.
Veja o resultado final da apuração:
1º Beija-Flor de -
269,6
2º Paraíso do Tuiuti
- 269,5
3º Salgueiro - 269,5
4º Portela - 269,4
5º Mangueira - 269,3
6º Mocidade - 269,3
7º Unidos da Tijuca
- 269,1
8º Imperatriz
- 268,8
9º Vila Isabel -
268,1
10º União da Ilha -
267,3
11º São Clemente -
266,9
12º Grande Rio -
266,8
13º Império Serrano
- 265,6
(* Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)

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